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Crítica / “Sicario: Dia do Soldado”

[tempo de leitura: 3 minutos]

Os primeiros 15 minutos de Sicario: Dia do Soldado funcionam como uma contextualização em duas frentes. A primeira delas, demonstra os acontecimentos que vão nortear toda a operação militar que ocorre nas 2 horas de projeção. A segunda, não intencional, acaba demonstrando ao espectador a sensação de que a troca no comando do longa, mais perceptível na falta de um diretor com tanta personalidade quanto Denis Villeneuve, evidencia o brilho de Taylor Sheridan (roteirista do primeiro longa que retorna para trabalhar no texto de Dia do Soldado) em compreender que na falta de uma mão mais carregada na direção a verdadeira virtude do longa estaria nos bons personagens de sua história e suas dinâmicas.

Desta forma, Dia do Soldado demonstra um roteiro que, mesmo que estruturado de forma muito similar a de Sicario: Terra de Ninguém (2015), é inteligente na forma como se constrói como um “plot driven movie” e acaba se transformando em um“character driven movie”. O importante de ressaltar é que essa opção não significa que o longa não possui uma história interessante ou um enredo bem estabelecido, uma vez que as bases para a ação são bens construídas e que existe uma linha narrativa clara, mas há um enfoque na forma como o desenvolvimento do texto se preocupa mais em trazer mudanças interessantes na dinâmica dos personagens, puxar uma carga de pessoalidade maior para as relações e apresentar nuances existentes em cada um deles. Ainda, o longa tem um discurso claro e latente a respeito de temáticas contemporâneas e intrínsecas na sociedade americana, combinando duas das bandeiras mais levantadas no que diz respeito a sociedade civil americana atualmente: a luta e o medo perante o terrorismo e a problemática relação com a longa fronteira mexicana.

https://www.youtube.com/watch?v=0_VrIu-dCJk

Desta base “plot driven”, voltamos os olhos para a fronteira com o estado do Texas e somos apresentados a um contexto em que os carteis mexicanos passam a lucrar com o transporte ilegal de imigrantes para terras estado-unidenses, abrindo espaço para que no meio dos milhares de civis que tentam adentrar o país estejam alguns terroristas disfarçados. Quando um grupo de homens-bombas explode um supermercado em uma cidade texana, o governo dos EUA procura a retaliação ao iniciar uma operação secreta na tentativa de provocar uma guerra entre os cartéis, minando suas agendas de transporte ilegal na fronteira e instalando o caos em suas agendas.

A partir dessa premissa, a trama se desenvolve e segue sempre um caminho mais voltado para o que seus personagens tem a apresentar, a revelar de cargas emocionais e relações passadas e de como vão se comportar na perigosa e tortuosa jornada a frente. Assim, Benicio Del Toro e Josh Brolin tem espaço para brilhar e preencher a tela com a química natural e atrativa que possuem. Todo o elenco secundário está bem, principalmente a jovem Isabela Moner, que demonstra uma amplitude dramática impressionante para uma jovem atriz. O maior destaque vai para a atuação de Del Toro, que é capaz de transmitir uma imponência e todo um semblante amedrontador que transformam Alejandro na figura perigosa e temida que é.

Em um filme que conta com diversos retornos, a perda de Denis Villeneuve na direção faz com que o filme perca, também, sua característica forte de inquietação. É verdade que Stefano Sollima assume bem o cargo com escolhas interessantes de planos, principalmente nas sequências de ação, mas falta inventividade e um pulso na construção da atmosfera preocupante e enervante que o 1º longa conseguia também. Como dito, logo na abertura da película quando acompanhamos uma operação militar durante a noite somos imediatamente lembrados da forma inventiva e magistral com que Villeneuve conduziu o desfecho de Sicario: Terra de Ninguém, e a falta de uma sequência emblemática em Dia do Soldado acaba resumindo bem a falta do “algo a mais” que esperava de Sollima.

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A trilha sonora parece tentar emular o trabalho sensorial enervante que Jóhann Johannsson entregou no primeiro Sicario, mas a composição feita por Hildur Guõnadóttir acaba sendo muitas vezes perceptível e pouco suave, quebrando com a experiência diegética do longa. Completando as diversas perdas nas partes técnicas, a substituição de Roger Deakins por Darius Wolski no comando da cinematografia acaba sendo, talvez, a mais sentida. Wolski faz um ótimo trabalho e demonstra um olhar interessante na forma como trabalha a luz nas cenas noturnas e como capta o rosto dos atores em cenas de poucas luz, mas imaginar as tomadas longas que Villeneuve faria sobre os vastos cenários áridos do Texas e das cidades mexicanas em sua fronteira, tudo filmado pelas lentes de Deakins, acabam trazendo quase que um sentimento nostálgico do primeiro longa e demonstrando as possibilidades que este segundo não alcançou.

Mesmo que com uma dificuldade de sair da sombra de seu antecessor, Sicario: Dia do Soldado dá sequência a uma história intrigante, poderosa e que possui personagens carismáticos, interessantes e complexos o suficiente para carregarem o longa. Se Sheridan sempre pensou Sicario como uma franquia de três filmes, que para este possível desfecho tenhamos um comando na direção que se destaque tanto quanto seus personagens.

com 24 anos, é formado em Jornalismo pela PUC Minas e trabalha com Assessoria de Imprensa e Mídias Sociais. é o Editor de Conteúdo da ZINT. Segue um estudo e exercício constante como Crítico de Cinema, mantendo sua paixão pela Sétima Arte.

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