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"As Telefonistas" retorna para a sua terceira temporada com uma narrativa ainda mais focada no feminismo e na independência feminina.

Terceira temporada de “As Telefonistas” foge do drama amoroso clichê e dá visibilidade às personagens.


Nota da Colab: Este texto contém spoilers!

A terceira temporada de As Telefonistas, disponível no catálogo da Netflix desde o dia 7  de setembro, é com certeza a mais interessante das duas anteriores. Desviando do drama amoroso (e enfadonho) vivido pela personagem principal, Lídia Aguilar (Blanca Suárez), a nova temporada goza de muito mais ação, ativismo e suspense.

A temporada se inicia a tragédia de um incêndio, que muda completamente a vida das protagonistas. Com esse acontecimento, a história se desenvolvendo a partir daí: alguns personagens recebem menos destaque do que nas outras temporadas, a protagonista perde um pouco do ar misterioso e se revela uma mãe dedicada, as quatro telefonistas (que agora pouco são telefonistas) estão mais unidas que nunca e há presença de novos personagens.

Diferente da primeira e da segunda, a terceira temporada coloca a personagem principal frente a questões mais importantes do que a indecisão entre dois homens. Lídia agora se torna uma mulher madura e dedica-se integralmente ao papel de mãe protetora e capaz de tudo para se vingar pelo desaparecimento de sua filha. Ângeles (Maggie Civantos), que dentre as telefonistas era a mais ofuscada, se recupera da fase de temor vivida na temporada anterior e começa a trabalhar para a polícia. Marga (Nadia de Santiago) se distancia do papel de moça ingênua e desenvolve novas aptidões sexuais. Carlota (Ana Fernández), que agora é herdeira milionária, usa e abusa do ativismo de gênero, batendo na tecla da emancipação feminina.

 

Terceira Temporada

Não há tantas mudanças referente à estrutura de As Telefonistas. O contexto ainda é o mesmo – a caótica Madrid dos anos 1930. Os figurinos agora são mais sérios, os tons das vestimentas são mais escuros e fortes, assim como a maquiagem. Lídia, que antes abusava dos tons vermelho e rosa, agora escolheu as cores vinho e preto para viver o luto. A trilha sonora, que não acompanha o estilo musical presente nos anos 30, faz uma brincadeira com a questão da discordância dos estilos de época. Sendo uma característica marcante da série, o estilo pop eletrônico das músicas atuais compõe as cenas dos típicos cabarés.

O enredo agora é mais cativante – há mortes, suspense, brigas e desaparecimentos de personagens. Lídia sai do sofrimento entre o passado e o presente e mesmo tendo decidido ficar com Carlos (Martiño Rivas), as demonstrações de afeto entre o casal são poucas durante a temporada. O trio, incrementado com Francisco (Yon Gonzales), fica em segundo plano e a protagonista se atém em encontrar sua filha Eva, desaparecida logo no primeiro episódio. Além disso, o novo enredo se preocupa mais em cercar a vida pessoal das quatro integrantes do grupo, deixando os homens em segundo plano.

A rivalidade entre Lídia e a sogra, Carmen Cifuentes (Concha Velasco), fica mais em evidência nesta temporada. Carmen, por sua vez, se torna uma vilã muito mais raivosa que nas outras temporadas, abusando da manipulação e egoísmo para conseguir as coisas a seu favor. Ainda que fastidiosa, a disputa gato e rato entre as duas é o que move os conflitos presentes em As Telefonistas. A personagem Marga ainda é a telefonista mais cômica, mas agora é mais madura e dispõe de um corte de cabelo mais adulto e aprimora suas vontades sexuais com a ajuda de uma leitura pornô, já que não está na melhor fase de seu casamento com Pablo.

Carlota, que se dedica completamente a pautas feministas, ocupa seu tempo com o Violetas, um grupo de ativistas feministas no qual fazem parte Sara e as demais telefonista, e, além disso, desenvolve um programa de rádio para mulheres e feito por mulheres, onde dissemina pautas progressistas. O ativismo de Carlota é bem mais admirável que nas temporadas anteriores. Mesmo tendo como obstáculo a sociedade misógina e defensora da moral e dos bons costumes da Madrid de 1930, Carlota e as integrantes do Violeta mostram que estão dispostas a tudo para defenderem seus direitos civis. Já Ângeles, que possui uma evolução admirável, vive uma vida dupla trabalhando para a polícia. Ainda que não tenha alcançado a liberdade e autonomia que tanto deseja, ela agora é mais empoderada e representa uma personagem bem mais interessante, que está cansada de ser cercada pelo machismo dissipado pelos homens (e nós também).

Em questões gerais, a temporada é a melhor de As Telefonistas até então. As protagonistas estão mais maduras, as questões abordadas agora são mais sérias e o drama do triângulo amoroso entre Lídia, Francisco e Carlos finalmente chegou ao fim. Ainda assim, o novo ano peca em não tratar com tanta profundidade a questão da transexualidade de Sara, que fica ofuscada pelas necessidades de Carlota, ou até mesmo a questão do abuso de drogas, caso enfrentado pelo personagem Miguel. Outro ponto negativo é que a produção não mostra, desde a ascensão do casal, a visão da sociedade perante a relação homoafetiva entre Sara e Carlota – tendo em vista que a relação entre duas mulheres era repudiada e considerada crime.

Mesmo com alguns pontos negativos, o programa acerta em colocar Marga desenvolvendo aptidão com os números, dando esperanças de que na temporada seguinte seja uma líder e ocupe um espaço predominantemente masculino, mostrando que as mulheres têm a mesma capacidade que os homens ao assumir cargos que envolvam contas e raciocínio lógico. Para a quarta temporada, que já está sendo filmada e tem previsão para 2019, fica a torcida de que alguns personagens não sejam tão unilaterais e sim aprofundados, como o caso da irmã de Carlos, Elisa (Ángela Cremonte), que poderia ser bem mais aproveitada por ser da família Cifuentes, além de trazer um assunto de grande relevância: saúde mental.

As Telefonistas deve ser contemplada por ser uma ótimo opção de entretenimento e por dar ênfase ao protagonismo das mulheres. Mesmo que errando em alguns aspectos, a série tem evoluído bastante na questão da representatividade e no relacionamento entre as quatro amigas. Além disso, a série é divertida e ao mesmo tempo cativante com sua trama de suspense.


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