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A quebra da família tradicional norte-americana

[tempo de leitura: 4 minutos]

“One Day At A Time” busca um tom mais leve e frágil para levantar questões importantes de serem discutidas, em uma terceira temporada inferior as anteriores.


Nota da Colab: este texto contém spoilers.


Imagine um retrato de uma típica família norte-americana. Agora substitua por uma mãe ex-militar divorciada, uma filha lésbica, um filho latino e uma avó imigrante cubana. Essa é a receita perfeita e incomum que deu origem a (nova versão da série) One Day At A Time. Produzida pela Netflix e lançada em 2017, a produção é um reboot da sitcom de mesmo nome, originalmente lançada em 1975. Ambientada na cidade de Los Angeles, esta versão retrata o cotidiano da família cubano-americana Alvarez, formada por Penelope (Justina Machado), Elena (IsabellaGómez), Alex (Marcel Ruiz) e Lydia (Rita Moreno).

Justina interpreta uma veterana do corpo de enfermagem do exército dos Estados Unidos, com o desafio de criar seus dois filhos após se divorciar do seu marido alcoólatra. A matriarca conta com a ajuda de sua mãe Lydia, uma imigrante que deixou Cuba durante a ditadura de Fidel Castro – em um episódio histórico conhecido como Operação Pedro Pan, um êxodo em massa de mais de 14 mil cubanos menores de idade desacompanhados. A filha mais velha, Elena, é extremamente engajada em causas sociais, diferente de seu irmão, Alex, que ainda tem muito a aprender com os problemas da adolescência e passa grande parte do tempo sendo mimado por sua avó.

Outros personagens acabam integrando o ambiente familiar do apartamento dos Alvarez. Um deles é Schneider (Todd Grinnell), canadense e síndico do prédio, que acaba assumindo uma imagem paternal para Elena e Alex e é um dos maiores alívios cômicos da série. Além dele há o Dr. Leslie Berkowitz (Stephen Tobolowsky), chefe de Penelope, que assume a posição de “fiel escudeiro” de Lydia e acaba por tornar os desastres da sua vida, em especial a difícil relação com sua filha, em algo tragicômico.

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Na primeira temporada, o grande enfoque é a questão LGBTQI+ por meio do arco de Elena, que se assume lésbica para a família, posteriormente precisando lidar com todo o processo de aceitação por parte de seus parentes (e dela mesma). Já na segunda temporada, assuntos como depressão, xenofobia e a relação dos imigrantes nos EUA são trabalhos na série em grande profundidade, sempre de uma forma leve e educativa.

Após ser ameaçada de cancelamento, One Day At A Time conseguiu ser renovada para uma terceira temporada, principalmente graças ao apoio dos fãs nas redes sociais. Com a sequência garantida, o novo ano levantou diversas questões pertinentes na sociedade, como, por exemplo, a ansiedade e o alcoolismo. No entanto, apesar de manter a variação entre o drama e o humor, é notável uma escassez de fôlego em relação ao desenrolar as temáticas, com algumas discussões extremamente rasas e que rodeiam o humor escrachado.

A temporada não tem uma linha cronológica bem definida, com episódios que parecem independentes uns dos outros, em que a duração do castigo do Alex e a “bouquet list” de Lydia são alguns dos pequenos detalhes que estabelecem uma conexão e conseguem nos localizar no tempo. Dessa forma, os temas abordados acabam soando avulsos e pouco desenvolvidos nos 25 minutos de cada episódio. Ainda, o peso dramático dado a cada um destes assuntos não possui um devido balanceamento, tendo questões como o alcoolismo de Schneider sofrendo com a falta de aprofundamento, enquanto simples conflitos entre irmãos são excessivamente dramatizados, beirando a exaustão.

Mesmo com decaídas na nova temporada, ainda restam elogios à One Day At A Time, principalmente no quesito atuações. A começar por Justina Machado, que merece grande destaque por ainda conseguir estabelecer a ponte perfeita entre o cômico e o dramático, sem causar um efeito brusco e “novelesco”. Mas a premiada Rita Moreno é quem consegue roubar o foco da série em todos os segundos de aparição na tela. Desde sua primeira entrada teatral em meio às cortinas, a atriz transparece naturalmente à fidelidade cubana de Lydia, especialmente no seu sotaque forte – e ainda há, é claro, as diversas entregas das melhores tiradas da série.

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Entre os principais destaques da nova temporada estão também às participações especiais, que contam com duas atrizes já bem conhecidas pelo público das sitcoms: Melissa Fumero e Stephanie Beatriz, ambas da série Brooklyn Nine-Nine, além da intérprete da música-tema da série, a veterana cantora cubana Gloria Estefan. Além disso, o roteiro dá mais espaço para a terapia em grupo da qual Penelope participa, tornando este espaço um refúgio da personagem para tratar sobre seus problemas pessoais e questões familiares.

One Day At A Time se arrisca – e faz isso muito bem – ao misturar o drama com a comédia, em uma abordagem mais leve e um humor mais fraco que o de temporadas anteriores. Mas é sempre de suma relevância ressaltar a importância da sitcom, que trata de pautas extremamente pertinentes nos dias atuais, estimulando diversas reflexões ao mesmo tempo que entretém. Além disso, a produção consegue se destacar no meio da grande maioria de concorrentes, que repetem a mesma fórmula e muitas vezes não conseguem passar da supercialidade e entreguem (muito) menos do que o planejado.

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Na imagem, da esquerda pra direita: Melissa Fumero, Gloria Estefan, Rita Moreno, Justina Machado e Stephanie Beatriz, em cenas do primeiro episódio da terceira temporada.

Uma coisa é certa: não há como assistir One Day At A Time sem se identificar com as personagens ou com os próprios conflitos de gerações vividos entre eles. A vida dos Alvarez tem conquistado um público cada vez maior, que se sente extremamente acolhido e representado no cotidiano da família cubana. Que venha uma próxima temporada!


18 anos. Jornalista em formação. carinha de tímida mas se começar a falar não para mais. amante da Sétima Arte e com um gosto musical que varia entre Beyoncé e AC/DC.

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