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Dentre todos os super-heróis já criados, o Batman é, possivelmente, o personagem que mais rendeu adaptações de seu universo, seja para a TV ou para o cinema. Não importa se o produto em questão vai ser estrelado por Bruce Wayne (como a série original e a trilogia dirigida por Christopher Nolan), por seus coadjuvantes (as vindouras séries Pennyworth e Batwoman) ou seu extenso time de vilões (os filmes Mulher-Gato e Esquadrão Suicida ou a série e futuro longa Aves de Rapina). O ponto é que é raro passarmos muitos anos sem algo relacionado ao Morcegão na mídia mainstream. E é graças a esse infinito ciclo que temos Gotham.

https://www.youtube.com/watch?v=SlO2S3FWY40

 

Gotham

Como uma espécie de prelúdio para o legado do Batman, Gotham foca sua história na juventude de James “Jim” Gordon (Ben McKenzie). Ainda como um detetive qualquer do Departamento de Polícia de Gotham City (GCPD, na sigla original), muitos anos antes de se tornar Comissário, Gordon se vê inserido em uma Gotham extremamente corrupta e deixada para os bandidos, precisando encontrar caminho pra justiça até mesmo dentro de sua área de emprego. Ao lado de Harvey Bullock (Donal Logue), um policial já nos anos finais de trabalho e acomodado com a atual situação da cidade, os dois logo estarão envolvidos no centro da mitologia que abre o procedente para a criação do Homem-Morcego.

Aos poucos, Gotham vai apresentando não só Jim Gordon, um jovem homem idealista e “pé no saco”, mas também as origens de certos heróis e vilões já conhecidos pelos fãs. Aqui entram não só Bruce Wayne (David Mazouz), Alfred Pennyworth (Sean Pertwee), Mulher-Gato (Camren Bicondova), Pinguim (Robin Lord Taylor) e Charada (Cory Michael Smith), mas também Don Falcone (John Doman), O Espantalho (Charlie Tahan / David Thompson), Hera Venenosa (Clare Foley / Maggie Geha / Peyton List), Ra’s al Ghul (Alexander Siddig), Solomon Grundy (Drew Powell), Bane (Shane West), Harvey Dent/Duas Caras (Nicholas D’Agosto), Victor Zsasz (Anthony Carrigan), e, claro, o Coringa (Cameron Monaghan, que entrega uma atuação monstruosa e cheia de nuances). E assim como esses personagens, outros aspectos da mitologia ganham espaço, como é o caso da Mansão Wayne, o hospital psiquiátrico Arkham Asylum, a Liga das Sombras e a Corte das Corujas.

Por se tratar de versões 15 anos mais jovens, conhecemos, por exemplo, um Gordon um pouco menos carismático e mais cabeça dura, um Bruce Wayne por vezes chato e mimado e um Pinguim não muito confiante e constantemente alvo de chacota. Mas também temos a oportunidade de ver esses personagens crescerem e se tornaram aquilo que estamos acostumado, com atores que trazem suas próprias personalidades e identidades para heróis e vilões saturados na televisão e no cinema.

 

O Nascer da Trama

Poster “As Histórias de Origem Começam em Gotham”

Ao longo de cinco temporadas sob tutela da FOX, Gotham trabalha muito bem com o mundo que tem em mãos. Personagens bem construídos e vilões carismáticos dão vida à um universo sombrio e sujo, cheio de violência e de corrupção, com um toque de melancolia e vários respiros de humor.

É interessante perceber que, mesmo tratando-se de uma série baseada em quadrinhos, com personagens que muitas vezes são metahumanos, Gotham sempre mantem-se “pé no chão”, explorando uma realidade mais próxima da real possível, onde pessoas com super-poderes não existem. Aqui, qualquer super é, na verdade, o resultado de uma ciência de fronteira, bastante mirabolante, capaz de presentear essas pessoas com habilidade fora do normal.

Com uma boa recepção da crítica especializada, a série não foge muito do mal de possuir 22 episódios por temporadas. No entanto, eventualmente os roteiristas acabam encontrando um jeito de contornar isso quando, a partir do segundo ano, passam a dividir a trama em duas partes. A decisão dá a eles a oportunidade de dar início e fim a determinados arcos e manter uma qualidade narrativa mais comum em séries limitadas, além de poder focar em certos aspectos deste universo.

O segundo ano de Gotham foca, por exemplo, na introdução e no crescimento dos vilões, com os subtítulos “Nascer dos Vilões” e “Fúria dos Vilões“. A terceira, em contra partida, mostra as consequência dessa ascensão com a “Cidade Louca” e em como isso resulta no “Nascimento dos Heróis“. O desenvolvimento segue com “A Noite Escura“, para o quarto ano, e, finalmente, “Lenda do Cavaleiro das Trevas“. Tudo, é claro, para poder dar um pouco mais de background em quais foram as situações que criaram, por exemplo, o Comissário Gordon e o Batman, e o elo de confiança que há entre eles.

 

Fúria dos Atores

O quinto e último ano eleva a qualidade da série, claramente mais madura e mais focada – afinal, de 22 episódios, passamos a ter apenas 12. Ben McKenzie ganha espaço para entregar um Jim Gordon mais leve, embora ainda bastante punho firme quanto à sua jornada por uma Gotham livre de corrupção. O personagem é capaz de encontrar os pequenos deleites da vida e balancear bem a sua esfera profissional e pessoal, que gere, por exemplo, Bárbara Gordon (Jeté Laurence), a futura Batgirl. David Mazouz também cresce, não só fisicamente, e seu Bruce Wayne deixa de ser um garoto chato e adota mais características do jovem que carrega o peso do mundo nas costas e ainda é assombrado pela morte precoce de seus pais, tendo em Alfred Pennyworth uma figura paterna, de segurança e de melhor amigo.

Jim e Bullock evoluem a relação de parceiros de trabalho a passos medianos e, ao longo dos cinco anos, passam a confiar mais fielmente um no outro

O time de boa atuação segue com, praticamente, todo o elenco do arco principal. Donal Logue mostra um crescimento absurdo como Harvey Bullock, deixando de ser um velho rabugento para se tornar o braço direito extremamente fiel de Gordon, muitas vezes servindo como um alívio cômico da série. Camren Bicondova é um monstro como a jovem Selina Kyle, dando uma personalidade própria para a Mulher-Gato e sendo um importante pedaço do girl power presente na produção.

Robin Lord Taylor é simplesmente hilário e genial como o Pinguim, com um Oswald Cobblepot que começa como uma tímida e auto-consciente lagartixa e acaba virando uma arrogante e egocêntrica borboleta em ternos de tons roxos e pretos. Cory Michael Smith segue um caminho muito semelhante ao seu parceiro do crime e traz um Edward Nygma, o Charada, que, aos poucos, vê em sua mania por charadas uma personalidade mais ambígua e passa a ser esse maníaco do “o que é o que é” em ternos verde-esmeralda brilhante.

Ao longo da série, Oswald e Edward desenvolvem um relacionamento que beira o queerbaiting, em uma amizade repleta de cooperação e constante traição

É no meio desses personagem que Gotham merece aplausos por conseguir imprimir seu próprio capítulo dentro deste universo tão conhecido e redondo. Bárbara Kean segue um caminho diferente daquele já conhecido nos quadrinhos. A personagem deixa de ser apenas a esposa de Gordon e assume um gigantesco protagonismo dentro da série que, no começo, faz o público se perguntar se ela seria a Harley Quinn do programa.

Mas Erin Richards vai além e ganha um papel para chamar de seu, dando vida à uma Bárbara que vai do 0 a 100 em um tapa – e você vai odiá-la em uma cena, e amá-la na seguinte. Até a brasileira Morena Baccarin tem sua chance de brilhar, em uma personagem sem grandes protagonismos nos quadrinhos, mas que na série ganha trama suficiente para quatro temporadas. Lee Thompkins é uma inteligente doutora, que começa pura, passa por um momento um pouco sombrio, e acaba reencontrando sua real vocação para o bem.

“Gotham” mostra o início da relação de parceria e colaboração entre Jim Gordon e Bruce Wayne, que levam Wayne a criar o senso de credibilidade em cima de Gordon

Ao final, 100 episódios são o suficiente para Gotham poder dar um ponto final satisfatório em sua história – embora seu último episódio soe um pouco corrido demais para o gosto dos fãs. De um jeito ou de outro, o frescor apresentado pela série deixa um legado sólido e faz seus espectadores criarem um vínculo capaz de deixar saudades.

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