fbpx
Inspirado nos poderes de sua protagonista, "WandaVision" traz uma minissérie que brinca com o formato das sitcoms para renovar o MCU.

Inspirado nos poderes de sua protagonista, “WandaVision” traz uma minissérie que brinca com o formato das sitcoms para renovar o MCU.


EEm momentos como este em que vivemos, além do vírus, da pandemia, do isolamento e dos toques de recolher, há a sedução da ilusão de criarmos uma suposta vida perfeita, tentando esconder nossos sofrimentos. E podemos ir além e expandir esta ilusão fazendo com que outras pessoas se enredem nela e acabem também por sofrer por isto. Este foi o timing perfeito da série WandaVision, a mais recente produção da Marvel disponível já com a temporada completa pela Disney+.

O gancho de uma série psíquica protagonizada por uma personagem com dons de feitiçaria,  desenvolvida no ambiente da vida familiar supostamente leve e perfeita – assim como nos sitcoms (comédia-de-situação) antigos – é de uma precisão perfeita.

Assim como O Mandaloriano jogou para cima as perspectivas e as possibilidades do universo Star Wars, WandaVision entrega, como a divulgação sinalizou, “algo que você nunca viu”. O talento e a competência para a renovação, seja em termos de temática ou estilísticos um dos braços do universo Marvel, surpreendem aqui. A estética é primorosa, a apresentação do primeiro episódio é perfeita, as vinhetas de abertura homenageiam sitcoms clássicos com propriedade e a série consegue ser ao mesmo tempo divertida e instigante.

WandaVision começa numa típica comédia-de-situação dos anos 50, estendendo depois aos anos 60, 70, 80, 90 e 00 com o enredo se tornando mais complexo a cada década – assim como foram se tornando as sociedades, com menor ingenuidade e ironias crescentes.

Elizabeth Olsen e Paul Bettany

Os nomes dos episódios são perfeitos e a partir do quarto (“Interrompemos A Nossa Programação”) a série ganha fôlego quando é revelada a sua trama principal. É interessante ver o segredo sendo revelado não por todo um aparo tecnológico de ultra geração, mas por uma TV analógica antiga com antena dos anos 50. A série não perde o ritmo, voltando a ganhar fôlego novamente com a entrada da citação às bruxas de Salém, às runas nórdicas e a necessidade do estudo da magia que irá transformar aos poucos Wanda na Feiticeira Escarlate.

A química de Elizabeth Olsen e Paul Bettany é perfeita, e os dois revelaram talentos como atores que eram impossíveis de serem revelados como personagens periféricos da sequência de filmes Os Vingadores. Os arcos dramáticos são bem amarrados, as pontas se fecham e, como é tradicional no universo Marvel, outras se abrem no final para sequências no futuro. Kathryn Hahn está ótima como a vizinha intrometida segurando bem a reviravolta de sua personagem e elogios devem também ser feitos a agente Mônica de Teyonah Parris, que nos créditos finais é lançada à sequências do universo Marvel.

WandaVision acerta no nome ao unir os dois protagonistas e fazer simultaneamente a referência à visão de Wanda, que cria todo um universo ficcional para suportar a dor da perda de Visão. A história se aprofunda na visita ao passado da protagonista num país fictício dos Balcãs em meio a guerras civis que devastaram a região nos anos 90, onde explica também a sua conexão com o escapismo dos sitcoms americanos antigos.

O aspecto psicológico do seriado é expresso no episódio em que os personagens parecem relatar suas questões para um terapeuta, expressando aqui o aspecto mais inteligente da série: trazer uma dimensão de profundidade dentro do universo Marvel, onde planos para salvar o mundo ou o universo dão lugar à metáfora do se salvar a própria sanidade mental, da necessidade de encaramos a verdade de frente e dos perigos contidos na ilusões que podemos criar para nós mesmos.

A produção dosa tudo isto com humor. Há citações e homenagens a I Love Lucy, A Feiticeira e a atmosfera de outras como Alf – o ETmeioso ou The Nanny. A homenagem se estende no aviso “gravado com platéia”, na revelação do estúdio (revelação no momento certo, sobre quem na verdade dirigia o show) e na exibição de um episódio específico do Dick Van Dyke Show com a aparição de Mary Tyler Moore.

WandaVision de fato vai mudar para sempre o modo de fazer e consumir filmes do universo Marvel e deve respingar também na DC (afinal, a concorrente tem corrido atrás da Casa das Ideias). Sempre bem vindas as renovações  inteligentes de franquias de sucesso.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Televisão
Leonardo Parrela

Desnudando Neymar

Preso entre o desnudamento da figura e a exposição segura, “Neymar: O Caos Perfeito” cresce nos momentos de tensão da vida íntima do jogador.

Leia a matéria »
Back To Top