
A maior bilheteria de todos os tempos do Japão
“Your Name” aposta em um enredo de troca de corpos para contar uma encantadora história, sendo um sucesso de crítica e bilheteria.
SSe você tem algum interesse por animes e mangás é quase certo que tenha visto algo sobre o fenômeno Kimi no Na wa, mais conhecido como Your Name em seu título ocidental. O filme de Makoto Shinkai que movimentou os cinemas japoneses ano passado, conquistou também expectadores fora das fronteiras do arquipélago e, desde então, não sai dos holofotes internacionais.
A história da animação que estreou no Japão em agosto de 2016, a principio, é simples. Um casal que troca de corpo após a queda de um comenta em uma pequena cidade japonesa. Até aí, nada que a diferencie das muitas produções sobre o assunto. Se Eu Fosse Você (2006) é um exemplo tupiniquim disso, que fez muito sucesso e ganhou sequência.
Troca de Corpos
O filme de Makoto, entretanto, aborda o tema talvez saturado de maneira única. O enredo apresenta Mitsuha Miyamizu (Mone Kamishiraishi), uma jovem estudante que mora na região montanhosa de Hida, no interior do Japão, e sonha viver na metrópole Tóquio. Em contraponto, traz Taki Tachibana (Ryûnosuke Kamiki), um garoto que divide seu tempo entre a escola e o trabalho de meio período na movimentada Tóquio. Ela deseja fugir da sombra do pai, prefeito da pequena cidade. Ele persegue o sonho de tornar-se arquiteto.
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Numa manhã qualquer, os jovens acordam com os corpos trocados. A princípio os dois acreditam tratar-se de um sonho, mas no dia seguinte, depois de retornarem aos seus respectivos corpos, são questionados do por que estavam agindo fora do habitual no dia anterior. É então que Taki e Mitsuha percebem que o que estão vivendo é real.
Com as trocas recorrentes, eles compreendem que as mudanças acontecem no período de sono e que, ao voltar para o próprio corpo, não conseguem se lembrar de nada do que o outro fez no dia anterior. Para se conhecerem e não interferirem drasticamente na vida um do outro, eles começam a fazer perguntas e instruções em cadernos, celulares e até em seus braços e rostos. Sem perceber, os dois se tornam amigos e se ajudam em seus problemas pessoais.
Um dia as trocas param de acontecer. Taki tenta entrar com contato com Mitsuha, mas não obtém êxito. Daí em diante, a história desenrola-se de tal maneira que é interessante acompanhar os acontecimentos assistindo o longa. Sem demais spoilers.

Apaixonante & Identificável
O que se pode adiantar é a excelência da qualidade técnica. Produzindo pelo estúdio CoMix Wave Films e distribuída pela Tōhō, o filme segue os padrões das animações japonesas com extrema qualidade visual. As cenas são muito bem iluminadas e não perdem a essência japonesa na delicadeza e suavidade dos traços. As representações da metrópole Tóquio e do interior do país são ricas e cheias de detalhes. Além disso, conta com notas de piano para dar um ar melancólico em determinados momentos, uma característica comum nos filmes de Makato.
O roteiro também não deixa a desejar. A começar pelo fato das trocas de corpos alternarem em um curto espaço de tempo. Há também a sensação de identificação por parte dos espectadores mais jovens, criada sabiamente através de recursos narrativos como situações comuns da adolescência e a constante presença da tecnologia digital enquanto meio de informação e comunicação.
É como Jader Pires escreveu em seu texto sobre Your Name para o site Papo de Homem: “Shinkai vai construindo toda essa beleza com a micro problemática de um casal jovem que precisa se descobrir e descobrir ao outro, além de lidar com as decisões pragmáticas que encerram a adolescência e iniciam a vida adulta, ele na competitiva cidade grande e ela no monótono povoado”.

Apesar de bem construído, o script em alguns momentos parece confuso – e realmente confunde o espectador –, mas logo se faz compreensível graças às reviravoltas que ajudam a desenvolver a trama. Além disso, é praticamente perfeito nas representações culturais do Japão, sejam elas tradicionais ou contemporâneas, como Mitsuha no ritual Kuchikamisake – método antigo de produzir sakê – ou Taki em seu ritmo de vida acelerado na grade Tóquio. Tudo dentro de um enredo que mescla fantasia, humor, romance e drama de maneira peculiar.
Brasil
Anime de maior sucesso na última década, Kimi no Na wa demorou a estrear em terras tupiniquins. Graças a Internet, em meados do ano passado foi possível assistir o filme legendado por fãs e de baixa resolução. A produção de Makoto Shinkai finalmente chegou às telonas brasileiras em outubro de 2017. Foi exibido em sessão única pela rede Cinemark em 30 cinemas distribuídos por 28 cidades, sendo a maioria da região sudeste do país.
Em dezembro foi a vez do longa de animação entrar para o catálogo da Netflix brasileira. Meses antes, rumores já anunciavam a estreia do filme no serviço de streaming, o que surpreendeu aos fãs foi disponibilidade da versão dublada em português brasileiro. Tornando-se a segunda animação da Makoto a ser dublada no Brasil, antecedida por Viagem para Agartha (2011).
Sucesso de Bilheteria

Não demorou para o feito ultrapassar as fronteiras do país asiático. Em seu primeiro ano de exibição nos cinemas ao redor do mundo, o filme de Makoto arrecadou pouco mais que 355 milhões de dólares. Com isso o longa ultrapassou o aclamado A Viagem de Chihiro (2003), transformando-se no anime de maior bilheteria do mundo.
Os números não param por aí. Kimi no Na wa ainda acumula outros recordes, como o título mais rentável no Japão, superando Frozen (2013), Titanic (1997) e o já citado A Viagem de Chihiro. É também o filme japonês de maior arrecadação de todos os tempos. Além disso, foi a 4ª maior bilheteria mundial de um filme de língua não inglesa em 2016.
Tamanho sucesso gerou reconhecimento e prêmios, dentre eles o Festival Internacional de Tóquio, o Sitges Film Festival (Festival Internacional de Cinema da Catalunha), o Asian Film Awards, o Japan Record Special Award e Japan Academy Prize. Além de indicações, como a de Melhor Filme no Festival de Cinema de Londres.
Um número considerável de fãs criticaram a não indicação do filme ao Oscar como Melhor Animação. Entretanto, se serve de consolo, para os usuários do maior site de cinema do mundo, o IMDB, Kimi no Na wa está 79º entre os melhores filmes de todos os tempos, a frente de animações consagradas como Toy Story (1995) e Up: Altas Aventuras (2009), respectivamente em 93º e 113º.
Adaptações
Baseado em uma graphic novel homônima do próprio Makoto Shinkai, o longa de animação superou as expectativas tornando-se sucesso de público e crítica. Além do filme, o autor adaptou a história para o formato mangá com ilustrações de Ranmaru Kotone.
Publicado em três volumes no Japão, o mangá chegou ao Brasil antes mesmo que o anime. Anunciado pela Editora JBC, começou a ser comercializado com periodicidade bimestral, sendo o primeiro volume lançado nas bancas e livrarias em agosto de 2017 e o último em janeiro deste ano.

Em setembro passado foi anunciado que a animação será mais uma a ganhar versão live action. Em anuncio oficial, a Paramount Pictures e a Bad Robot afirmaram que a nova adaptação da obra de Makoto contará com o apoio do estúdio Tōhō e será produzida por ninguém menos que J.J. Abrams, Lindsey Weber e Genki Kawamura. Lembrando que Kawamura exerceu a função de produtor na animação. O remake ainda não tem data para estrear.