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Fora da Matrix: a poética narrativa dos quadrinhos

"Pílulas Azuis" é um romance gráfico sobre um casal heterossexual que vive com o vírus HIV, em uma história íntima e sensível.

“Pílulas Azuis” é um romance gráfico sobre um casal heterossexual que vive com o vírus HIV, em uma história íntima e sensível.


DDeterminadas histórias precisam de técnicas específicas para ganhar forma e narrativa, pois, nem sempre, modelos mais convencionais são capazes de sintetizar o que o autor quer transmitir para os seus leitores. O romance gráfico Pílulas Azuis (2001) surgiu com essa necessidade, quando o quadrinista suíço Frederik Peeters escreveu sobre a sua própria história após enxergar a necessidade de contá-la. A obra foi vencedora do prêmio Polish Jury Prize no festival de quadrinhos Angoulême, na França.

Autobiográfico, Pílulas Azuis narra o encontro de Frederik com Cati, uma garota que a princípio chamou sua atenção, mas acabaram se desencontrando durante os caminhos inexatos propostos pela vida. Poucas vezes, por coincidência ou não, eles se encontraram em outros momentos e Frederik descobria detalhes novos sobre quem ela é e seus desafios. Contudo, a história entra no avesso quando a perspectiva deixa de ser aberta e passa a ser intimista, pois o autor e personagem principal descobre que Cati, além de ser mãe solteira, tem HIV e seu filho também é infectado pelo vírus.

Mesmo sendo soropositiva, o suíço iniciou um relacionamento com ela cercado de uma rotina metódica para saber lidar com uma doença extremamente estigmatizada. Nesse ponto, o médico que atende Cati e o filho dela abre a porta para uma nova compreensão sobre o que é o HIV e os seus riscos. Tanto que, muitas vezes, compara a chance de contágio à mesma de cruzar com um rinoceronte branco no centro da cidade. Algo impossível, mas que ainda assim cria inseguranças na mente do casal que tenta compreender como é possível criar uma relação saudável entre os dois. Nesse ponto, a poética de Pílulas Azuis é de grande importância para expor os pensamentos que inundam a cabeça do protagonista.

Em um momento de complicação, o sexo para os dois sempre foi algo limitado pelo medo do contagio. Como se sempre precisassem de camisas de força para manter a segurança em um momento tão íntimo e comum para qualquer casal, saber das impossibilidades da transmissão do vírus foi como libertar os amantes e trazer a leveza necessária dos quadrinhos. Com desenhos que completam a narrativa escrita, mas também possuem potencial para contar uma história própria em determinados momentos.

Aos poucos, Peeters desfaz o nó sobre a vida de quem é soropositivo e todo o tabu, incertezas e inseguranças causadas pela desinformação. A obra do quadrinista é reforçada pela análise íntima que ele cria enquanto dialoga sobre o seu lugar na criação do filho de Cati e como tornar mais leve o relacionamento entre os três. Com uma necessidade natural de tentar entender as nuances da vida, Pílulas Azuis abre um novo diálogo não apenas sobre as pessoas soropositivas, mas de como precisamos ser sensíveis a situação do próximo.


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