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"Vingadores: Ultimato" é muito bem construído, em uma dinâmica de cheia de suspiros de humor e um drama verdadeiramente tangível.

“Vingadores: Ultimato” é muito bem construído, em uma dinâmica de cheia de suspiros de humor e um drama verdadeiramente tangível.


NNo dia 28 de dezembro de 1895, o Grand Café de Paris recebeu o que é considerada a primeira exibição pública de um filme, acontecimento calcado como o nascimento do Cinema. Apesar de restrita a poucas pessoas, a exibição proposta pelos irmãos Auguste e Louis Lumière tornou-se um marco inegável e memorável para o mundo e, obviamente, para a Sétima Arte. O que se conta desta ocasião é que durante a exibição do filme A Chegada de um Trem à Estação, o público se desesperou com a imagem de um trem se movimentando em direção à tela, levando-os a histeria coletiva.

Com o passar do tempo, o Cinema se tornou não só uma forma de arte reconhecida, mas uma das principais expressões artísticas e culturais da contemporaneidade, se afirmando como uma das mais universais e populares no mundo. Alguns filmes e franquias específicos alcançaram o posto de fenômenos geracionais, trouxeram avanços na linguagem da Sétima Arte, revelaram nomes de grandes cineastas ou então reinventaram o próprio exercício do “fazer cinema”, marcando a história e contribuindo para o desenvolvimento desta forma de expressão.

Passados mais de 120 anos, é poético, e um tanto quanto romântico, perceber que um dos maiores acontecimentos cinematográficos da história desta ainda jovem arte também tem a assinatura de dois irmãos. Desta vez, Hollywood é o palco deste evento, capaz de proporcionar uma experiência catártica tão rica em sensações, emoções e impactante quanto à projeção do trem da dupla Lumière.

Sob o comando dos diretores Joe e Anthony Russo, além do trabalho criativo impressionante de Kevin Faige (presidente da Marvel Studios), Vingadores: Ultimato chega aos cinemas para muito mais do que encerrar os 11 anos de empreitada da Marvel nas telonas, mas entregar este desfecho como uma épica celebração do que foi toda esta construção deste Universo. Realizado com maestria, o filme crava sua importância como um dos acontecimentos históricos da Sétima Arte e um dos mais marcantes da cultura pop como um todo, devolvendo aos fãs todo o investimento emocional dado nos últimos anos.

A tarefa de falar a respeito de Ultimato é ao mesmo tempo prazerosa e muito difícil. Segurar a vontade de discutir os inúmeros momentos emocionantes, cenas hilárias, sequências envolventes e encontros empolgantes é imprescindível para não atrapalhar a experiência de quem assistirá ao filme pela primeira vez. Contudo, é absolutamente certeiro afirmar que independentemente de quantas teorias você leu, conjecturou, estudou e tentou procurar sobre a trama do longa, você será surpreendido.

É verdade, sim, que o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely conta em sua estrutura narrativa com teorias e suposições levantadas por fãs, assim como algumas escolhas batidas como solução para o principal conflito vivido pelos heróis. Mas, as surpresas que a dupla e os irmãos Russo preparam ao longo da projeção variam do chocante ao hilário, do emocionante ao melancólico, do violento ao fofo e da realização ao estado de êxtase.

Assim, o roteiro parte quase que imediatamente do ponto em que deixamos os personagens em Vingadores: Guerra Infinita (2018), acompanhando os sobreviventes do estalar de dedos de Thanos (Josh Brolin) tentando encontrar caminhos para seguir em frente ou para perceber uma alternativa de como reverter à situação. É interessante como o texto parte do “lidar com as consequências” como ponto de partida e como meio para desenvolver todos os arcos de personagens ao longo da projeção. É do último fio de esperança e da sensação melancólica de impossibilidade de seguir em frente que o roteiro encontra três temáticas para desenvolver em suas camadas: a imagem do herói clássico americano, a possibilidade de uma segunda chance e a noção de família como pertencimento de um grupo unido e afetuoso.

Os dois primeiros temas estão presentes no universo Marvel desde o começo, com Capitão América (Chris Evans) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) sendo as personificações destes conceitos. Enquanto Steve Rogers sempre representou o herói clássico americano, virtuoso e símbolo dos valores de uma cultura e de uma nação, o segundo sempre foi lembrado por ser o playboy filantropo e milionário que ganha uma segunda chance para se reinventar e mudar.

Em Ultimato, estes temas retornam para ambos os personagens de forma marcante, mas são expandidos também para todos os integrantes do grupo que ganham uma nova oportunidade para agirem e corrigirem erros ou reviverem seus sentimentos quanto às consequências do encontro com Thanos. E é da dor de perder pessoas próximas, sejam entes queridos ou também por laços de sangue, que temos o desenvolvimento da temática familiar neste quarto capítulo dos Vingadores. Uma família que se expande para além da tela e envolve os fãs; o espectador engajado e investido na jornada de 10 anos que enuncia um fim nas telas.

É muito importante dizer que para além de toda a celebração autorreferente proposta, extrapolando também os eastereggs, referências, resgate de momentos marcantes do passado e subversões hilárias de alguns personagens, Vingadores: Ultimato é um excelente filme. Somando-se a tudo que já foi dito, os roteiristas mantém a qualidade com que criam as dinâmicas de personagens pautadas no humor e química entre os atores, mas desta vez ainda tem um quê de melancolia e uma áurea mais pesada que torna estas relações ainda mais interessantes. As soluções para os arcos dos Vingadores originais fazem jus a tudo aquilo que eles representam para o público e para a Marvel, além de trazer mais peso para a narrativa, elevando a emoção que transborda das telas.

Outro ponto positivo a destacar é como o ritmo da narrativa é muito bem construído. Com um inicio melancólico, a trama se desenrola a partir da dinâmica de personagens com suspiros de humor e uma construção de drama verdadeiramente tangível, algo que em muitos dos filmes solos da Casa das Ideias não acontecia. As três horas de projeção passam com leveza e envolvem o espectador com uma apreensão magnética, subvertendo batidas esperadas da trama e levando para uma grande batalha que não se enuncia, mas que quando chega toma para si todos os cantos da tela do cinema.

Quando o grande clímax se apresenta frente ao público e aos heróis, a forma surpreendente como é preparado torna a experiência de acompanhar o embate entre os Vingadores e Thanos ainda mais especial. Neste momento, os irmãos Russo criam uma batalha nunca antes vista no MCU, com um escopo épico e glorioso antes inimaginável para um filme de super-herói. Direção e roteiro se unem para entregar aos fãs, possivelmente, a maior sequência de momentos grandiosos e capazes de aquecer o coração, arrancar lágrimas de satisfação, realização e, claro, emoção de qualquer um que esteja assistindo.

Junto disso, vêm toda a carga dramática e o peso da longa história que a Marvel construiu ao longo de 22 filmes. Juntos, culminam em um desfecho apoteótico, repleto de personagens, cores, texturas e poderes dos mais variados, todos perfeitamente trabalhados graças ao uso impecável da computação gráfica e do domínio em como usar os heróis em combate juntos, para progredir a narrativa.

Se dentro da temática e do próprio gênero existem heróis, o rosto de quem os vive também é importante na equação – e, neste sentido, a Marvel sempre teve sucesso em como escalar suas personagens. Chega a ser repetitivo enaltecer os trabalhos de nomes como Robert Downey Jr., Chris Evans, Scarlett Johansson, Chris Hemsworth e Mark Rufallo em seus papéis, mas o que cada um encontra para fazer com o fechamento dos arcos e das profundas marcações emocionais que cada um de seus heróis passa é fenomenal.

Downey Jr. e Evans, particularmente, seguram a barra do drama principal desta década de Marvel Studios, como os dois heróis que dividiram o epicentro deste universo. Hemsworth retorna a um Thor que continua abraçando sua caricatura e desconstrução desde Thor: Ragnarok (2017), enquanto Rufallo dá vida a versão mais interessante e engraçada do Hulk já vista nas telas. Scarlett Johansson ganha consideravelmente mais espaço para atuar neste filme e assegura alguns dos momentos mais fortes e marcantes do longa. Elogio este que se estende igualmente a Jeremy Renner e na sua penetrante, intensa e surpreendente versão do Gavião Arqueiro.

Para aqueles que não configuram a formação original da equipe, tem-se uma interessante dinâmica entre o Thanos de Josh Brolin e a Nebulosa de Karen Gillan, que se destaca ao trazer peso, traumas e cicatrizes emocionais profundas à personagem. Paull Rudd também merece elogios por escapar da zona de conforto do enorme carisma que emana, trazendo mais nuances e sentimentos mais sóbrios para o Homem-Formiga.

O grande desfecho proposto para o ciclo de 11 anos é lindo. As soluções e destinos dados a cada personagem fazem jus à essência de cada um, à suas identidades, personalidades e trajetórias como heróis e, porque não, pessoas que estão por baixo do manto. É inegável que Vingadores: Ultimato simboliza todo o fenômeno cultural que a marca Vingadores se tornou ao longo dos últimos anos, sendo um forte e importante marco para toda uma geração, para a Cultura Pop e para o Cinema.


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