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Mais do que um desfile de beleza, um desfile de conceitos e preconceitos

O Victoria’s Secret Fashion Show é um evento televisivo anual, apostando em diversidade ao mesmo tempo em que não é exatemente tão representativo assim.


Angels. Assim são chamadas as modelos da badalada marca Victoria’s Secret. Símbolo de glamour, elegância e beleza, a marca e as modelos que estrelam as propagandas e desfiles tornaram-se referência no mercado da moda e cosméticos pela tradição e padrão de trabalho e aparência. Uma prova disso é o The Victoria’s Secret Fashion Show, evento anual realizado pela marca de lingerie e produtos de beleza, que se trata de um grande desfile que expõe ao público os destaques das lingeries de todo o ano, com performances musicais e toda uma estrutura para compor um verdadeiro espetáculo.

Neste ano, iniciando com a música This is Me, da trilha sonora original do longa O Rei do Show para embalar os passos empolgados e fortes das modelos, o desfile aposta no reconhecimento e exaltação da personalidade para nortear a apresentação. Os convidados musicais deste ano foram Halsey, Bebe Rexha, Rita OraShawn Mendes, The Chainsmokers, The Struts, Leela James e Kelsea Ballerini, que contribuíram também para dar o tom e enriquecer a investida sensual e deslumbrante do evento.

Com grande destaque e tradição principalmente nos Estados Unidos, onde a marca se originou e desenvolve seus produtos, revelou nomes como Adriana Lima, Gisele Bündchen e Alessandra Ambrósio, as famosas Angels brasileiras. Mas para participar do desfile final, este ano realizado na cidade de Nova York, as modelos são selecionadas e passam por um processo rigoroso de treinamento e cuidados com a saúde. Tudo para que elas se enquadrem nos moldes aceitos e admirados pelo público presente na plateia e os telespectadores de casa, que assistem ao desfile e tem nas meninas um modelo de sucesso e exuberância.

Neste ano, o evento é marcado, principalmente, pela despedida de Adriana Lima, que após quase 20 anos de trabalho se despediu e deixa o posto como Angel brasileira. Ela é apontada como a modelo mais influente da marca na atualidade, segundo pesquisa da empresa de métricas de mídias sociais D’Marie. Ainda, entre as brasileiras que participaram do desfile deste ano estão Barbara Fialho, Gizele Oliveira e Lais.

A despedida de Adriana Lima: após quase duas décadas com o VSFS, a Angel se despede da marca

 

Fashion Show

Cores vibrantes, performances explosivas e poses bem colocadas são alguns dos aspectos que evidenciam como o desfile é todo montado também para a TV, sendo um evento planejado para ser espetacularizado, que pretende impressionar não só pessoalmente, mas a distância também. E o nome, “Fashion Show“, não deixa mentir.

Assim, o evento se revela como um produto midiático, um programa, um show que precisa agradar o público, parceiros e patrocinadores para, também, garantir a audiência e permanência nas próximas oportunidades, ultrapassando assim apenas o conceito de desfile de moda. Além disso, o Victoria’s Secret Fashion Show de 2018 trouxe algumas novidades que chamaram a atenção, como a diversidade” das modelos, que contavam com asiáticas, negras e carecas, com a participação especial de Chantelle Winnie, artisticamente conhecida como Winnie Harlow, a primeira modelo da marca com vitiligo – juntando-se assim com as já esperadas loiras, magras e de olhos claros e cabelos lisos. A canadense de 26 anos se tornou um símbolo da necessidade por mais diversidade na moda ao assumir a doença do vitiligo não como algo a se envergonhar, mas uma qualidade única.

Winnie Harlow, a primeira modelo com vitiligo a andar na passarela da VSFW

Outro destaque é a presença de Kelsey Merritt, que marca como a primeira modelo filipina a andar na passarela da grife. Porém, a mistura e abertura de espaço está longe de ser um dos pilares do Victoria’s Secret Fashion Show. A maioria das modelos ainda encontra-se dentro do padrão de beleza instituído por uma sociedade capitalista e machista, pautado no enaltecimento de uma beleza calcada em na “loira perfeita”, refletindo o modelo de beleza exigido pela indústria da moda.

Kendall Jenner na passarela do VSFW

Nesse sentido, a marca se recusa ainda, por exemplo, a fazer o casting de modelos trans, por “não se encaixarem na fantasia da marca”. Uma decisão que comprova uma amostra de atrações, preconceitos estruturais e até mesmo naturalizados por já fazerem parte da formação e estrutura da marca, bem como suas ideias e a manutenção do seu mercado e consumidores.

Dessa forma, é preciso reconhecer o preconceito e a limitação colocados em forma de sofisticação, pelos flashes dos estereótipos e empresários que, como os setores dominantes da sociedade, reforçam um mesmo tipo de corpo e expressão que barra e impede a diversidade. Apoiados em recursos como a publicidade e o encanto pelo fascinante, que agrada os olhos de quem vê e, de certa forma, contenta quem é visto, o desfile, show, ou seja lá o substantivo que achar mais adequado, apenas espelha a beleza e a estética admirada pela nossa sociedade e “merecedora” das grandes passarelas e eventos de moda.

Victoria’s Secret Fashion Show, Classe de 2018

Ainda mais pensando na grandiosidade da marca e do país de origem da mesma, esse perigo é ainda maior. Já que não foi dessa vez, deixa a diversidade para o ano que vem, quem sabe. Sugiro agora desligar as câmeras e holofotes e refletir. Talvez seja esta a grande falta do Victoria’s Secret Fashion Show – seja ele o da realidade ou o montado pela marca.


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