fbpx

“Coisa Mais Linda” eleva a qualidade das produções brasileiras, em uma série bem intencionada e produzida sobre o Rio de Janeiro da bossa nova.


No último dia 22, a Netflix Brasil estreou sua mais nova produção original. Coisa Mais Linda, já bastante aguardada pelos brasileiros, chegou cumprindo o que prometia e deu o que falar entre o público. Produzida por Beto Gauss e Francesco Civita, os sete episódios foram assunto na internet, colocando a produção nos tópicos mais comentados do Twitter naquele fim de semana.

https://www.youtube.com/watch?v=gi5pXrQhZxQ

Coisa Mais Linda narra a trajetória de Maria Luiza (Maria Casadevall), uma jovem paulista que deixa o filho com os pais e vai para o Rio de Janeiro viver o sonho de abrir um restaurante com o marido. Chegando lá, descobre que ele fugiu com outra mulher, levando todo o seu dinheiro. É nesse contexto que ela precisa encontrar um novo propósito e se reerguer.

O lugar onde seria o restaurante precisa de uma reforma e, por ser mulher, ela não encontra nenhum recurso ou ajuda. Para transformar aquele espaço no tão sonhado clube de música, Malu conta com sua força de vontade e a ajuda de suas amigas, jogando por terra toda aquela história de rivalidade feminina.

Adélia (Pathy Dejesus) é a primeira a oferecer apoio neste momento. Negra e favelada, ela trabalha como empregada doméstica para sustentar a filha e a irmã. A personagem traz à tona todo o racismo presente na sociedade daquela época, e que persiste até os dias atuais, protagonizando cenas fortes e muito reais.

Lígia (Fernanda Vasconcellos), amiga de infância de Malu, é casada e sonha em construir uma família. A moça tem uma bela voz e adora cantar, mas se vê impedida pelo marido de fazê-lo. É aí que se concentra outro ponto de tensão da série: os relacionamentos abusivos. Já Thereza (Mel Lisboa) é uma jornalista que escreve para uma revista para mulheres, mas que é produzida quase que totalmente por homens. Além de ser uma mulher independente, livre e pensar à frente do seu tempo, ela vive uma relação aberta e transparente com o marido.

É nesse contexto que a trama de Coisa Mais Linda se desenrola. Enquanto cada uma lida com suas questões, elas se unem, mostrando como as mulheres evoluem e ficam cada vez mais fortes quando contam com o apoio umas das outras, desfazendo a ideia da rivalidade feminina.

Com figurinos impecáveis e ótima atuação, a produção surpreende os brasileiros acostumados a criticar o que é produzido aqui. Ainda, a fotografia se destaca trazendo toda a cor e o calor do Rio, combinado ao tom vintage, conferindo a ambientação perfeita do final da década de 50 da Cidade Maravilhosa.

A trilha sonora brasileiríssima é um show à parte, já que a trama se passa na época do surgimento da bossa nova e faz referência a grandes nomes da música brasileira da época. No entanto, há uma clara separação de núcleos feita pela música, quando o cenário é a favela, a trilha é de samba, enquanto o jazz e a bossa dominam nos outros espaços, reforçando um estereótipo racista.

Bem intencionada, Coisa Mais Linda se propõe a tratar de assuntos tabus, tanto na sociedade da época, quanto na atual. São muitas as questões polêmicas envolvidas, muitas delas tratadas de maneira bem leve. Por mais que seja ambientada há mais de 50 anos, a série trata de problemas reais da contemporaneidade, provoca a reflexão e abre caminho para as discussões, embora não chegue a se aprofundar.

Em uma das cenas de maior repercussão, Adélia e Malu têm uma discussão onde a aristocrata é confrontada com a realidade da amiga, preta e pobre. Por vezes, além de carregar seus próprios dramas, Adélia ainda acaba sendo responsável por confrontar e trazer estas questões mais pesadas, principalmente diante dos chiliques da amiga.

Coisa Mais Linda evidencia a evolução das produções brasileiras, que vêm melhorado cada vez mais e conquistando os espectadores, tanto no Brasil, quanto em outros países. O final é surpreendente e deixa a trama muito bem encaminhada para um desenrolar em mais episódios. A segunda temporada, no entanto, ainda não foi confirmada pela Netflix – por mais que seu público já esteja pedindo.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Filmes
Guilherme Luis

“Os Crimes de Grindelwald” comete mais crimes que o próprio personagem

“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” chega aos cinemas trazendo novos e velhos personagens em uma trama mais sombria. J.K. Rowling é um gênio. O mundo mágico criado pela escritora inglesa encanta milhões de pessoas ao redor do mundo inteiro, tendo marcado toda uma geração que, por anos, foi aos cinemas para assistir às adaptações de Harry Potter. Com a série de livros sendo um sucesso recorde de vendas, os filmes altamente rentáveis, uma linha de produtos licenciados imensa e o parque temático em Orlando, a marca envolta no mundo bruxo se consolidou como uma das principais franquias da cultura

Leia a matéria »
Retomada
Matheus Moura

Retomada / “Fantasmas” (2010)

Fantasmas marca o início de um trabalho pautado no cotidiano, elemento recorrente nos filmes do diretor André Novais de Oliveira, como também visto no curta-metragem Pouco Mais de Um Mês e no longa-metragem Temporada. Em um exercício cinematográfico voyeurístico, Fantasmas estabelece uma relação subversiva com a linguagem para criticar às tradições técnicas e narrativas do cinema. O curta-metragem filmado em Contagem, considerada a Meca do cinema mineiro muito por conta das produções da Filmes de Plástico, se rebela filmicamente quando entrega uma imagem e uma paisagem sonora ruidosas. Nessas situações, a câmera exerce uma função além da captura de fotogramas, no
Leia a matéria »
Back To Top