fbpx
"Não Olhe Para Cima" não dá conta de organizar o caos do mundo contemporâneo e acaba como uma fraca sátira social.

“Não Olhe Para Cima” não dá conta de organizar o caos do mundo contemporâneo e acaba como uma fraca sátira social.


Faz muito sentido que Adam McKay e Netflix tenham se juntado em Não Olhe Para Cima. Enquanto o cineasta passou a ser conhecido por seus filmes que agradam a ala progressista de Hollywood (A Grande Aposta e Vice), a gigante do streaming segue gozando de uma falsa posição de outsider na indústria – mesmo que ela mesma seja um dos maiores players da cena contemporânea.

Não Olhe Para Cima atesta esse encontro e as duas posições porque tem um encontro de elenco estrelar que só é possível dentro do suposto filme de prestígio, ao mesmo tempo em que tenta se debruçar no estilo de McKay para fazer um filme socialmente relevante (algo que a Netflix certamente têm se interessado). É fácil constatar que este filme repete a proposta de satirizar alguns grupos de poder, como os trabalhos antecessores do diretor fizeram com a elite financeira de Wall Street e a cúpula política de Washington, mas falta a Não Olhe Para Cima uma coesão capaz de dar conta de tudo o que o filme quer fazer.

Em outras palavras, existe um esforço grande de Adam McKay para capturar a cacofonia social contemporânea e abordar diversos temas presentes na sociedade ocidental (a exposição midiática e o efeito enganoso dessa dinâmica na sociedade; a guinada do mundo para governos e políticas autoritárias; a legitimação de ideologias reacionárias, etc), mas em meio a todo o caos que é apresentado falta a consistência necessária para não tornar Não Olhe Para Cima raso e óbvio.

É verdade que o filme tem sim bons momentos (a primeira uma hora ou quase, são bem fluidas e envolventes), ótimas atuações e uma caricatura bem precisa da nossa condição espalhafatosa como sociedade do espetáculo (especialmente dos absurdos que tem sido legitimados nas últimas décadas), mas falta mesmo a potência crítica de um discurso mais maduro ou a urgência de um filme apocalíptico que é lançado justamente após o espectador ter sobrevivido ao fim do mundo (a pandemia do COVID-19).

Em certo sentido, o desordenamento de ideias e acontecimentos lembram Dr.Fantástico (1964) de Stanley Kubrick, mas essa comparação até bem natural só serve para atestar negativamente a Não Olhe Para Cima. Existe um motivo pelo qual Kubrick consegue articular uma crítica caótica, engraçada e pungente em seu filme e há também uma justificativa pelo qual McKay dá vida a um filme que opera na lógica do meme “acho que a esquerda vai gostar”.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Música
Bruna Curi

A volta triunfante de Avril Lavigne

“Head Above Water” marca o retorno de Avril Lavigne após mais de cinco anos sem um disco novo, em uma era marcada pelo sentimento de “segunda chance”. Todo mundo já deve ter ouvido falar de Avril Lavigne, a famosa cantora canadense que aparenta não envelhecer e é constantemente associada a teorias da conspiração – a mais famosa é de que ela morreu e foi substituída. Depois de alguns anos afastada dos holofotes, no dia 15 de fevereiro a cantora lançou o seu sexto álbum de estúdio: Head Above Water. Início da Carreira Avril ficou conhecida em 2002, com o lançamento de

Leia a matéria »
Back To Top