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Nota do Colab: este texto contém spoilers.


No ano passado, os fãs de Lucifer ficaram apreensivos quando a FOX anunciou o cancelamento da série, devido a baixa audiência. Não demorou muito para que os fãs fossem reclamar da decisão na internet através da hashtag #SaveLucifer (“Salve Lucifer”, em tradução), chegando aos Trending Topics mundiais do Twitter – a lista dos assuntos mais comentados do microblog. Em junho de 2018, o movimento surtiu efeito e a Netflix anunciou a sua decisão em dar continuidade à série. Através da plataforma de streaming, Lucifer iria ganhar uma quarta temporada.

Nas mãos da Netflix, a série ainda mantém a sua identidade, sofrendo apenas com o número de episódios. Enquanto a terceira temporada teve um total de 26 episódios, a quarta temporada vem apenas 10 – o que dá um ritmo mais dinâmico para a série.

O primeiro episódio do novo ano começa com uma elipse temporal, mostrando diversas performances de Lucifer (Tom Ellis) tocando o solo de Creep, do Radiohead, ao longo do mês em que Chloe Decker (Lauren German) esteve afastada da cidade – resultando dos eventos finais da terceira temporada. Fica claro que, com o passar do tempo, ele vai se tornando impaciente para descobrir o paradeiro da detetive, sem saber se ela vai voltar ou não para Los Angeles. No fundo, é perceptível que o Diabo sofre com a possível rejeição de Chloe, temendo que ela não o aceite depois de conhecer a sua verdadeira face.

Na quarta temporada, o relacionamento de Lucifer e Chloe está por fim, tanto do lado profissional quanto do amoroso

Após voltar de sua viagem, Chloe se mostra tranquila diante dos acontecimentos e descobertas recentes, e a dinâmica entre eles parece voltar a ser a mesma de sempre. Ela, Lucifer, Ella Lopez (Aimee Garcia) e Dan (Kevin Alejandro) retornam para a rotina do dia a dia, investigando os novos casos da polícia de Los Angeles. Mas, na verdade, Chloe ainda se sente amedrontada com o que viu e com a descoberta desse universo sobrenatural – ela está arrasada por dentro, mas faz de tudo para esconder sua fragilidade.

Enquanto isso, o anjo Amenadiel (D. B. Woodside) toma a decisão de deixar a Cidade de Prata e voltar para Los Angeles. Depois de passar muitos anos considerando os humanos inferiores, ele muda sua visão e percebe que a humanidade é bastante interessante e complexa. Além disso, o fato de Linda (Rachael Harris) estar grávida reforça a sua vontade de continuar na Terra. Amenadiel fica empolgado diante da possibilidade de se tornar pai, enquanto Linda é mais apreensiva pela possibilidade de seu bebê ser metade anjo e metade humano. Se cuidar de um recém-nascido pode ser complicado, cuidar de um ser celestial parece ser um desafio muito maior, como fica claro graças às suas sessões de terapia com Lucifer e a demônia Maze (Lesley-Ann Brandt).

Eva é apenas a segunda personagem da Bíblia (sem contar Lucifer) a entrar na trama e ganhar um arco na série

Se todos esses problemas não fossem suficiente, a quarta temporada de Lucifer adiciona mais um personagem: Eva (Inbar Lavi), a esposa de Adão. Depois de passar milhares de anos na Cidade de Prata, ela decide descer para a Terra com o objetivo de se divertir e encontrar o seu ex-namorado, Lucifer, estando decidida a reviver os velhos tempos do Jardim do Éden ao lado dele. É nesse perspectiva que a série cria um contraponto interessante: enquanto Chloe humaniza Lucifer e o torna mais humano e sensível, Eva quer que ele aja como o Diabo de antigamente, que causava problemas e destruição por onde passava.

O triângulo amoroso logo mostra-se mais complexo do que o habtual. Não se trata apenas de romance, mas também em como isso reflete diretamente na personalidade de Lucifer, que faz o possível para tentar agradar ambas. Durante esse processo de tentar ser divertido, da maneira que Eva deseja, e trabalhar conforme a lei e as regras, como Chloe gosta, ele acaba negligenciando ambas e não conseguindo agradar satisfatoriamente nenhuma delas.

O novo ano evolui o relacionamento entre Amenadiel e Linda, que ainda precisam lidar com as constantes interrupções de Maze

A quarta temporada de Lucifer vai mais longe que as outras e explora ainda mais a personalidade de seu personagem título, chegando ao fundo de seus problemas e fazendo-o perceber qual a origem de sua personalidade errática. É graças a redução de episódios que os acontecimentos encontram lugar para serem mais dinâmicos e terem menos enrolação, ainda que conte com a sua habitual dose de vulgaridade e comédia, com personagens que tem a oportunidade de um desenvolvimento muito mais trabalhado.

O novo ano do programa ainda toca em alguns assuntos importantes, como o processo de perder a fé e o racismo. Pela primeira vez em toda sua existência, Amenadiel sendo o peso, na pele, do que é ser negro nos Estados Unidos (e no mundo), fazendo-o questionar a humanidade e se de fato a Terra é um local tão bom e seguro como ele idealizava. Enquanto isso, Ella encontra-se em um obscuro momento de sua vida, quando passa a duvidar da existência divina e coloca sua fé de lado, algo que a definiu até então.

É possível afirmar, com tranquilidade, que a quarta temporada é a melhor de todas até o momento. Os episódios são bem construídos, os personagens bem desenvolvidos e os arcos bem elaborados e desenrolados. Resta apenas saber se a Netflix vai ou não renovar a série para uma quinta temporada – não é difícil de ver que a produção tem um grande potencial a ser explorado. A história de Lucifer não acabou e nós temos muito o que ver e descobrir.

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