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"Titãs" é o carro-chefe da DC Universe, dando uma roupagem mais adulta para os Jovens Titãs em uma temporada de tirar do fôlego.

“Titãs” é o carro-chefe do serviço de streaming DC Universe, dando uma roupagem mais adulta para os Jovens Titãs em uma temporada bem produzida.


NNão é mais segredo para ninguém o quanto produções audiovisuais envolvendo super-heróis são lucrativas. Mulheres e homens em colant ou armaduras de metal representam, basicamente, a nova fase de Hollywood, que não para de produzir filmes e séries inspirados em quadrinhos e graphic novels. E Titãs é um desses produtos.

A série é o carro-chefe da DC Universestreaming da DC Comics voltado, inicialmente, para abrigar todas as suas produções originais. O serviço estreou no dia 12 de outubro, inaugurando com o episódio piloto da produção que re-imagina o universo do time de heróis adolescentes conhecidos como Jovens Titãs. Na Netflix, a temporada completa estreia dia 11 de janeiro.

 

Titãs Reunidos

Nesta versão mais adulta de Titãs, após a trágica morte de seus pais, os famosos trapezistas conhecidos como Graysons Voadores, o adolescente Dick Grayson (Brenton Thwaites) é adotado por Bruce Wayne. Morando na mesma casa que o Batman, ele adota o manto do Robin e passa a combater o crime de Gotham ao lado do vigilante. Porém, após começar a perceber o lado obscuro e violento de seu parceiro, Grayson, já adulto, decide abandonar a vida e tentar seguir um caminho diferente, agindo dentro da lei. Como um detetive na cidade de Chicago, ele se depara com o caso da jovem Rachel Roth (Teagan Croft), que está fugindo de casa após ver sua mãe assassinada por um desconhecido homem.

Mas Rachel possui outro segredo. Dentro da garota vive uma poderosa entidade, capaz de tomar conta de seu corpo quando ela menos deseja. Ela, que não conhece o seu verdadeiro poder, muitas vezes acaba causando acidentes além de seu controle. O interesse de Grayson vem quando Roth verbaliza ter sonhado com o acidente que matou seus pais.

Gar, Rachel, Dick e Kory, respectivamente os futuros heróis Mutano, Ravena, Asa Noturna e Estelar

Enquanto os dois personagens se conhecem, em outro continente Kory Anders (Anna Diop) acorda com perda de memória. Perseguida por assassinos de aluguel e sem saber seu próprio nome, Anders inicia uma busca para reaver sua identidade. A primeira descoberta é que uma garota chamada Rachel é o centro de todas suas respostas.

Quando a jornada dos três personagens finalmente se cruzam, conhecemos Garfield Gar Logan (Ryan Potter). Amigável e de cabelo verde, o garoto possui a incrível habilidade de reordenar as moléculas de seu corpo – no entanto, a única forma que ele consegue assumir é a de um tigre.

Agora, com o quarteto de vindouros heróis apresentado, a série ganha o espaço para introduzir sua mitologia.

 

Titãs Para Adultos

Inicialmente planejada para ter 12 episódios, Titãs estabelece seu tom sombrio já com o episódio piloto.

Polido, o seriado tem um grande apuro técnico, indo desde o cuidado com a fotografia, que dá consistência ao teor adulto da série e à fantasia do mundo real em que a produção está inserida, até as cenas de ação, que se traduzem como uma dança muito bem coreografada. Mas o grande trunfo da série está, como é de se esperar, em seus personagens e aspecto dramático. As histórias acontecem de forma natural, sem deixar óbvio que tudo ali é pensado e executado por um grupo de roteiristas e produtores.

Somos então apresentados a um Dick Grayson amargurado, ressentido por seu tempo com o Batman. O Robin original percebe o quanto a influência de Bruce está impregnada no seu cerne, tentando a todo custo sair de sua sombra. É essa mesma amargura que resulta no icônico “Foda-se o Batman!“, como já revelado no trailer – embora, na série, o momento ocorra em um contexto diferente. Grayson quer encontrar a sua própria identidade e se distanciar o máximo possível da influência do Morcego.

Dick Grayson é o único dos Titãs a ter um uniforme, já que ele inicia a série estabelecido como o Robin original

É interessante perceber que nessa encruzilhada de Titãs, o personagem de Brenton possui dois contrapostos. Um é Jason Todd (Curran Walters), introduzido plenamente no episódio Jason Todd (S01E06). O novo Robin não está interessado na fase de interrogatório e sempre bate antes de fazer as perguntas. Violento e cheio de si, ele orgulha-se plenamente de trabalhar ao lado de Bruce. A satisfação da parceria é tamanha que Todd não consegue entender os motivos que levaram Grayson à desfazer laços com o Batman.

Do outro lado da balança está Donna Troy (Conor Leslie), a Moça-Maravilha, introduzida no episódio Donna Troy (S01E08). A heroína, criada em Temíscira pela própria Mulher-Maravilha, está mais próxima daquilo que Dick tanto quer ser. Aconselhando o amigo, Donna aponta que “a Mulher-Maravilha nasceu para proteger os inocentes, enquanto o Batman foi criado para punir os culpados“, encorajando Dick a ser o protetor que ele tanto almeja. Esse pequeno momento dá o pontapé para empreitada de Grayson em assumir o manto do Asa Noturna – mesmo que ele ainda não saiba disso.

Robin e Robin: na mitologia de Titans, Dick Grayson deixa o manto do herói para se tornar o Asa Noturna, enquanto Jason Todd passa a assumir o título

O único problema do personagem está em ter praticamente todo o protagonismo da série (arrisco dizer que se não fosse Titãs, o programa provavelmente teria o título Dick Grayson e os Titãs). Não que o personagem de Thwaites não mereça o cargo (afinal, ele é o líder dos Titãs), mas isso acaba tomando um tempo valioso de outros personagem – como acontece com Gar. Sufocado na trama, o maior desenvolvimento do futuro Mutano acontece apenas após os eventos do episódio Asylum (S01E07), mas ainda se desdobra de forma muito secundária.

Rachel Roth, por outro lado, tem muito mais tempo em tela. Seu arco é o que move a história da série como um todo, tendo o seu pai como esse grande vilão invisível. Mas, enquanto o poderoso demônio conhecido como Trigon (Seamus Dever) não aparece, a menina que será a heroína Ravena começa como uma garota assustada e sem sentimento de pertencimento. E se nos primeiros episódios ela desconhece sua força e tenta saber mais sobre sua família, Rachel termina a temporada se sentindo parte de algo, ao lado de Dick, Kory e Gar, e começa a entender melhor o conceito de como é possível controlar a entidade que habita seu corpo – bem ilustrado no finalzinho do episódios Jason Todd e no decorrer de Asylum.

Rachel e Gar se conectam imediatamente, em uma dinâmica facilmente comparável a de irmãos

Por sua vez, Kory Anders é a responsável por roubar as cenas de Titãs. Na responsabilidade de Diop, a atriz mostra a força de sua atuação ao entregar uma destemida personagem. Em pequenos flashs que surgem em sua cabeça, percebemos que muito da identidade de Anders está travada em sua memória. Como um gatilho, vemos sua habilidade de combate transparecer no alerta de perigo, assim como o “primeiro contato” com o seu super poder: a capacidade de absorver energia solar e reutilizá-la de outras formas, como jatos de fogo.

Infelizmente, o seu arco sofre quando ela finalmente descobre sua identidade. Koriand’r (S01E10), que leva o nome real de sua personagem e supostamente deveria ser um episódio focado nela, passa a maior parte da narrativa apostando no mistério que gira em torno da família biológica de Rachel. Para piorar, o capítulo gasta uma significativa parte mostrando a viagem de Kory até o local com as respostas que ela tanto deseja. No final, três minutos é tudo que o público ganha para conhecer a origem de Koriand’r, assim como a polêmica missão que a trouxe à Terra – diretamente ligada à jovem Ravena.

Kory Anders é o alter-ego de Koriand’r, Princesa do planeta Tamaran. Na Terra, como super heroína, ela assume o nome Estelar

Mas se Koriand’r falha em dar o merecido protagonismo à AndersHank and Dawn (S01E09) triunfa ao focar nos personagens que dão título ao episódio. No capítulo, vemos como a dupla de vigilantes Rapina e Columba veio a existir. Respectivamente, Hank Hall (Alan Ritchson) e Dawn Grange (Minka Kelly) são os alter-egos por trás dos heróis.

O grande trunfo do capítulo, que eleva a carga dramática de Titãs, está na história de Hank, vítima de abuso sexual quando criança. Envergonhado, ele sente a constante necessidade de provar sua masculinidade (mesmo que, fisicamente, ele seja a personificação do “homem macho”), sendo desnecessariamente violento pelos motivos mais banais possíveis e sempre escondendo suas reais emoções, até mesmo de seu irmão. Hank and Dawn é cruel e poético, sendo um episódio bastante emocional, com Dawn como a principalmente responsável por ajudar Hank a dar o primeiro passo para a superação do passado.

 

Titãs: Um Dia…

Titãs não foge de possuir os seus erros, mas o mais expressivo deles é uma decisão tomada pelos produtores executivos, que de última hora resolveram cortar o episódio 12 e tratar o 11 como o season finale. No capítulo, intitulado Dick Grayson, a série mergulha na mitologia do Bruce Wayne e mostra o Robin como a única salvação de Gotham após o Batman enlouquecer e decidir matar todos os seus icônicos antagonistas.

Titans nunca revela o rosto do Batman, optando por mostrar sua sombra e silhueta, ou até mesmo partes de seu corpo ou ele inteiramente de costas

A problemática está ao analisar o conteúdo da temporada como um todo. Com Koriand’r, fica muito claro que a ideia era reunir, no capítulo cortado, os oito heróis introduzidos ao longo dos 10 primeiros episódios. Mesmo sendo bom e tendo um final interessante, o único gosto que fica é de justamente estar faltando um episódio.

É verdade que Dick Grayson tem os seus méritos, e mesmo sendo muito bom, o capítulo está longe de se sustentar como o fechamento da temporada – afinal, originalmente, este não era o seu trabalho. Sem contar que nunca chegamos a vislumbrar o quarteto principal chegando ainda mais perto de seus papéis de heróis como o Asa NoturnaEstelar, Ravena e Mutano. Uma lacuna, inclusive, que é acobertada por uma cena pós-créditos, que introduz dois novos e famosos heróis da mitologia dos Titãs.

Para piorar o quadro, o tal capítulo não será colocado como o premiere da segunda temporada. De acordo com os próprios produtores, ele será “canibalizado” e exibido como parte da trama já pensada para o o episódio.

Hank Hall e Dawn Grange em seus respectivos uniformes de Rapina e Columba

O lado positivo dessa balança é que Titãs entrega uma primeira temporada mais positiva do que negativa. O primeiro ano termina com o seu tom uniforme, sendo compreensível o motivo de termos versões mais adultas dos Titãs. A série ainda faz uma boa escolha de elenco principal, com foco para Brenton Thwaites, em seu Dick Grayson perdido internamente, e Anna Diop, como a incrível e memorável Kory Anders/Koriand’r. Como secundário, Alan Ritchson também merece apreço pelo seu Hank Hall/Rapina violento, inseguro e psicologicamente “quebrado”.

O mérito se estende pela decisão de introduzir os protagonistas e personagens de forma compassada. Mesmo com um final que nos prive de vê-los próximos como OS Titãs, quase todos eles ganham um episódio próprio para serem aprofundados (uns mais que outros). E ao deixar claro que a Liga da Justiça e a Patrulha do Destino co-existem no mesmo universo (esse segundo fica a cargo do quarto episódio, Doom Patrol), fica impossível não esperar que em algum momento haja, pelo menos, um crossover entre os Titãs e a Patrulha se unindo em combate – mas que seja apenas quando ambas as equipes estiverem, de fato, formadas e a todo vapor.

No final, ainda que tenhamos uma decisão infeliz para o fechamento, Titãs completa a primeira temporada com personagens multidimensionais, inseridos dentro de uma sólida mitologia. E com um arco narrativo construído cuidadosamente, tudo indica que a história desses novos Jovens Titãs está muito longe de acabar.


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