fbpx
"(Des)encanto" é uma produção do mesmo criador de Os Simpsons e Futurama, que chega ao catálogo da Netflix sob muita expectativa.

Depois dos sucessos  Os Simpsons e FuturamaMatt Groening retoma os aclamados traços e se aventura em uma estética medieval com (Des)encanto, sua nova série para a Netflix. A animação se passa no reino mágico da Terra dos Sonhos e acompanha as aventuras e desventuras da princesa alcoólatra Tiabeanie, ou simplesmente Bean, uma jovem rebelde que só pensa em diversão, bebida e sexo. No fatídico dia de seu casamento, ela recebe um misterioso presente: Luci, seu pequeno e sagaz demônio pessoal, que a atormenta e está sempre disposto a tentá-la a tomar má decisões e fazer coisas erradas.

Simultaneamente, em uma floresta mágica repleta de alegria e doces, está o simpático Elfo chamado Elfo, que entediado de toda essa felicidade abandona sua realidade extraordinária à procura de experiências e aventuras no mundo real. Por possuir sangue mágico, o pequeno vira alvo de interesse do Rei Zog e dos magos do reino que pretendem usar a simpática criatura para seus interesses. Sua chegada a Terra dos Sonhos completa o trio que mais vai causar confusões na idade das trevas.

https://www.youtube.com/watch?v=-eFhSOjspq4

Sem a presença da mãe, a Rainha Dagmar, Bean se vê em uma relação um tanto quanto conflituosa com seu pai, uma figura não muito diferente do patriarca da família Simpsons – rechonchudo, desnorteado e grosseiro. Ainda, ela tem que lidar com o segundo casamento dele para estabelecer a paz entre reinos com sua misteriosa madrasta, a Rainha Oona, meio humana meio salamandra. A falta de afetividade em seus laços familiares é um dos motivos da rebeldia de Tiabeanie, que foge dos deveres da realeza e faz tudo como bem entende, sem pensar nas consequências, rompendo, assim, com os estereótipos da donzela que está à espera do cavaleiro para te salvar.

O estilo visual da animação denuncia que (Des)encanto tem alguma ligação com as outras produções de Groening. Por meio de um easter-egg encontrado em um dos episódios, é possível pensar na possibilidade da série se passar no mesmo universo de Futurama. A revelação ocorre quando Luci usa uma bola de cristal que mostra Fly e outros personagens em uma máquina do tempo, estabelecendo que a animação pode se passar em algum período do passado desse universo. Outra referência interessante acontece quando Elfo descreve uma antiga namorada, e a descrição bate exatamente com a personagem Leela – uma garota de uma terra distante, órfã, que tem um olho só – uma das protagonistas de Futurama.

Com cada um dos 10 episódios da série levando o público para uma canto diferente, o trio de protagonistas, cuja “química” é um dos pontos altos da produção, se vê em uma longa e divertida jornada. (Des)encanto desbrava florestas, pântanos e vulcões, ao mesmo tempo em que apresenta seu universo de seres, como ogros, trolls e sereias.

É uma trama crescente que apresenta um censo de humor ácido e sarcástico, revisita diversos clichês medievais, como invasores vikings, referências religiosas, uma sociedade secreta de magos e a facilidade das sociedades medievais em começar guerras. Mesmo em uma época tão distante, a produção consegue tratar de assuntos atuais como o machismo, o uso de drogas e a igualdade de gênero.

A fotografia funciona bem com cenários elaborados, trabalhando nos extremos: de um lado casas e lugares coloridos e de outro pântanos e florestas medonhas, utilizando esporadicamente do 3D, com apresentações ricas do reino da Terra dos Sonhos. Apesar de não ser a mais animada, a trilha sonora medieval assinada por Mark Mothersbaugh é bem colocada. A dublagem nacional é repleta de referências a músicas, memes e particularidades brasileiras agrega ao programa sendo um dos grandes destaques da animação, aproximando de maneira incomparável o público, pecando, no entanto, no excesso – o que deveria ser icônico, acaba se tornando forçado.

A série, que repete a mesma estrutura humorística das produções de Groening, sofre com a necessidade de contar uma história de longo prazo com seus episódios irregulares e falha em não aproveitar as varias opções que poderiam ser exploradas e acabam sendo deixadas de lado. Ações que deveriam gerar algum tipo de consequência não atingem esse contexto e são jogadas ao vento, fazendo com que em boa parte da temporada a história não se desenvolva e entregue um final de narrativa intenso em que a trama é aprofundada, mas somente para colocar certos fatores em destaque e deixar várias lacunas e ganchos para serem possivelmente explorados em temporadas futuras. Definitivamente, é uma série que está tentando se encontrar.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Back To Top