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Contemplem os “Inumanos”: a estreia da série da Marvel em IMAX

"Inumanos" estreia mundialmente nas salas IMAX, com dois episódios em formato filme, provando que a série é um colossal erro da Marvel.

“Inumanos” estreia mundialmente nas salas IMAX, com dois episódios em formato filme, provando que a série é um confuso e despreparado erro da Marvel.


AA trajetória dos Inumanos é conturbada fora dos quadrinhos. Tudo começou em 2014, quando a Marvel anunciou que a mitologia faria parte do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), em sua Fase 3. O anúncio, no entanto, não passou disso, e a inclusão da Família Real Inumana no universo d’Os Vingadores permaneceu uma grande incógnita, sendo constantemente respondida de forma vaga, se respondida de alguma forma.

 

Inumanos

Foi durante um anúncio feito pela Casa das Idéias, em abril de 2016, que o vindouro filme foi removido do calendário, sem ganhar nenhum grande anúncio do porquê, apenas sendo retirado da imagem que indicava as próximas produções do estúdio. Por meses, o futuro dos Inumanos permaneceu uma incógnita, até que, em novembro do mesmo ano, a Marvel anunciou oficialmente que o filme, de fato, não viria, e em seu lugar a Família Real ganharia uma série.

Assim como as outras séries do estúdio, a produção ficaria em cargo canal norte-americano ABC, responsável por Agents of S.H.I.E.L.D. e Agent Carter (que havia acabado de ser cancelada). Até aí, a novidade limitava-se apenas ao formato seriado, invés do cinematográfico. Porém, provavelmente para apaziguar a decepção dos fãs pelo cancelamento do filme, a Marvel também anunciou uma grande novidade e inédita em toda a industria televisiva até então: Inumanos teria seus dois primeiros episódios filmados inteiramente nas tecnológicas e caríssimas câmeras IMAX. O momento seria também marcado pela a exibição desses mesmos episódios nas salas IMAX ao redor do mundo, em formato de filme, um mês antes da estreia na TV. E assim, o hype começou (e a trajetória ganhou capítulos ainda piores).

 

Marvel na TV

A verdade seja dita: a Marvel é um grande força na indústria cinematográfica, mostrando peso e consistência em seus filmes. Contrário a isso, estão as suas séries, em específico as que são resultados de sua parceria com a ABC. Enquanto as produções em parceria com a Netflix mostram mais conformidade e gerem mais aceitação do público e da crítica especializada, as séries da ABC sofre(ra)m em ambos os quesitos. Espelho disso é o cancelamento de Agent Carter, em 2016, devido aos baixos números, embora a sua fiel base de fãs e a boa aceitação por parte dos críticos.

Por mais que S.H.I.E.L.D. esteja com sua quinta temporada prevista para estrear ainda este ano, a série também vem sofrendo com quedas de audiência desde o seu primeiro ano. Enquanto o seu primeiro episódio registrou mais de 12 milhões de telespectadores, o último episódio da quarta temporada amargou dois milhões. O número é tão baixo para os padrões do canal, que o canal acabou colocando a vindoura quinta temporada na grade de sexta-feira, um dos “dias mortos” da tv norte-americana (provavelmente para continuar “segurando as pontas” e obrigar tanto a Marvel quanto a ABC a não serem obrigadas a cancelar a série).

Na série, Daisy (à extrema esquerda) é uma Inumana conhecida como Tremor, capaz de controlar e produzir tremores sísmicos. No entanto, o uso de seus poderes acaba tendo um efeito negativo no seu corpo, fazendo com que ela precisa usar uma luva especial que controla as moléculas de seu braço. A sua direita, em pé, está Elena (Natalia Cordova-Buckley), conhecida como Io-iô, uma Inumana capaz de atingir super velocidade, tornando-a invisível aos olhos humanos.

Em contra partida, as críticas vem melhorando desde sua primeira temporada, que apresentou uma aprovação mista. Particularmente, preciso concordar. Desde o seu primeiro crossover (indireto) com o MCU (no caso, a queda da S.H.I.E.L.D., enredo em Capitão América 2: O Soldado Invernal), a série encontrou o seu caminho e sua narrativa, trabalhando melhor seus personagens e todas as histórias que sustentam suas temporadas. Histórias essas, inclusive, que se conectam com a mitologia dos Inumanos.

A existência dos Inumanos foi estabelecida, pela primeira vez, ainda na primeira temporada de Agents – de acordo com Jed Whedon, produtor da série, esse teria sido o primeiro passo para a introdução dos mesmos no universo cinematográfico –, mas foi apenas na segunda temporada que a mitologia ganhou protagonismo. Daisy (Chloe Bennet), então conhecida como Skye, se descobriu (em uma cena belíssima) como uma Inumana, graças ao processo/rito conhecido como Terrigênese, quando um cristal da raça alienígena Kree é quebrado próximo a uma pessoa, ativando os genes Kree e as habilidade Inumanas na pessoa.

Desde então, os Inumanos tem sido uma parte ativa da série, até mesmo vindo a ser formada uma “força-tarefa de Inumanos” para dar assistência à S.H.I.E.L.D. (nos quadrinhos, a mitologia é conhecida como Os Agentes Secretos). Porém, como na série o acontecimento da Terrigênese é relativamente inédito, a narrativa desconhece (pelo menos até o momento) que os Inumanos são muito mais organizados e menos um “acaso do destino”, e que até mesmo possuem uma Família Real.

 

Os Inumanos

Com o anúncio de Inumanos, em novembro de 2016, logo vieram as novidades. A série estrearia em 29 de novembro, em uma sexta feira, com oito episódios em sua primeira temporada (dando espaço, com o seu fim, para Agents). A estreia em IMAX aconteceria no dia 1º de setembro, e permaneceria nos cinemas por duas semanas.

https://www.youtube.com/watch?v=8cKdbWcbEqU

A produção exploraria, de forma muito livre e desgarrada dos quadrinhos, a Família Real Inumana, formada pelo Raio Negro (Anson Mount), sua esposa Medusa (Serinda Swan), seu irmão Maximus (Iwan Rheon), sua cunhada Crystal (Isabelle Cornish), seus dois primos Karnak (Ken Leung) e Gorgon (Eme Ikwuakor) e e o cachorro de estimação, Dentinho. Aqui, Raio Negro tem uma voz supersônica, mesmo com o menor dos sussurros, capaz de destruir em pó qualquer matéria humana, forçando-o a tomar um voto de silêncio para o resto de sua vida.

Sua esposa, Medusa, é dotada do controle total de seu cabelo, que são extremamente fortes e resistentes, além de terem a possibilidade de se esticarem ou retraírem. Karnak é o conselheiro de Raio Negro, possuindo o poder de prever todas as possibilidades a sua frente, evitando erros e falhas. Gorgon é o chefe de segurança, dotado de cascos de gado capazes de gerarem ondas sísmicas. Crystal tem a habilidade de controlar os elementos da natureza, mas não possui nenhum cargo especial dentro do governo de sua família. E então, temos Maximus, que durante a Terrigênese não desenvolveu nenhum gene Inumano.

Sendo sempre tratado como o “humano”, Maximus desenvolveu uma profunda inveja e amargura contra o seu irmão, sempre visto como o menino de ouro por todos. Com Raio Negro sendo o governador de Átila, cidade dos Inumanos, e tendo em seus braços Medusa, por quem foi sempre apaixonado, Maximus passa a desenvolver um plano para destronar o seu irmão e tomar para si o controle de Átila, que ele sempre coloca como o “melhor interesse dos habitantes” da cidade.

O jovem também acredita que o melhor lugar para os Inumanos é na Terra, uma vez que devido os seus poderes especiais, eles seriam tratados como deuses e teriam o mérito que ele acredita merecer. Raio Negro, no entanto, permanece incrédulo dessa abordagem, se recusando a levar a raça que governa para o planeta.

A série então segue a narrativa do golpe tramado por Maximus, e as eventualidades que ele sofre durante esse processo, que leva grande parte dos integrantes da Família Real para a Terra. Perdidos e sendo caçados, tanto pela guarda do vilão quanto pelas agências secretas de todo o mundo, que colocaram um preço na captura de qualquer Inumano, a Família Real agora tem que encontrar um jeito de retornar a Átila, e retomar o trono. Enquanto isso, Maximus continua trabalhando para fazer seu povo acreditar que sua família fugiu covardemente, afim deles aceitarem-no como seu Rei.

Da esquerda pra direita: Karnak, Gorgon, Raio Negro, Medusa, Crystal e Maximus

 

Será Que Presta?

Com a narrativa, veio a paranoia. Enquanto permanecia como filme, não havia muito debate de como o visual dos Inumanos seria tratado, assim como os efeitos especiais, uma vez que grande parte do orçamento de um filme desse calibre é destinado aos efeitos especiais (CGI), e claro, ser a Marvel. Mas com o filme virando série, veio o questionamento de como ficaria essa questão, assim como toda a caracterização e a narrativa.

O problema da história logo foi “resolvido”, sendo anunciado que a série, como já apontado, se basearia vagamente nos quadrinhos. Os efeitos, por outro lado, continuaram em aberto, mas já sabendo que a qualidade apresentada não estaria no mesmo nível dos filmes, uma vez que o setor televisivo detém muito menos dinheiro para investir nesse em suas produções. Vieram, então, as primeiras previews, e a exibição de vídeos na San Diego Comic Con, que resultaram em Inumanos se tornando em um grande motivo de risada, principalmente pelos seus efeitos “toscos”.

A série acabou sofrendo também nas críticas especializadas, que colocaram-na como uma completa piada, dando à Marvel uma mancha suja em seu nível de produção. Com 0% de aprovação no agregador de reviews Rotten Tomatoes, a exibição em IMAX acabou sendo cancelada uma semana após a estreia. Aos que puderam já degustar de todos os oito episódios, Inumanos é categorizado como “inassistível” e uma “completa perda de tempo e dinheiro” (e de câmeras IMAX, considerando os dois primeiros episódios).

 

Behold… Minha Opinião

Minha relação com séries de quadrinhos é bastante ativa, embora eu não faça leitura deles. Séries de super-heróis sempre me chamam atenção e dedico um tempo para assistir, pelo menos, o primeiro episódio. Como um telespectador fiel (e fã) de Agents of S.H.I.E.L.D., a série dos Inumanos já me chamava a atenção devido a narrativa presente no programa, o que me deixou curioso em ir checar mais desse universo.

A perspectiva de uma série “mal-feita” não me assustou, e a “falta” de caracterização e a problematização do cabelo da Medusa não mostravam-se uma pedra no caminho para alguém que nada conhecia sobre a mitologia, além do que o apresentado por Coulson e seus agentes. Assim, esperei pacientemente o dia de estreia chegar e fui checar os episódios “Behold… The Inhumans” e “Those Who Would Destroy Us” em formato filme IMAX.

Quero deixar claro, logo de cara, que as críticas, infelizmente, estavam certas. Inumanos é uma completa bagunça, e isso fica ainda mais evidente nas telas gigantes. Há, no entanto, um lado positivo em toda essa Terrigênese.

Com cerca de 1h20 de duração, Inumanos pouco trabalha, explica ou explora da sua mitologia, deixando para o telespectador fazer as interpretações e preencher as lacunas. A produção sofre constantemente de cortes frios e sem sentido, deixando a continuidade esquisita e difícil de digerir. Ao mesmo tempo, a narrativa é sufocada pelo ciclo que faz entre os personagens, que acabam sendo mal tratados por essa particularidade.

Acontece que a série possui seis personagens centrais, ainda que um deles (Crystal) não pareça ser tão importante assim. Portanto, somos deixados com cinco personagens, que precisam dividir a tela e apresentar suas histórias. A forma que isso é feita, no entanto, faz com que fique um sentimento de que nenhum deles teve momento algum. Pouco após seus minutos iniciais, a série trabalha com uma rotatividade de narrativa, onde cada um dos personagens ganha uma sequência de alguns segundos.

Seria algo como: Medusa ganha 20 segundos, então corta pro Raio Negro e ele ganha 20 segundos, então vem Maximus que ganha 20 segundos, Crystal que sempre aparece com Maximus e ganha 2 segundos, Auran com 10 segundos, Karnak com 10 segundos, e então fica esse rodízio, além dos sub-mini-plots, até o final.

É uma exploração muito estranha e muito mal feita, que o roteiro não desenvolve de forma alguma e não deixa o telespectador criar qualquer tipo de vínculo com qualquer um deles. Não tem como sentir a frustração de Raio Negro por não poder soltar um suspiro sem matar alguém, ou sentir pena/dor da Medusa quando ela perde o cabelo, ou o desespero de Maximus quando Raio Negro ameaça falar, ou de quando Karnak bate a cabeça e percebe que seus seus poderes estão em risco (uma sequência de acontecimentos e narrativa que é muito questionável, diga-se de passagem). Todos o roteiro faz com que os acontecimentos passem anêmicos diante das telas, deixando com que os atores façam um trabalho que na maioria das vezes soa extremamente exagerado e forçado.

A série também falha em explicar alguns pontos cruciais da narrativa, como, por exemplo, como Maximus, um Humano que foi sempre desprezado pela raça Inumana por não desenvolver seus genes especiais, conseguiu ter o apoio dos Guardas Reais para realizar o seu golpe. Ou como ele conseguiu entrar em contato com a Terra, afim de estabelecer uma parceria para caçar Triton e Gorgon.

Há então a polêmica dos efeitos especiais. Como um consumidor de séries televisivas, esse quesito não é algo que particularmente me preocupa, uma vez que tenho total consciência de que séries tem pouquíssimo investimento na área do CGI, inúmeras vezes apresentando efeitos toscos e beirando o ridículo. Portanto, os efeitos em Inumanos não me preocupa tanto, mesmo com a Marvel afirmando que eles gastaram bastante tempo e dinheiro polindo o visual gráfico da série.

Mas então entro em uma outra polêmica, que foi resolvida de forma “covarde” pelos produtores, baseados, muito provavelmente, no simples fator de tirar o empecilho do caminho e não precisar ter dor de cabeça no CGI: o cabelo da Medusa. Como praticamente um personagem secundário, o cabelo da rainha de Átilan é o seu poder Inumano, sendo constantemente apresentando como uma espécie de entidade que sempre está vivo, em movimento, mesmo que sutil.

A série trabalha isso de duas formas. A primeira é logo na cena inicial, quando Medusa e Raio Negro estão deitados, nus, na cama. A primeira movimentação do cabelo é bastante sutil, quase imperceptível, logo dando espaço a uma movimentação mais óbvia, quando Medusa toma da mão do rei, usando o seu cabelo, o seu relógio-smartphone-tablet.

A segunda é no embate que ela tem com Maximus e depois com os guardas, quando o antagonista põe em prática o seu golpe. Neste dois momentos, a movimentação do seu cabelo é muito maior, e o CGI entra com tudo, forçando o cabelo a não só ter a movimentação, mas mostrar força e destreza, e talvez até mesmo uma personalidade (lembram-se da capa do Doutor Estranho, no filme?). Aqui, o efeito falha em dar uma naturalidade para a “entidade”, deixando óbvio o uso da computação gráfica.

Particularmente, esse problema não me afeta tanto, uma vez que imagino quanto trabalho deve dar para dar naturalidade e vida ao cabelo, além da quantidade de dinheiro que isso deve pedir.

E aqui entra a polêmica “covarde”: embora seja minimamente aceitável para a narrativa e para o perigo que o cabelo de Medusa representa, Maximus mostra que para seu golpe ser completo, é necessário raspar a cabeça de sua amada, deixando-a careca, em uma cena que mistura esse Q “anêmico” da narrativa e “exagerado” da atuação, que eu falei anteriormente. Nesta sequência, Maximus mostra completo arrependimento e dor pelo o que está fazendo, enquanto Medusa mostra-se desesperada e em prantos por perder aquilo que tanto ama (e o que faz ela ser ela). O diretor, no entanto, opta por fazer um slow-motion (que também é utilizado em quase todas cenas de ação) e dar um off nos gritos de Medusa, colocando em cima uma trilha sonora melancólica.

Em uma das cenas mais hilárias da série (e não há quase nenhuma dessas, pelo menos se você não considerar hilário a falta de qualidade da produção) é quando o vilão finalmente senta no trono de pedra de seu irmão, deixando muito claro o quão pequeno o personagem é perto de Raio Negro (e do gigante V em raio atrás dele). A título de curiosidade, Iwan tem 1,73 de altura, enquanto Anson tem 1,85. O momento acaba perdendo bastante de seu peso de vitória, uma vez que parece que uma criança acabou de sentar na cadeira. E, talvez, e este é apenas eu divagando, isso foi feito de propósito?

Inumanos, no entanto, faz um grande acerto no quesito estético/visual da série. A produção faz uma escolha de geometria e minimalismo para os móveis e as salas, que são sempre bem grandes e muito bem iluminadas. Há também o uso de tons de cinza e muita pedra lisa, dando uma visual meio futurista com os seus cortes que dão espaço para luz natural e artificial. O uso de cores fica mais por conta do vestuário, principalmente no de Medusa, com o seu cabelo vermelho e seu vestido roxo.

As panorâmicas apresentadas também podem ser colocadas como um positivo, seja na hora de apresentar Átilan ou mostrar as florestas e a cidade de Honolulu, no Havaí, onde a parte terrestre da série vai tomar lugar (e onde o programa foi inteiramente gravado). Infelizmente, o lado positivo da produção limita-se a apenas isso.

Agora fica aquele receio de como será o resto da série, com dois episódios tão pouco promissores e tão problemáticos. E mesmo que alguns críticos já tenham assistido a produção por completo e liberado suas críticas, apontando que o resto do programa é “uma perda de tempo”, vou me aventurar nesse mundo. E já a espera do crossover que Inumanos precisa fazer com Agents.


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