fbpx

O mês de junho, símbolo das tradicionais festas juninas, este ano é também marco de outros eventos. Além do mundial de futebol na Rússia, o período de trinta dias também representa o 110º aniversário da Imigração Japonesa no Brasil e, não menos importante, o primeiro ano da ZINT. Em sua primeira edição foi publicada uma pequena matéria sobre a reedição da obra-prima de Katsuhiro Otomo, o mangá Akira. Nesta edição especial o assunto não poderia ser diferente.

De lá para cá, o mercado nacional de mangás parece ter crescido significamente. Nos últimos doze meses foram lançados ou relançados cerca de 20 títulos, média de quase dois por mês. Os números são positivos, mas poderiam ser mais expressivos não fossem as crises política e econômica do país, que refletiram, inclusive, na recente alta de preços dos impressos e na sua já atrapalhada forma de distribuição.

Dentro desse contexto, as editoras brasileiras de quadrinhos sobrevivem ao aparente aquecimento das vendas de mangás, principalmente por meio de lançamentos inéditos e edições especiais para colecionadores, que acabam por justificar o preço muitas vezes “salgado”. Entretanto nem tudo são flores. Apesar do investimento na oferta e qualidade de novas histórias, que justifica a boa fase de vendas nos últimos dois semestres, nem sempre os títulos chegam às gráficas de acordo com a periodicidade anunciada.

Esse problema ficou mais que explícito no processo de negociação do volume dois de Akira. Anunciado em junho de 2017 com periodicidade semestral, a segunda parte da história cyberpunk de Kaneda e Tetsuo só chegará de fato às prateleiras este mês. Parte desses atrasos justifica-se na negociação direta das editoras com empresários japoneses, além das provas de impressão, que são enviadas a Terra do Sol Nascente e só depois de aprovadas lá são impressas, aqui, desse lado do globo.

Segundo a JBC, empresa detentora dos direitos de diversos títulos de mangás no Brasil, o atraso de Akira deu-se principalmente na aprovação das páginas, que foram supervisionadas por ninguém menos que o próprio Katsuhiro Otomo. A editora desculpou-se ao anunciar que, finalmente, o segundo volume do clássico foi aprovado e garantiu que o problema não ocorrerá novamente, pois as provas agora são enviadas com antecedência ao Japão. A medida parece repetir-se nas concorrentes que, até o momento, conseguem cumprir com a periodicidade dos títulos no qual são responsáveis.

Felizmente casos como o de Akira são esporádicos e os atrasos, quando acontecem, são resolvidos em algumas semanas. Essa demora também não interfere no lançamento de novas histórias, o que muitas vezes acalmam os fãs mais ansiosos.

 

Lançamentos

O relançamento de Akira foi o grande destaque nos anúncios de mangás ano passado, entretanto os lançamentos não pararam por aí. Nos últimos 12 meses muitos títulos chegaram às lojas.


Fullmetal Alchemist – Guia Completo

Divido em três volumes e periodicidade semestral, o Guia traz muitos detalhes do mundo dos irmãos Elric, além de curiosidades, jogos e entrevistas com a autora da série Hiromu Arakawa. Lançado em julho de 2017, o título está com o cronograma atrasado em alguns meses. O terceiro volume deve chegar às lojas somente em setembro.

 


Fairy Tail Gaiden e Fairy Tail Zero

Também divido em três volumes e periodicidade bimestral, Gaiden é uma trilogia de histórias totalmente produzidas pelo mangaká Kyouta Shibano, que se baseou na história original da série de Hiro Mashima. Lançado em dezembro passado, foi finalizado em abril. Já o spin-off Fairy Tail Zero, escrito e desenhado por Mashima, foi lançado em volume one-shot em outubro de 2017. A edição única conta as origens da guilda de Natsu, Elza, Grey e Lucy.


Battle Angel Alita – Gunnm Hyper Future Vision

Clássico do cyberpunk, o mangá de Yukito Kishiro foi relançado em novembro de 2017 e finalizado este mês. Em formato big foi publicado bimestralmente e versão impressa completa em quatro volumes. Famosa na década de 1990, a história de Alita deve chegar aos cinemas em dezembro deste ano. O live action Alita: Anjo de Combate conta com elenco premiado, direção de Robert Rodriguez e produção de Jon Landau e James Cameron, os dois últimos responsáveis pelos estrondosos Titanic (1997) e Avatar (2009).


The Ghost in the Shell 2.0 – Manmachine Interface

O último semestre de 2017 deu vez aos mangás do cyberpunk. A sequência na jornada da Major Makoto Kusanagi chegou as livrarias e lojas especializadas em dezembro. Escrita e ilustrada por Shirow Masamune, autor da obra original, a edição é considerada luxuosa e conta com cerca de 200 páginas coloridas.


Another e Another 0

Famoso por suas adaptações, Another foi relançando em nova edição e acabamento em março deste ano. Desta vez, a principal novidade é o formato box de colecionador, que reúne os quatro volumes da série e o spin-off Another 0. A história extra é roteirizada por Yukito Ayatsuji e caracterizada por Hiro Kiyohara, autores da obra original.


Platinum End

Inédito no Brasil, o título é resultado da parceria bem-sucedida de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, autores do aclamado Death Note. Anunciado em outubro de 2017, o mangá finalmente foi lançado em abril com periodicidade bimestral. A história do jovem Kakehashi está em publicação no Japão e no momento conta com sete volumes.


Little Witch Academia

Sucesso mundial no catálogo da Netflix, o anime de Yoh Yoshinari e Masahiko Otsuka, produzido pelo estúdio Trigger, ganhou sua adaptação em mangá assinada por Keisuke Sato ano passado. Anunciada em abril, as aventuras de Akko estão divididas em três volumes de periodicidade trimestral, a primeira parte chega ao mercado no fim desse mês.


Os Cavaleiros do Zodíaco – The Lost Canvas

Uma das franquias mais famosas de mangás no Brasil, The Lost Canvas será republicada 11 anos após sua primeira publicação no país. Anunciada em fevereiro, a série roteirizada por Masami Kurumada e ilustrada por Shiori Teshirogi será relançada ainda este mês com periodicidade mensal. Além disso, a guerra entre Athena, Alone, Tenma e demais cavaleiros virá em formato especial para colecionadores em 25 volumes com capa metalizada. Destes, os doze primeiros já estão disponíveis para pré-venda em lojas online.


Rosa de Versalhes

Também inédita no Brasil, a obra é considerada uma das mais importantes dos mangás shōjo – voltado para o público feminino. Produzida no início da década de 1970, a história de Oscar François e Maria Antonieta baseia-se em alguns fatos históricos da Revolução Francesa e promove reflexões sobre igualdade de gênero, senso de justiça e direitos humanos. Anunciado em março, o trabalho da mangaká Riyoko Ikeda ainda não tem previsão de lançamento ou formato.


Oyasumi Punpun / Boa noite Punpun

Premiado internacionalmente, o mangá de Inio Asano é sinônimo de sucesso por onde passa. Anunciado em abril, o enredo que acompanha de vida de Punpun, da infância ao inicio da vida adulta, será publicado em formato big e sete volumes, como nos Estados Unidos. No Japão, o mangá de gênero slice of life foi publicado 13 volumes. A estreia nas prateleiras brasileiras, entretanto, ainda não tem data confirmada.


Erased / Boku dake ga inai machi

Assim como Another, Erased também é famoso por suas adaptações. Virou anime, produzido pelo estúdio A-1 Pictures, em 2016 e série live action, produzida pela Netflix, em 2017. A trama gira em torno do jovem mangaká Satoru Fujiuma e suas pequenas viagens no tempo, chamadas de “revival”. Também anunciada em abril, a obra de Kei Sanbe não teve detalhes divulgados. Na Terra do Sol Nascente a tragédia evitada por Sotoru foi publicada em oito volumes.


Dragon Ball Super

Sequência do clássico de Akira Toriyama, a franquia ajudou a popularizar a venda de mangás no país. O mangá é roteirizado pelo próprio Akira e ilustrado por Toyotaro e foi revelado pelo site de registro do ISBN este mês. A estreia no Brasil está agendada para julho e terá periodicidade bimestral. As novas aventuras de Goku e companhia são publicadas no Japão desde 2015 e possuem atualmente seis volumes.


Boruto

Continuação direta de Naruto, o mangá é supervisionado por Masashi Kishimoto, autor da obra original, e conta com Ukyo Kodachi no roteiro e Mikio Ikemoto na arte. A notícia de que a séria ilustrada de Boruto será publicada no Brasil vazou junto com Dragon Ball Super no site de registro do ISBN. O título também terá periodicidade bimestral com lançamento previsto para junho. Em publicação no Japão, conta, até o momento, com cinco volumes.


Fire Force

Mais um dos títulos vazados pelo site do ISBN, o mangá de Atsushi Ohkubo também terá periodicidade bimestral e estreará em solo brasileiro em julho. Publicadas no Japão desde 2015, as confusões de Shinra na caótica Tóquio tem atualmente seis volumes publicados.


The Promised Neverland

Um dos primeiros mangás vazados pelo ISBN, a obra de Kaiu Shirai e Posuka Demizu chegará as bancas em agosto com periodicidade bimestral. O enredo das crianças órfãs conta até o momento com nove volumes publicados no Japão.


Eden’s Zero

A mais nova história de Hiro Mashima, autor de Fairu Tail, será lançada simultaneamente com o Japão em formato digital. É a primeira vez que isso ocorre no país. O primeiro capítulo já sai esse mês e os demais serão publicados semanalmente. A distribuição simultânea do mangá também ocorrerá nos país de língua francesa, inglesa, coreana, chinesa e tailandesa.

 

Distribuição

É ilógico não deduzir que o maior mercado de mangás do mundo está no Japão. No pequeno arquipélago do Monte Fuji este tipo de entretimento é mais que comum, faz parte do cotidiano de todos, em todas as idades. Não existem números oficiais, mas estima-se que a indústria dos quadrinhos represente cerca de 40% de impressos na Terra do Mangá. Por ano, movimentam a cifra dos bilhões de dólares, pois são vendidos em média 750 milhares de exemplares.

Em outras localidades do planeta a venda de mangás também não deixa a desejar. Só nos Estados Unidos este tipo específico de quadrinho movimenta mais de 200 milhões de dólares anualmente. Países como França, Alemanha e Itália também alcançam, facilmente, a casa do milhões em vendas.

No Brasil, o setor de quadrinhos, de modo geral, tem representatividade no setor de impressos, entretanto ainda não se compara com indústrias gigantescas faladas anteriormente. Outros fatores contribuem para isso, como convergência de mídias e crise econômica fizeram com que grandes editoras escolhessem ou fechassem as portas. As empresas que sobreviveram parecem estabilizadas, mas as sequelas ficaram.

Dentro os problemas que ficaram está a distribuição dos mangás. O que já não era muito bom piorou. Com isso, as principais editoras de quadrinhos decidiram: mangás não serão mais comercializados em bancas de revistas. Aquelas, que você encontra em quase toda esquina dos grandes centros urbanos do país.

O problema, como dito, já é antigo. No Brasil, a distribuição nacional em bancas de revista é feita por apenas uma distribuidora, pertencente ao Grupo Abril. Grupo este que, apesar de ser gigante no mercado nacional de impressos, vem passando por cortes de gastos há alguns anos. Não demorou para o serviço de entrega piorar.

Nesse contexto, iniciou-se a debanda das editoras. Em 2016, a NewPOP anunciou o encerramento da venda de seus títulos em bancas de revistas. No ano seguinte, foi a vez da Panini (Planet Mangá) também romper com a empresa do Grupo Abril e deu inicio a negociação direta com distribuidoras regionais. Este ano a JBC seguiu a tendência e decidiu retirar alguns de seus mangás das bancas.

Atualmente, os títulos das três editoras podem ser adquiridos por meio de assinaturas, livrarias e lojas especializadas. Apesar de ainda disponibilizar alguns mangás nas bancas e dizer que cada título será comercializado de acordo com sua necessidade, ao que tudo indica, a JBC deve retirar todos os seus impressos das bancas ainda esse ano, de forma gradativa como vem fazendo. Além disso, a editora continua investindo pesado em mangás digitais. No momento, são mais de 160 volumes disponíveis em ebooks na loja virtual da empresa.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Back To Top