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“Amor de Mãe” e o realismo que o brasileiro não esperava

"Amor de Mãe" alcança o sucesso como fenômeno na cultura noveleira brasileira graças ao equilíbrio entre realismo e dramatização.

“Amor de Mãe” alcança o sucesso como fenômeno na cultura noveleira brasileira graças ao equilíbrio entre realismo e dramatização.


AAo ser anunciada como estreante no horário nobre, Manuela Dias, autora de sucessos como Ligações Perigosas e Justiça, recebeu uma reação amigável do público. Porém, o decorrer mostrou uma percepção diferente, uma vez que nem todos souberam entender tamanho realismo da produção devido o costume com novelas farofas como A Dona do Pedaço, a última de Walcyr Carrasco. Assim, a autora de Justiça teve um desafio ainda maior: trazer uma história realista, tanto no enredo como na estética do folhetim.

Regina Casé como Lourdes

 

Fase 1

A proposta de Amor de Mãe era apresentar três perfis diferentes de mães: Lourdes, Thelma e Vitória, cada um em seus conflitos e as várias outras mães entrelaçadas nos outros núcleo. Taís Araujo deu vida a advogada Vitória, que vivia em um casamento quebrado e o sonho de ter um filho. Adriana Esteves ficou com Thelma, a mãe obsessiva e controladora. Por fim, Lourdes (Regina Casé), que viveu a grande busca por seu filho Domenico (Chay Suede), vendido por seu ex-marido a uma traficante de crianças.

A novela se assumia cada vez mais como “pé no chão” ao mostrar personagens em zonas cinzas e atitudes dúbias, como na cena em que Magno (Juliano Cazarré), filho de Lourdes, salva uma garota de um estupro e sem querer mata o cara responsável. A trama cresceu em sua primeira fase, mas, com a pandemia, precisou dar uma pausa nas gravações.

Taís Araujo como Vitória

 

Fase 2

A segunda fase de Amor de Mãe aposta em trazer aspectos da realidade mundial ao incluir o COVID-19 em seu contexto. Agora, Lourdes enfrenta uma maior dificuldade em encontrar seu filho por fazer parte do grupo de risco, enquanto Thelma vive o desafio de continuar mantendo o segredo sobre Domenico. Já Vitória, após romper com o vilão Álvaro da Nóbrega (Irandhir Santos), foca em ajudar mulheres em relacionamentos abusivos e agressões.

O novo capítulo acaba derrapando, muitas vezes assumindo o clichê e a preguiça de inovar, como o atropelamento encomendado por Thelma, a possibilidade de Lourdes aproximar de seu filho biológico, e até mesmo o sequestro da mãe adotiva de Camila (Jéssica Ellen), que leva quase dois meses para a trama desenrolar. Não que a história seja ruim, mas a forma como a autora decide conduzir sua trama traz um certo desgaste para quem já acompanhava o folhetim.

 

Respiro e Reencontros

No saldo final, pode-se considerar Amor de Mãe como um prato cheio de realismo, que por hora bebeu no exagero afim de justificar as suas escolhas. Contudo, tivemos cenas emblemáticas que fecharam o ciclo de forma positiva, como o reencontro de Danilo/Domênico e Lourdes, em atuações monstruosas de Chay Suede e Regina Casé – ou até mesmo de Adriana Esteves, marcada pelo sentimento de ódio e negatividade de sua personagem. O momento traz o respiro de uma angustiante jornada na qual o brasileiro já acompanhava desde o começo da trajetória.

Com o encerramento, Manuela Dias fecha sua trama de maneira coerente com o que vimos nos primeiros capítulos. Thelma falece pelo seu aneurisma, Vitória se torna uma advogada renomada nas causas femininas e vivendo bem com Raul (Murilo Benício), e Danilo se assume Domenico, juntando-se ao seus irmãos e retornando para a família de Dona Lourdes.

Adriana Estevez, Regina Casé e Thaís Araujo, respectivamente

Amor de Mãe teve seus percalços e derrapadas, mas conseguiu conversar com mães de diversos segmentos. Se tem uma coisa que a autora soube fazer foi emocionar o público demostrando a luta de várias mães, em uma sociedade que precisa valorizar cada vez mais essas figuras. Sua trama se mostrou cheia de emoções, choros, risos e lutas, sendo marcada pela resiliência de mulheres capazes de se adaptar às dificuldades que a vida impõe.

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