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"The Politician" traz uma trama política diferente que surpreende a cada episódio e, facilmente, captura o interesse do telespectador.

“The Politician” traz uma trama política diferente que surpreende a cada episódio e, facilmente, captura o interesse do telespectador.


Nota da Colab: o texto contém spoilers.

 

“— Vou ser presidente dos Estados Unidos.

— Parece ser o melhor trabalho a que todos aspiram hoje em dia. A sensação de impossibilidade não existe.

— Sim, tive esse sonho aos sete anos, Reitor Lawrence, e passei a vida estudando biografias de ex-presidentes para identificar experiência e traços comuns que resultaram em suas inevitáveis vitórias eleitorais.

— Tal como?

— Eu voltei até Reagan, pois, até onde sei, ele criou a presidência moderna, a presidência televisionada e com celebridades. As pessoas veem o presidente como um personagem da TV. A maioria nunca os viu na vida real. Reagan e Bush pai foram presidentes de suas turmas no ensino médio.

— E suponho que é o que está tentando realizar”.

 

EEsse é o diálogo que ocorre nos primeiros minutos de The Politician, série original da Netflix. A produção foi lançada em setembro deste ano e é produzida por Ryan Murphy, responsável por criar séries de sucesso como Glee, American Horror Story e Pose.

 

The Politician

A série gira em torno de Payton Hobart (Ben Platt), um jovem que deseja se tornar presidente dos Estados Unidos e vem dedicando toda sua vida para realizar o sonho. Payton estudou a campanha dos ex-presidentes dos Estados Unidos, os pontos em comum entre eles e planejou tudo nos mínimos detalhes: primeiro, se tornaria o presidente de sua turma no ensino médio e, mais tarde, entraria para Harvard, a universidade que mais formou presidentes (sete, no total).

https://www.youtube.com/watch?v=mA07C_9lINk

E para ganhar as eleições estudantis, o primeiro passo de seu plano, Payton conta com uma equipe de assessores que lhe ajudam diariamente: McAfee (Laura Dreyfuss), James (Theo Germaine) e Alice (Julia Schlaepfer). Contudo, nada do que eles fazem parece ser suficiente para derrotar o oponente River Barkley (David Corenswet), o jogador de lacrosse do time da escola e um dos garotos mais populares, que decidiu participar da eleição por pressão de sua namorada, Astrid Sloan (Lucy Boynton).

Poster internacional da série

Embora o protagonista tenha estudado todas as técnicas que fizeram os ex-presidentes obterem sucesso em suas campanhas, isso não ajudou na competição estabelecida com River. Payton tem diversas ideias de como melhorar a qualidade de vida dos alunos da escola, mas nada disso é páreo para a simpatia que River tem por parte dos estudantes. Isso fica claro no discurso do jogador que, apesar de não ter nada preparado, acaba falando sobre sua vida pessoal, de sua depressão e da importância em pedir ajuda para tratar tal problema. Assim, ele consegue estabelecer uma conexão com seus colegas de classe através de um discurso emotivo e pessoal, enquanto Payton não obtém o mesmo sucesso.

Porém, as eleições estudantis acabam sofrendo uma reviravolta impressionante e Payton passa a concorrer contra Astrid, sua inimiga, o que transforma essa disputa em algo mais pessoal para ambos. Para conquistar a popularidade dos alunos, Payton e seus amigos decidem convidar Infinity Jackson (Zoey Deutch) para ser a vice. Infinity é uma garota doce e ingênua, que tem câncer e que vive uma vida bastante regrada por sua avó, Dusty Jackson (Jessica Lange) – ela é a pessoa perfeita para aumentar a popularidade de Payton entre os colegas. Enquanto isso, Astrid convida Skye Leighton (Rahne Jones), uma estudante engajada na luta feminista e nos direitos LGBTQIAP+, para fazer parte de sua chapa, mas não apresenta nenhum interesse pelos ideais defendidos pela colega.

Ao longo dos oito episódios, The Politician apresenta diversos plots twists. O telespectador tem a oportunidade de acompanhar as reviravoltas que ocorreram na vida de Payton e de seus amigos, seja no âmbito familiar ou escolar — e alguns dos problemas que eles vivem são os típicos white people problems. Além disso, o público tem a oportunidade de conhecer as estratégias utilizadas no campo da política, de ver como as coisas ocorrem nos bastidores, e que nem tudo é tão perfeito e lindo como parece.

 

Analogias Políticas

É possível relacionar a eleição estudantil mostrada em The Politician com o cenário político atual: presidentes tratados como celebridades, promessas vazias e a utilização de fake news durante as campanhas eleitorais. Esse último aspecto, inclusive, é uma questão que os Estados Unidos e o Brasil vivenciaram em suas últimas eleições.

McAfee (Laura Dreyfuss), James (Theo Germaine) e Payton (Ben Platt)

Em uma matéria publicada pelo G1 em 17 de novembro de 2016, foi revelado que as notícias falsas sobre as eleições presidenciais dos Estados Unidos tiveram um maior alcance no Facebook, do que as notícias veiculadas em importantes jornais como o New York Times ou o Washington Post . Entre elas, as que mais se destacaram foram Wikileaks confirma que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico e Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump. Já no cenário brasileiro, uma pesquisa realizada pela organização Avaaz apontou que cerca de 89,77% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) acreditaram em notícias falsas que foram veiculadas nas redes sociais, segundo os dados apontados na matéria publicada pela Folha de S. Paulo em 2 de novembro de 2018.

 

Força de Atuação

Entre o elenco de The Politician é preciso destacar o trabalho desempenhado por Ben Platt e Zoey Deutch, que se sobressaíram de maneira positiva. Com uma atuação capaz de arrancar lágrimas dos telespectadores, Ben Platt se saiu muito bem ao interpretar Payton Hobart, um personagem extremamente ambicioso, que tenta alcançar o perfeccionismo e que não demonstra muito bem suas emoções. O ator consegue deixar visível a ansiedade e o nervosismo do personagem, principalmente quando envolve questões de cunho pessoal – e em alguns raros momentos também demonstra um lado mais sensível de Payton. Devido ao brilhante trabalho de Platt, você se questiona se o personagem realmente é verdadeiro com as pessoas a sua volta, ou se não passa de um jogo político para conquistar aliados.

Jessica Lange, Ben Platt e Zoey Deutch, respectivamente

Além disso, Ben demonstra todo seu potencial artístico ao cantar três covers: River, Unworthy of Your Love e Vienna. Platt ficou conhecido por ter estrelado diversos musicais da Broadway como,  The Music Man (2002) e The Book of Mormon (2012–2013), além de ter ganhado um Tony Awards, um dos prêmios mais prestigiados do teatro, de Melhor Ator em um Musical.

Enquanto isso, Zoey Deutch é a responsável por dar vida à Infinity Jackson, uma personagem bastante singular e que acaba tendo um grande desenvolvimento ao longo da primeira temporada da série. Nos primeiros episódios, Infinity pode ser descrita como uma garota extremamente ingênua e que é manipulada por sua avó Dusty Jackson, que tenta se aproveitar da suposta doença de sua neta para conseguir diversas regalias. Com o decorrer de The Politician, o público tem a oportunidade de ver Infinity confrontando sua avó a respeito de sua doença e sobre a misteriosa morte de sua mãe. Além disso, ela também acaba enfrentando seu namorado, Ricardo (Benjamin Barrett), que não aceita o fim do relacionamento. Aos poucos, Infinity vai perdendo sua ingenuidade e se tornando mais independente.

 

Política de Conscientiação

O foco principal da série é a política. Assim, em diversos momentos da trama, a produção ressalta a história de ex-presidentes norte-americanos, bem como a importância do voto para as sociedades democráticas. The Politician também abre espaço para discutir a saúde mental e alerta que a série pode conter alguns gatilhos e não é recomendada para todo tipo de público.

“The Politician é uma comédia sobre determinação, ambição e conseguir o que quiser a qualquer custo. Mas, para aqueles que lidam com a saúde mental, alguns elementos podem ser perturbadores. Recomenda-se a descrição do espectador”.

– AVISO EXIBIDO ANTES DO COMEÇO DOS EPISÓDIOS

David Corenswet como River Barkley, ao lado de Ben

A questão da saúde mental é amplamente discutida a partir do personagem River, que admite sofrer de depressão. Mesmo o personagem não aparecendo em todos episódios da série, essa é uma pauta central que é colocada em diversos episódios, e a ambição é vista como algo negativo. Ainda, na ambição excessiva de Payton de querer se tornar Presidente e de utilizar vários meios (éticos e outro nem tanto) para alcançar seu objetivo, a série faz as pessoas se questionarem se o personagem realmente é bom ou não. A ambição do personagem é um problema, mas a falta de ambição no último episódio da série também é prejudicial para Payton, que começa a consumir uma grande quantidade de álcool. Ele precisa encontrar um equilíbrio para levar uma vida saudável.

Por mais que The Politician aborde pautas importantes, outros assuntos aparecem de maneira superficial. Em seu discurso, Skye faz questão de falar sobre o feminismo e sobre os direitos dos LGBTQIAP+, mas em nenhum momento esses temas são muito aprofundados. O mesmo vale para o discurso de Payton sobre o desarmamento, que acaba sendo raso.

Além dos pontos citados, o roteiro da produção tem algumas falhas e deixam questões em aberto. Isso é evidente no último episódio da primeira temporada, Vienna (S01E08), em que há um salto temporal de três anos. No capítulo, são introduzidos novos personagens sem uma contextualização prévia, o que pode deixar o telespectador confuso. E para piorar, são dados poucos detalhes sobre o que aconteceu com a vida dos personagens nesses últimos anos.

Gwyneth Paltrow é uma mentora para Ben Platt na série

Apesar de tudo, a série traz uma trama que surpreende a cada episódio, além de contar com um trabalho excelente por parte dos atores. Se durante a primeira temporada o público acompanhou o processo para Payton ganhar as eleições estudantis, o segundo ano de The Politician, que já foi confirmado, deve abordar um cenário muito mais desafiador e ambicioso.

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