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"3%", série brasileira original da Netflix, sabe mesclar boas atuações, um roteiro inteligente e críticas sociais, em uma produção sólida.

“3%”, série brasileira original da Netflix, sabe mesclar boas atuações, um roteiro inteligente e críticas sociais, em uma segunda temporada sólida.


33%, primeira produção da Netflix brasileira estreou sua segunda temporada no dia 27 de abril. Muito aguardada por alguns e nem tanto por outros, os dez episódios surpreendem e mostram a evolução da série frente à temporada anterior. Em ambas, tivemos as críticas sociais presentes ao longo dos episódios, mas dessa vez, o posicionamento mais concreto dos personagens diante de suas inquietações e desacordos com a sociedade ganhou destaque. A questão que permeia toda a narrativa é: afinal de contas, o processo 105 vai acontecer ou não?

Depois de passarem pelo processo, Rafael (Rodolfo Valente) e Michele (Bianca Comparato) chegam ao Maralto. A nova vida, no entanto, parece não agradá-los tanto assim. Ela só pensa em resgatar o irmão; ele, por outro lado, quer ajudar a causa a cumprir seu objetivo e acabar com o processo. Porém, é muito fácil se deixar levar pela boa vida do outro lado do continente e muito difícil ser infiltrado sem levantar suspeitas.

Alvo de muitas críticas na primeira temporada, 3% surpreende na segunda. Há uma melhora considerável na direção e na fotografia, que receberam mais atenção e atraem mais, esteticamente falando. Bem como os figurinos, que estão mais naturais e não forçam tanto a barra como as roupas rasgadas e caras sujas da primeira parte. O roteiro também progride, e apesar de ter deixado alguns pontos de interrogação, cumpre seu papel.

Os personagens ganham mais profundidade, mais personalidade e evolução. Podemos conhecer alguns detalhes de suas vidas antes do processo, memórias, desejos e sonhos. A atuação, apesar de também ter melhorado consideravelmente, continua sendo o maior alvo de descontentamento do público.

Dessa vez, podemos conhecer melhor o Maralto, contrastando o continente que nos foi apresentado e chocando, mais uma vez, no quesito desigualdade social. Várias referências à Black Mirror mostram a discrepância entre a tecnologia avançada e a qualidade de vida que desfrutam os vencedores do processo, diante da miséria do continente.

A inserção de novos personagens de 3% e o enfoque em outros que não aparecem tanto anteriormente, traz dinamismo à narrativa, tornando-a mais interessante. Além disso, nos surpreendemos com alguns que voltam a aparecer, mas com uma pegada completamente diferente. Um dos destaques desde a temporada passada é Joana (Vaneza Oliveira), que dispensa apresentações e se destaca sempre pela inteligência e lealdade a seus ideais. Outra que desperta sentimentos no público é Marcela (Laila Garin), uma daquelas vilãs que amamos odiar.

A representatividade é um ponto muito positivo da série, mostrando a diversidade do Brasil e atendendo aos anseios do público, que busca, cada vez mais, por essa característica nas obras. Mulheres em lugares de poder, negros que não são apenas figurantes e uma das personagens mais marcantes, Ariel (Marina Matheus), uma mulher trans que faz tudo para alcançar seus objetivos e se destaca, principalmente, das cenas do processo.

A narrativa de 3% carrega uma tensão que ultrapassa a tela, despertando no espectador entimentos extremos, da ansiedade à surpresa, sem falar nas  reviravoltas, que são o grande diferencial da temporada. Além, é claro, das revelações chocantes apresentadas ao público. Em um pontos altos da trama, temos respostas à muitas das questões que permeiam a criação do maralto e a destruição do continente, bem como a história por trás do casal fundador, que vêm à tona para trazer mais inquietação.

Diante da beleza das cenas, umas das mais bonitas e comentadas entre o público foi o carnaval de rua do continente, que antecede o processo. Cheia de cores, traz a cantora Liniker, entoando Preciso me Encontrar, de Cartola. Um momento emocionante, de enorme contraste com a realidade brasileira.

A crítica social é tão presente em 3% que nos permite traçar um paralelo à nossa realidade, apesar da distopia. Temos referências à intervenção militar, crítica ao fanatismo religioso, entre outras semelhanças. O reflexo da nossa sociedade no continente é tão grande, que uma das cenas do último episódio traz um escancarado “Fora Temer”, pichado em um muro do continente, mesclando a vida e a arte.

3% veio para mostrar que o Brasil pode sim produzir conteúdo à altura, queimando a língua de quem desacreditou da criação de uma ficção científica nacional de qualidade. Apesar dos pontos que claramente ainda podem melhorar, a série segue no caminho certo. A segunda temporada cumpriu seu propósito e levantou mais questões. Além disso, elevou as expectativas para uma próxima temporada, que já está sendo esperada pelo público ansioso.


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