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Elevado pelas atuações e por bons momentos isolados, "Não Se Preocupe Querida" desperdiça uma ótima premissa com uma narrativa pouco inspirada.

DDiversas das experiências no cinema que tenho terminam com a reclamação de que o filme assistido propunha pouco visualmente. No caso de Não Se Preocupe Querida, é um pouco o caminho oposto. Apesar da criatividade e do arrojo visual (o que, no geral, já faz do filme bem melhor do que muita coisa mediana que tem sido lançada recentemente), acaba que o saldo do mais novo filme da Olivia Wilde é um tanto quanto frustrante.

Essa sensação vem, também, pelo movimento proposto por Wilde enquanto diretora. Seguindo o ótimo Fora de Série, a atriz-diretora opta por uma empreitada cinematográfica mais madura e desafiadora – e aí vem a queda dura para ela que aumenta o sarrafo com orçamento, nomes estrelados e escala de produção, mas tem dificuldade de dar conta de uma narrativa mais complexa.

Não que o mistério de Não Se Preocupe Querida seja cabeçudo ou tenha um quebra-cabeças difícil de se desvendar. Pelo contrário, as reviravoltas são até bem perceptíveis e anunciadas, mas existe um esforço muito digno e em muitos momentos bem recompensador ao espectador, especialmente no interesse de criar imagens visualmente intrigantes.

A grande questão é que essas imagens interessantes são momentos isolados, nacos de uma narrativa que poderia ser muito mais coesa, tanto pelo roteiro escrito, quanto pelo texto decupado. Enquanto a condução do mistério, por exemplo, é muito monótona, a construção da atmosfera utópica e da protagonista vivida por Florence Pugh (especialmente) são muito bem resolvidas.

Existe em Não Se Preocupe Querida, um jogo de aparências que funciona tematicamente durante todo o longa, mas o grande (e talvez o maior problema) é que o roteiro se esquece de trabalhar este jogo de maneira mais potente. Em outras palavras, o filme de Wilde sabe bem o que quer dizer, mas falta arrojo e destreza para levar o espectador as conclusões – ou minimamente a perceber as ideias que se fazem presente – por uma via mais impactante.

A grande sensação é que ao ficar tão preocupado em acertar o tom e, sobretudo, a mensagem a respeito dos papéis sociais e culturais presentes em toda dinâmica de poder das relações de gênero, Não Se Preocupe Querida esquece do que é primordial em um filme: contar uma história.

Em meio a certas confusões e a boas sequências isoladas de atmosfera, ambientação e dinâmica de personagens, temos alguns pontos positivos constantes. Apesar das críticas e piadas com a performance de Harry Styles que assolam a internet, o trabalho do músico britânico é bem consistente e correto com o que o papel pede. O Jack vivido por Styles tem o carisma necessário para manter o personagem em sua pose de marido perfeito, e até mesmo nas cenas de maior amplitude dramática o britânico entrega o que é necessário (especialmente se pensarmos na construção do personagem, junto do que nos é revelado posteriormente).

A fotografia e a direção de arte (assim como o design de produção), são impecáveis, construindo o ambiente utópico perfeito – evocando a arquitetura, o estilo e a moda dos tempos áureos do american way – enquanto a fotografia trafega entre a luz ensolarada da Califórnia e o sombreamento de isolamento para a personagem protagonista.

Sobretudo, o maior destaque aqui é mesmo a atuação de Florence Pugh. A jovem atriz, que já se encontra entre os mais elogiados nomes de novos talentos de Hollywood, reafirma sua merecida posição como expoente de uma geração e faz um trabalho potente, profundo e intenso, capaz de salvar diversas cenas de diálogos fraquíssimos.

No geral, Não Se Preocupe Querida acaba como uma experiência frustrante não só pelos nomes envolvidos na produção (polêmicas a parte) e pelo sucesso anterior de Olivia Wilde na direção, mas principalmente pelo descarrilar dos trilhos de uma narrativa que se inicia instigante e acaba simplória.

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