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"Casamento às Cegas", novo reality da Netflix, aposta em um formato que mostra como o amor nos tempos modernos pode, de fato, ser cego.

“Casamento às Cegas”, novo reality da Netflix, aposta em um formato que mostra como o amor nos tempos modernos pode, de fato, ser cego.


CCasamento às Cegas é uma das novas apostas da Netflix para prender o telespectador a TV. O reality show consiste em pessoas tentando provar o mantra de que o “amor é cego”, por meio de um experimento. A ideia é que, inicialmente, 15 homens e 15 mulheres que seguem um um padrão de beleza, tem encontros dentro de uma cabine, que só permite a revelação do companheiro quando um pedir o outro em casamento.

No final, são formados seis casais, que partem para uma viagem para o México. Depois apenas cinco casais se mudam, cada um para uma nova casa, e no final do mês se casam. Tudo assim bem rápido, sem tempo de pensar. O reality show tem um ar trash e armado, mas consegue prender o espectador e criar um forte sentimento de curiosidade para saber quem dirá o grande “Sim”, no altar.

Os participantes de Casamento às Cegas chegavam a ficar 19 a 20 horas conversando entre si, no início em encontros de 30 minutos e após começar a aproximação entre os casais poderiam durar várias horas. Essa experiência toda pode lembrar a teoria da modernidade líquida do sociólogo Zygmunt Bauman. Como os casais fogem da realidade, como telefone, redes sociais, pressão social e até mesmo família e amigos, o tempo e espaço para eles é outro.

A teoria de Bauman fala que o momento histórico que vivemos atualmente, em que as instituições, as ideias e as relações estabelecidas entre as pessoas se transformam de maneira muito rápida e imprevisível, “Tudo é temporário, a modernidade (…) – tal como os líquidos – caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma”, escreveu o sociólogo. Aplicando essa ideia ao reality, podemos falar algo de amor líquido, que todos os fatores externos interfeririam em encontrar o amor verdadeiro.

“Casamento às Cegas” é apresentado pelo casal da vida real Nick e Vanessa Lachey

É isso que Casamento às Cegas tenta prevenir, mas quando os participantes voltam a realidade tudo muda. Cheio de cenas apaixonadas e fogosas, mas também cheio de discussões o programa acompanha de perto a vida dos casais é aí que surgem pautas como bissexualidade, preconceito, empoderamento negro e casais inter-raciais. Um dos casais que se forma é Lauren e Cameron, ela negra e ele branco, a participante que tem voz ativa na comunidade negra se preocupa como o noivo será aceito, principalmente pelo o pai, uma das cenas mais tensas. Por mais que sejam coadjuvantes, esses temas aparecem e são importantes, por terem tomado lugar no reality. Nos faz perceber que eles têm lugar até mesmo entre o amor verdadeiro.

A produção surpreende pelo escopo grandioso, com todos os cenários iniciais, nas cabines por exemplo, sendo pensados para aconchegar o participante e fazer com que ele se abra com mais facilidade, tem sofá e mantinha. Todos os lugares têm bebida, para ajudar nessa abertura e proporcionar cenas de amor e conflito. Na segunda fase do experimento câmeras voyeurísticas gravam o máximo que podem do contato físico entre os casais, e no enlace final a marcha nupcial é trocada por uma composição dramática digno de Pedro Almodóvar.

Apesar de toda essa romantização, Casamento às Cegas tende a reforçar ideias patriarcais. A cada episódio a frase ‘’para o resto de nossas vidas’’ é repetida inúmeras vezes. Durante grande parte de sua vida a mulher é ensinada a cuidar da casa, servir o marido, pronta para o casamento, como isso a tornaria completa e que sem o matrimônio ela teriam falhado na vida. E a partir do momento que o reality alcançou milhões de pessoas é preciso pensar nos conceitos que ele propaga, consciente ou inconscientemente. A ideia de que só se é plenamente feliz com o casamento (tanto para o homem, mas principalmente para a mulher), é algo que deve ser rodeado de exceções.

O formato do programa coloca duas pessoas frente a frente – mas cada uma fica em uma sala, sem poder ver a outra pessoa.

O programa tem até um episódio de reunião, gravado após um ano dos casamentos, para mostrar quais casais continuam juntos, quais voltaram e até aqueles que não deram certo terem a chance de se explicar. Ao final, percebemos que Casamento às Cegas é um reality cru e real para alguns participantes, levando-os a perceber paredes que haviam erguido, e principalmente que o amor em tempos de grandes visualizações pode ser cego.

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