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"Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars" revela a disputa em que vencer é apenas um detalhe menos importante que o processo.

“Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars” revela a disputa em que vencer é apenas um detalhe menos importante que o processo.


PPode parecer estranho, mas do meio do filme para lá percebemos que aquela não é uma narrativa sobre uma competição musical apenas. Estou falando de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars, lançado recentemente na Netflix, que tem como pano de fundo o famoso festival europeu anual Eurovision da Canção. A comédia musical parte da dupla islandesa Lars e Sigrit, interpretados por Will Ferrell e Rachel McAdams respectivamente, tratando do sonho em vencer um tradicional evento, para lançar reflexões sobre amor, reconhecimento, cumplicidade e a importância de descobrir a si próprio e o outro.

https://www.youtube.com/watch?v=jtl5wM5dMt4

EVENTO ANUAL
O longa vem à luz no primeiro ano, desde 1956, em que o Eurovision não é realizado. Previsto para acontecer em Rotterdam, na Holanda, o festival foi cancelado por causa da pandemia e reprogramado para a mesma cidade, em 2021.

 

EUROVISION

Em um primeiro instante, a experiência cinematográfica de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars pode se mostrar boba, batida, monotemática e se tratar de mais um filme que tem no humor sua principal ferramenta e base de sustentação. Porém, com desenrolar das duas horas de projeção, vamos percebendo como o diretor se apropria da comédia para tratar, em um tom leve, de assuntos reflexivos e profundos.

Em tempos de pandemia, de notícias duras, relatos fortes a todo o momento, esgotamento e miséria social estampados por todos os cantos, somos imersos em uma trajetória divertida e por vezes louca de uma dupla a procura de reconhecimento, mas que na verdade, precisavam conhecer a si mesmos e entender a relação que possuem.

Lars e Sigrit, “conhecidos” artisticamente por Fire Saga, partem com a ambição de alcançar algo maior e acabam descobrindo o vínculo forte com as raízes, a cidade pequena em que cresceram e formaram seus valores e personalidade na Islândia. Ainda, precisam lidar com os familiares e amigos que demonstram não acreditar em seus potenciais artísticos e aspirações, o que depois se transforma em apoio.

Fato é que os dois precisaram experimentar partir em busca de algo maior para reconhecer que a felicidade e a realização estavam mais próximas do que pensavam, faltava apenas enxergar o que realmente importava, a relação sólida e próxima que foram construindo e fortalecendo ao longo do tempo.

 

CONSTRUÇÃO

A produção de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars aposta muitas vezes na introdução de efeitos para contribuir no tom cômico/absurdo, uma linha tênue que se faz presente durante todo o filme. A escolha, experimental e confusa, demonstra a vontade de levar ao público uma fuga da realidade, para ter contato através das cenas com momentos difíceis de acontecer na realidade.

Além disso, Eurovision não foge também dos estereótipos ao representar os islandeses como um povo rústico, baseado no sotaque característico do inglês regional e a crença em elfos, que prometem cenas cativantes mas entregam uma relação forçada pelo místico e relações além da dimensão corporal.

Assim, a aposta se prende a certos aspectos culturais e emotivos que limitam as possibilidades do filme e a interação do espectador com este, passando a apresentar a sucessão de musicais empolgantes e desordem dos protagonistas que em momentos cansa, mas se vale e continua prendendo pela mensagem que fica, principalmente ao final do espetáculo. A saga dos dois músicos em busca de algo fala e toca para além da música, atingindo seu ápice quando, na final do evento, Fire Saga realmente se encontra com as suas raízes e cantam também no próprio idioma, revelando ao mundo o orgulho e o pertencimento de onde vieram – além do amor que mantiveram os dois unidos apesar das confusões.

Certamente, o lançamento da Netflix desafia o observador pela sensibilidade, para se conectar através do íntimo e da sensibilidade, capazes de promoverem o encontro entre a obra e o público. Por outro lado, se você se concentrar na disposição e composição do longa apenas, pode achar fraco e sair decepcionado.

Assistir Eurovision é se permitir envolver pelo riso e embarcar nas trapalhadas de uma dupla, ou melhor, um potencial casal que foi buscar longe o que estava perto e ainda, voltou mais unido e com histórias para contar. Ao fim percebemos que o reconhecimento muitas vezes é apenas questão de vaidade e o real sucesso passa por verdade, honestidade e conexão, consigo mesmo e com o que acreditamos.

PARTICIPAÇÃO
Com a trilha sonora disponível no Spotify, Eurovision marca também a volta de Demi Lovato às produções cinematográficas após uma pausa de dez anos na atuação, desde Camp Rock 2: The Final Jam. A artista dá vida a Katiana, uma personagem de destaque na trama, e a escolha é simbólica por Demi estar lidando nos últimos tempos com conflitos pessoais e se redescobrindo consigo mesma.

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