
“Praça Paris”: Universos díspares que dialogam
“Praça Paris” é um filme cuja narrativa reflete sobre a desigualdade social brasileira e dá o espaço para Grace Passô brilhar como protagonista.
LLançado em abril deste ano, o longa Praça Paris ficou em cartaz até o começo de junho. É centrado, principalmente, na relação entre a terapeuta Camila, portuguesa de classe média alta, e a ascensorista Glória, que vive na periferia do Rio de Janeiro. É o 13º filme de Lucia Murat, que também assina o roteiro do longa, em colaboração com o escritor Raphael Montes. A obra conquistou o Prêmio Dom Quixote de Melhor Filme no Festival de Havana e foi selecionado para a Mostra Competitiva do Festival Internacional de Chicago e para o Festival Black Nights de Talin (Estônia).
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Praça Paris foi considerado pela crítica “uma tradução da tensão social” ou “um retrato urgente do abismo social brasileiro”. A disparidade entre as realidades das personagens principais, verossímeis e muito bem construídas, é ilustrada também pela desigualdade da própria cidade do Rio de Janeiro, cenário do longa. A UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) é o ponto de encontro entre as duas protagonistas, já que é o ambiente de trabalho de ambas: uma exerce a função de ascensorista, enquanto a outra é pesquisadora.

Para o site Adoro Cinema, a diretora Lucia Murat comentou: “O filme trabalha sobre o medo e a paranoia numa relação entre duas pessoas com histórias e classes sociais diferentes. O medo do outro me parece algo implantado na sociedade brasileira hoje. E a partir desse medo sabemos que injustiças, agressões, mortes violentas acontecem, como no filme, um thriller que trabalha a intimidade dos personagens” .
O olhar da terapeuta Camila, mesmo que inconscientemente, é um olhar colonizador, de uma mulher branca, portuguesa, que vive em um bairro nobre do Rio. Glória, sempre sincera, identifica esse comportamento em Camila. A relação das duas se aprofunda no decorrer da narrativa e apresenta tensionamentos. O final de Praça Paris surpreende e levanta uma série de questões. É, sem dúvidas, um filme que causa incômodo no espectador, além de suscitar reflexões sobre a desigualdade social do Brasil e os conceitos de lugar de fala/lugar de escuta.