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Preso entre o desnudamento da figura e a exposição segura, "Neymar: O Caos Perfeito" cresce nos momentos de tensão da vida íntima do jogador.

Preso entre o desnudamento da figura e a exposição segura, “Neymar: O Caos Perfeito” cresce nos momentos de tensão da vida íntima do jogador.


AA curiosidade é inerente ao ser humano – tanto que a popular fofoca faz muito sucesso em diversos círculos sociais. Até um certo ponto é normal você querer saber mais sobre algo (ou alguém) que está em evidência. Essa linha simples de raciocínio não se altera quando o assunto são as celebridades.

Ator, atriz, cantor, cantora… vários famosos despertam o interesse em relação às suas particularidades. Neymar da Silva Santos Júnior, ou só Neymar, não foge a essa regra. Principal jogador do esporte mais popular de um país de dimensões continentais, o atleta é tema da série documental Neymar: O Caos Perfeito disponível na Netflix.

A série é dirigida por David Charles Rodrigues e tem produção executiva assinada por LeBron James e Maverick Carter. James e Carter já assinaram outra produção nessa mesma linha de conversar sobre intimidades de grandes personalidades: The Shop (disponível no HBO Max). São três episódios que trazem Neymar de uma forma que nunca foi mostrada antes. A série não busca trazer uma glorificação do atleta e o retrata como uma pessoa como “qualquer outra”, no sentido da construção de personalidade. Alguém que, desde muito novo, carregava consigo uma responsabilidade enorme pelo talento que demonstrava na profissão que desejava seguir.

Chama atenção um quadro que Neymar ostenta em um dos cômodos da sua casa. Na arte, o atleta tem seu rosto pintado meio a meio com Batman e Coringa, uma das duplas mais consagradas da história do universo pop. O próprio diretor da série afirma que aquele quadro chamou muita atenção porque demonstrava a noção que Neymar tinha sobre a sua “dualidade”.

Por vezes esperamos que pessoas em destaque sejam heróis. Não no sentido cinematográfico, mas alguém que busque usar da sua posição de privilégio para tentar diminuir desigualdades e lutar por causas sociais – caso de outros esportistas como Lewis Hamilton, Naomi Osaka e Simone Biles. Neymar não se propôs seguir esse caminho, desejou ser alguém como Michael Jordan, que se manteve à parte de situações políticas e focou na sua melhor versão como atleta. E é usando o fio da meada da vida de atleta que o documentário explora a vida de Neymar.

Desde o surgimento como fenômeno de categorias de base até ser responsável pela maior transferência da história do futebol, o documentário retrata todo caminho percorrido do atleta Neymar. Esse fio condutor é o ponto mais interessante da série, mostrando todo o caminho percorrido pelo jogador dentro dos campos.

Contudo, como acontece na maior parte do documentário, a história é contada deixando algumas pontas soltas. É claro, mostra-se a transferência milionária do Barcelona-ESP para o PSG-FRA, mas não se comenta sobre a maneira escusa que o jogador deixou o Santos-BRA para jogar no clube espanhol. Tampouco tem uma revelação do real motivo que fez o brasileiro partir da Catalunha para Paris. A série mostra um Neymar aberto sobre as suas frustrações e felicidades no campo, o problema com lesões e as decepções em função disso, contudo o documentário não retrata em sua totalidade dimensões importantes dos acontecimentos.

A vida pessoal de Neymar também é retratada no documentário. Desde a declaração “Estamos criando um monstro” até o arquivamento da denúncia de estupro feita por Nagjila Trindade, o documentário passa, também sem se aprofundar, em todos os casos. Alguns casos de agressões também são relatados e Neymar comenta sobre todas as situações. Contudo, falta no atleta e nas falas do seu staff algo mais verdadeiro. Neymar e os membros da sua empresa passam pelas situações sem demonstrar, às câmeras, algum tipo de aprendizado real com as situações vividas pelo craque. É deixada de lado a acusação de assédio que foi divulgada em 2021, por exemplo.

Apesar de mostrar muito da relação cotidiana com o filho, Davi Lucca, falta um tempo maior para explorar a construção de relações pessoais do jogador – relacionamento com amigos, família, e a fama de “festeiro”, por exemplo. É outro ponto que deixa a desejar com a sensação que falta “algo mais”. Pelo caminho que a série toma é acertada a decisão de não trazer para tela questões sobre relacionamentos amorosos do atleta.

O que não falta no documentário é a presença do pai do jogador. Neymar, o pai, aparece mais do que o desejável. Ele é figura atuante na vida do filho, primeiro como empresário do atleta e depois como presidente da marca que cuida da imagem do jogador. A preocupação com a opinião pública é algo que o pai não esconde, apesar de, em certo momento, Neymar Júnior falar “foda-se o que vão pensar de mim”. Aqui também há um acerto da direção da série em retratar como a relação carinhosa entre pai e filho se desgasta a ponto de se tornar apenas profissional – com ambas partes admitindo isso.

Um dos principais pontos de tensão do documentário é quando Neymar e seu pai brigam e o jogador fala que sempre acata as falas, uma vez que o pai não aceita e nem gosta de ser confrontado. A maior parte das declarações do “Neymar pai” são visões de mercado e falas vazias quanto a valorização da marca Neymar – algo que poderia ser pontuado com apenas uma ou duas aparições.

Esse tempo de tela exacerbado ao pai poderia ser dedicado mais a infância de Neymar, por exemplo, que é retratada de maneira bem rápida. Poderia ser explorado também em algum ponto de confronto do atleta sobre questões sociais – algo que acontece com Michael Jordan no documentário Arremesso Final (2020) também disponível na Netflix. Por não tratar mais profundamente de temas conflituosos é que dificilmente a série Neymar: O Caos Perfeito não altera a percepção do público em relação a Neymar. Quem gosta do jogador vai se sentir contemplado por ver uma intimidade que antes nunca foi mostrada. Quem tem críticas às posturas de Neymar não vai mudá-las porque a série evita aprofundar e entender o motivo dessas posturas.

Não pense que isso faça do documentário uma trama desinteressante. É um relato honesto sobre a carreira de um dos maiores jogadores de futebol da atualidade, o que é um bom divertimento. Existem depoimentos de companheiros de equipe, como Lionel Messi, Kylian Mbappé, David Beckham e Dani Alves. Jornalistas brasileiros e gringos, além de pessoas ligadas à vida íntima do atleta.

Ao final, Neymar: O Caos Perfeito dimensiona como o próprio Neymar lida com o lado bom e o lado mau de ser uma pessoa famosa e de quem se espera muito. Vemos um Neymar até certo ponto exposto, mas fica o pensamento há mais para ser explorado.

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