
A + B + C = “MANIAC”
“Maniac”, nova série da Netflix, chega ao catálogo falando sobre distúrbios psicológicos em uma trama futurística de humor negro.
JJá imaginou uma pílula que curasse todos os seus medos e traumas? No universo de Maniac, nova minissérie original da Netflix criada por Cary Joji Fukunaga e Patrick Somerville, ela existe. Esse é o tema base da trama que conta a história de dois jovens adultos, Owen (Jonah Hill) e Annie (Emma Stone). Ambos se encontram, por acaso (ou não), em um teste farmacêutico da droga da Neberdine Pharmaceutical Biotech (NFB).
Owen é esquizofrênico e não consegue se encaixar em sua família supostamente perfeita de ricos e bonitos. Ele tem alucinações em que um clone de seu irmão, em uma versão de como ele gostaria que o irmão fosse, lhe dá pequenas missões e diz que ele está destinado a salvar o mundo. Na vida real, a família de Owen o convence a mentir no tribunal e ser um álibi para o verdadeiro irmão que está sendo julgado por assédio sexual. O personagem decide participar do teste após ser demitido de seu emprego.
Annie tem uma personalidade forte, independente e rebelde. Ela está desempregada e se mantém através de uma política em que o indivíduo paga pelos anúncios que consome. Seu pai é uma pessoa sozinha e traumatizada assim como ela. A personagem tem problemas psicológicos devido a uma grave briga que teve com sua irmã mais nova. O motivo pelo qual Annie decide participar da experiência é o fato de estar viciada em uma das três pílulas usadas no teste.

O teste farmacêutico da NPB se baseia em compreender como os traumas afetam a mente humana e encontrar uma forma de quebrar os mecanismos de defesa que fazem com que o trauma cause danos psicológicos na vida das pessoas. Para o idealizador do projeto, o Dr James K. Mantleray (Justin Theroux), o tratamento substituiria a terapia que, na sua visão, não é suficiente para curar traumas. Tal tratamento se baseia em três pílulas: A, B e C. A primeira leva o paciente ao momento do trauma, onde um computador com inteligência artificial é capaz de colher dados para implementar a segunda pílula. Quando esta, que irá trabalhar os mecanismos de defesa e diagnosticar o paciente, é usada, a terceira pílula entra em ação, fazendo com que o indivíduo enfrente seus demônios pessoais e se cure.
Os caminhos de Owen e Allie se aproximam quando o computador que analisa os dados começa a juntar as simulações em que ambos são submetidos ao tomarem as pílulas B e C. Nessas experiências eles vivem outras realidades e são apresentados a seus mecanismos de defesa sutilmente. Esses momentos são interessantes, com Emma Stone e Jonah Hill tendo que interpretar personagens totalmente diferentes do casal central – fazendo isso com muito êxito.
Outra curiosidade sobre a série é o fato do universo de Maniac ser distópico. Sendo no futuro mas adotando uma estética dos anos 1980, com tecnologias e aparelhos da época, é difícil determinar a época exata em que se passa a história. Ainda, essa incógnita nos leva a pensar que tudo pode ser apenas um devaneio de Owen, já que ele é diagnosticado como esquizofrênico e não toma seus remédios a alguns meses.

A iniciativa da Netflix de criar uma minissérie abordando um tema sério e relevante como os transtornos psicológicos, ainda mais tendo sua estréia no mês de prevenção ao suicídio (setembro amarelo), mostra um amadurecimento do canal de streaming. Tudo isso ligado a estética anos 80 e uma temporalidade particular traz uma sensação reflexiva, parecida com a que era causada por Black Mirror. Maniac, com toda certeza, é um grande acerto, mesmo que não seja um conteúdo para todos os públicos.