fbpx
A 2ª temporada de "Big Little Lies" depende da excelente construção das personagens para deixar o gostinho de “quero mais” no espectador.

A 2ª temporada de “Big Little Lies” depende da excelente construção das personagens para deixar o gostinho de “quero mais” no espectador.


Nota da Colab: este texto contém spoilers.

 

As (muitas) consequências de uma rede de mentiras. Esse é o principal fio condutor da segunda temporada de Big Little Lies, disponibilizada pela HBO a partir de junho deste ano. As expectativas eram altas: a primeira temporada da série conquistou bons índices de audiência, teve uma ótima repercussão na crítica especializada e levou importantes prêmios (como o Emmy e o Globo de Ouro de Melhor Minissérie).

Inspirada na obra homônima de Liane Moriarty, Big Little Lies é centrada nos muitos segredos de cinco mulheres que vivem em Monterey, uma aparentemente (afinal, tudo aqui é sobre aparências) tranquila cidade da Califórnia. A produção foi idealizada para ter apenas uma temporada, mas, por conta da recepção positiva, a segunda parte foi anunciada em abril de 2019.

https://www.youtube.com/watch?v=r5ri-oVizYY

Uma parcela dos fãs da série ficaram consideravelmente apreensivos, já que a primeira temporada é redonda e a trama não carecia de nenhuma continuação. No entanto, uma grande novidade diminuiu a preocupação e aumentou mais ainda as expectativas para a segunda temporada: o nome de Meryl Streep foi confirmado no elenco. Ela interpretaria Mary Louise, uma mãe afoita para investigar a morte de seu filho, Perry Wright (por sinal, um homem abusador). Outra notícia positiva para a série foi a participação de Moriarty, a escritora do livro que originou a produção, como colaboradora do showrunner David E. Kelley para o enredo básico da sequência.

 

Pequenas Mentirinhas, Parte 2

Logo no primeiro episódio da segunda rodada, podemos perceber que Perry se tornou um fantasma na vida das cinco protagonistas da série: Celeste Wright (Nicole Kidman), Madeline Mackenzie (Reese Witherspoon), Bonnie Carlson (Zoë Kravitz), Jane Chapman (Shailene Woodley) e Renata Klein (Laura Dern). Todas têm pesadelos com o momento do “acidente” e, principalmente, sofrem com as consequências de terem escondido o que realmente aconteceu naquela noite. A detestável personagem de Meryl Streep assume o papel de questionar (e atordoar ainda mais) todas elas sobre o ocorrido. Ela inferniza especialmente a vida de Celeste, a viúva de Perry (Alexander Skarsgård).

Muito mais do que a trama em si, a profundidade das personagens é o que segura a segunda temporada de Big Little Lies. Ao longo dos episódios, descobrimos que a morte de Perry está longe de ser o único acontecimento traumático que marcou a vida das protagonistas – todas elas carregam feridas profundas e precisam superar diversos bloqueios. Jane, por exemplo, por ter sido vítima de estupro no passado, tem sérias e compreensíveis dificuldades em confiar no seu novo parceiro, Corey (Douglas Smith). Celeste também luta para recuperar de toda a violência que sofreu ao longo dos últimos anos, além de lidar com o sentimento de luto pela morte de Perry.

Madeline precisa fortalecer a confiança do seu casamento, deixando para trás as lembranças que tem da relação conturbada de seus pais. Renata, que vive em um mundo de aparências, enfrenta a dificuldade de perder boa parte de seu status social. Bonnie passa por sérios problemas de saúde mental e ainda tem que resolver diversas questões do âmbito familiar. A segunda parte da produção, portanto, se debruça em cada um desses processos e na amizade dessas cinco mulheres, chamadas de “The Monterey Five”.

 

Grandes Acertos

Big Little Lies acerta em aprofundar na vida de cada uma das personagens, mostrando que superações acontecem de maneira gradual. Não há fórmula mágica, nem respostas simplistas – destaque para a abordagem complexa de temáticas feministas, como a luta contra a culpabilização da vítima. Tanto Jane quanto Celeste, que sofreram abusos sexuais, escutam horrores sobre as situações que passaram e precisam afirmar recorrentemente que não “provocaram” a situação.

Impossível não citar as atuações e deixar de destacar o trabalho de Laura Dern, cuja personagem é responsável por boa parte dos alívios cômicos da temporada (“I Will Not Not Be Rich!”). Nicole Kidman e Reese Witherspoon continuam impecáveis e, nestes novos episódios, Zoë Kravitz e Shailene Woodley ganham muito mais tempo de tela, tendo a oportunidade de brilhar bem mais do que na primeira temporada. Meryl Streep, como esperado, domina as cenas e encarna com excelência uma personagem repleta de ambiguidades. Ponto também para a trilha sonora impecável, a cuidadosa direção de fotografia e a mise en scène como um todo.

O ritmo da temporada, no entanto, não é regular. Alguns episódios conseguem ser envolventes, ao passo que outros têm um desenrolar demasiadamente lento. Sem a atmosfera de suspense, que permeia a primeira temporada de Big Little Lies, é inegavelmente mais desafiador capturar a atenção do espectador. A sensação é a de que a nova rodada poderia ter sido mais compacta ou, quem sabe, apresentado mais novidades.

É importante ponderar que algumas representações da série podem ser consideradas problemáticas. Especialmente nos últimos capítulos, há uma forte tendência de vilanização das mães. Umas das possíveis interpretações é de que elas seriam as maiores culpadas pelos piores comportamentos de seus filhos – o que, no final das contas, é um grande clichê, que só reforça crenças sexistas.

Apesar dos tropeços, a série termina bem e não sofre uma perda significativa de qualidade, já que é eficiente em criar situações de tensão. A possibilidade de uma terceira parte de Big Little Lies foi inicialmente descartada pela HBO.

Ao pensarmos na excelente construção das personagens (e também no gancho deixado ao final da segunda temporada), ficamos facilmente com um gostinho de “quero mais”. Porém, em termos de trama, é difícil garantir que há mais elementos para serem explorados – e o medo de que uma terceira rodada se transforme num festival de enrolação é mais do que plausível.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Back To Top