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"The Midnight Gospel" surpreende pela abordagem multimídia entre animação e podcast, em uma experiência psicodélica e filosofica.

“The Midnight Gospel” surpreende pela abordagem multimídia entre animação e podcast, em uma experiência psicodélica e filosofica.


TThe Midnight Gospel estreou na Netflix trazendo um forte caráter psicodélico, para explorar temas filosóficos e uma origem multimídia. Criada por Pendleton Ward (responsável, também, por Hora de Aventura), a produção se aproximou do público com uma premissa nunca antes explorada e, em certos pontos, já conhecida.

A produção conta a história de Clancy (Duncan Trussell), um garoto que entra em uma simulador de universos defeituoso para entrevistar os mais variados e estranhos seres para o seu espaçocast (podcast que vai para o espaço). Com essa premissa e características, The Midnight Gospel apresenta um desenho sem comparativos, totalmente novo em formato, proposta e conteúdo, mas que utiliza diversos recursos já conhecidos para se aproximar do público.

https://www.youtube.com/watch?v=NXosJaphtu8

 

Filosofia psicodélica

Há quem pense em The Midnight Gospel como um desenho parecido com Hora de Aventura, BoJack Horseman ou até Rick and Morty. De fato, existem alguns pontos em comum, mas a combinação deles resulta em algo totalmente diferente do já havíamos visto na Netflix.

Um simulador de realidades que transforma o personagem principal no formato/ser que ele quiser, um mundo com apocalipse zumbi e homens com cabeça de peixe são algumas “coisas” que pipocam na produção. Assim, já é de se esperar uma animação com cenas frenéticas e até nonsense. Essa característica também aparece em Rick and Morty, onde as realidades paralelas também são parte da trama. Porém, o plano imagético em The Midnight Gospel é mais uma referência para os assuntos tratados e não compartilha uma relação direta com as imagens, diferente de Rick and Morty, onde a imagem conversa diretamente com os temas levantados, não sendo só um suporte, mas a outra metade para se interpretar o assunto de cada episódio.

Em outra ótica, o programa abre espaço para imagens vibrantes e de teor psicodélico, mas não utiliza isso de forma central para prender a atenção do público como visto em Hora de Aventura. As imagens psicodélicas e os tons vibrantes (o personagem principal, por exemplo, é rosa) são mais recursos utilizados como plano de fundo para algo mais intrigante e chamativo: o áudio da animação.

Há dois planos trabalhados: o do visual e do áudio. O segundo explora em uma conversa (ou entrevista) assuntos como drogas, saúde mental, meditação, existencialismo, depressão, vida e morte. Questões como “De onde viemos?”, “Para aonde vamos?” e “Qual o propósito de tudo?” perpassam pelas conversas e entrevistas que Clancy tem com seus convidados, o que prende e intriga o telespectador já que o plano imagético não desenvolve uma conversa direta com os questionamentos levantados.

Esse tipo de conteúdo e questionamentos também são marcantes em BoJack Horseman, que utiliza esses assuntos para conduzir a história de seus personagens, ao passo que The Midnight Gospel desprende totalmente esses assuntos da vida dos personagens.

Ao vivenciarmos a combinação do visual e o áudio logo percebemos que estamos vendo uma entrevista no plano auditivo, como se fosse de fato um podcast, enquanto no plano imagético as histórias dos personagens tomam um outro rumo, imprevisível e sem relação direta com o tema trabalhado.

 

Multimídia: o que está por trás da animação

Ao assistirmos os dois primeiros episódios de The Midnight Gospel já reparamos que há, por trás, uma produção especial. Não assistimos apenas a uma animação com falas e roteiro. É perceptível que antes de ser uma animação, a série é uma entrevista. Ao longo de cada episódio nos desprendemos da história visual para fixarmos a atenção nas perguntas que Clancy faz para os seus entrevistados. Essa percepção de que há um podcast por trás não é à toa.

A ideia de trazer uma espécie de “podcast animado” foi de Ward que se inspirou com um podcast real. Foi o programa de Duncan Trussell que fez o criador de Hora de Aventura pensar em uma nova animação. Trussell ficou reconhecido no começo da onda dos audiocast com o Duncan Trussell Family Hour, podcast onde entrevista pessoas e conversava sobre as mais variadas questões, como as existenciais.

A série tem diversas referências a respeito de Duncan Trussell, que dubla o personagem principal. Às vezes os entrevistados confundem Clancy com Duncan e o chamam pelo nome errado. A forma multimídia, ao atrelar um audiocast com uma animação, recheia os olhos e ouvidos dos telespectadores com algo totalmente novo, o programa consegue conversar diretamente com o seu telespectador saindo do senso comum.

The Midnight Gospel aproxima o público de dois formatos de conteúdo já conhecidas e consumidas por ele: a animação e o podcast. E, com isso, desperta a atenção ao convergir dois meios e entregar algo totalmente novo e, de certa forma, já conhecido.

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