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“Astroworld” coloca Travis Scott em um novo patamar, com um álbum ambicioso e bem construído – e com algumas polêmicas.


O dia 3 de agosto foi um pouco ocupado para o rap, que além de trazer os novos álbuns de Mac Miller e YG, teve o lançamento do aguardado ASTROWORLD, de Travis Scott (ou La Flame). A produção de Travis comporta colaborações de grandes artistas, recebeu inúmeras críticas positivas, carrega consigo anos de dedicação, superou a expectativa das vendas e até causou polêmica.

Com todas as letras em maiúsculo, ASTROWORLD é o terceiro álbum de estúdio do rapper, sucedendo Birds in The Trap Sing McKnight, de 2016. O título, que tem Mike Dean como produtor chefe e é lançado sob os selos Grand Hustle Records, Epic RecordCactus Jack Records, conta com ilustres participações especiais tanto nos vocais quanto na produção musical. Enquanto Frank Ocean, DrakeThe Weeknd emprestam suas vozes para as músicas CAROUSELSICKO MODEWAKE UP e SKELETONS, respectivamente, artistas como Allen Ritter, Hit-Boy, Tay Keith, Tame Impala, Sonny Digital, John Mayer ficam encarregados de diversos dos arranjos ouvidos no álbum.

A tracklist é composta por dezessete músicas no total. BUTTERFLY EFFECT é o single principal de ASTROWORLD, lançada em maio de 2017. A faixa, produzida pelo frequente colaborador de Drake, Murda Beatz, foi a primeira música confirmada a aparecer no álbum que viria apenas um ano depois.

O disco é o resultado de um grande planejamento e dedicação do artista, que já tinha um nome pro projeto antes mesmo de lançar seu segundo álbum em 2016. ASTROWORLD foi revelado no mesmo ano, durante a ANTI World Tour, turnê de Rihanna, em homenagem ao parque que marcou sua infância, o finado Six Flags AstroWorld. Localizado em Houston, no Texas. Em entrevista para a versão britânica da revista GQ, em 2017, Scott contou que o projeto é como tirar a diversão de uma criança: “Eles demoliram o AstroWorld para construir apartamentos, e é assim que esse álbum vai soar, como tirar um parque de diversões de crianças, queremos de volta. É por isso que eu estou fazendo isso. Eles tiraram a diversão da cidade”. Para o rapper, o álbum é o fim de uma saga iniciada por Rodeo, seu primeiro álbum, lançado em 2015.

 

Parque Musical

Capa “limpa” do álbum

STARGAZING abre o álbum com o uso marcante do auto-tune, dispositivo eletrônico que pode disfarçar breves incorreções vocais ou tirar a naturalidade da voz, dando força às batidas e ritmos da faixa. CAROUSEL introduz uma melodia com os vocais bem demarcados de Ocean, que encanta o ouvinte. A música acabada de supetão induzindo uma entrada para a seguinte.

A transição para SICKO MODE é discreta, começando com o som de um órgão. A participação dessa vez é Drake, que assume os primeiros vocais da música, seguido por uma dança da versos entre o cantor e Travis. Se uma hora o canadense é repentinamente interrompido com uma virada no beat, na outra Travis retorna apenas para trocar, mais uma vez, de lugar com Drake.

A primeira apoteose do álbum começa com STOP TRYING TO BE GOD, cujo o refrão afirma: “Pare de tentar ser Deus / Não é quem você é / Pare de tentar ser Deus / Esse não é o seu trabalho”. Travis insere a ideia de poder, controle e reconhecimento, mesclando outros temas como amor e relações. O final é emocionante, que dá um monólogo profundo para James Blake.

Já SKELETONS, por sua vez, passa a produção para outro ritmo. Pharrell Williams e The Weeknd participaram da composição produzida pela banda Tame Impala. Mas é apenas em WAKE UP que The Weeknd se revela o grande artista que é ao impressionar a todos a partir da orientação do maestro Travis. A faixa, a única com um começo acústico, tem uma temática mais romântica ao falar sobre não querer sair da cama e permanecer nos lençóis com a garota de seus doces sonhos.

NC-17 dá um foco maior a temática do álbum: seu tom nostálgico faz lembrar um parque de diversão, que dá inspiração para capa do álbum e é o grande objetivo de Travis. A repetição das batidas e a música melódica de parques de diversões no plano de fundo leva o ouvinte, em apenas 2 minutos e 38 segundos, a uma nova dimensão, onde a melancolia, alegria e nostalgia se configuram em um plano só, proporcionando uma ideia de um sentimento feliz que acabou e não vai retornar.

Ensaio fotográfico para a promoção do álbum “ASTROWORLD”

YOSEMITE e CAN’T SAY são as faixas que comportam mais intimidade com suas letras e seus ritmos que diferem das demais. A primeira é uma música lenta em comparação com as outras, parecendo uma balada pura se não fosse pelas batidas constantes. A entrada da segunda quebra a lentidão da antecessora, dando uma emoção nova ao álbum que é mediada ao longo da faixa, variando o ritmo balada com o ritmo de hip-hop.

Por fim, COFFEE BEAN fala sobre a relação de Scott com Kylie Jenner, comparando-os ao famosa casal de assaltantes Bonnie e Clyde, que em 1929 viverem uma história de amor, roubos e tiroteios nos EUA. Leais um ao outro, Travis é a má influência (Clyde) e Kylie a boa moça (Bonnie). A faixa traz o rapper romântico, revelando sua felicidade em ter uma vida com Jenner e com a filha deles, Stormi.

A letra também expõe como os pais de Kylie não aceitaram a união dos dois por Scott ser, segundo eles, uma péssima influencia, podendo ser o catalizador de uma possível má reputação de Jenner. Além disso, a música traz trechos onde Travis Scott revela suas inseguranças e lamenta ter acidentalmente engravidado sua namorada e atual esposa, ao mesmo passo que demonstra o quanto gosta da relação e como é perdidamente apaixonado por Kylie.

Travis Scott e Kylie Jenner no tapete vermelho do Met Gala 2018

A junção das músicas configura um ato só, como uma sinfonia regida pelo maestro Travis – sua orquestra são suas as participações. Cada faixa tem seu próprio clima e sentimentos juntos em um único efeito de diversidade, e todos os convidados fazem parte disso de forma harmoniosa. A escolha dos produtores revela a criatividade rítmica e as mudanças harmônicas que o rapper buscou transformando a obra em sua produção de maior sucesso.

ASTROWORLD é como se fosse um verdadeiro parque de diversões organizado e planejado por uma única mente, mas com participações que dão vida a diferentes brinquedos ou atrações, que ora alegram, ora impressionam e até nos enjoam com tantas reviravoltas. Mas, ainda sim, elas nunca deixam de cativar seu público.

 

Marketing

Para lançar ASTROWORLD, Travis fez uso de um marketing diferente, surpreendendo os fãs. No dia 27 de julho, a aparição de uma cabeça gigante dourada de Travis Scott instalada no topo de um dos marcos mais famosos de Hollywood, a loja Amoeba Music, anunciava a chegada do aguardado álbum. Depois de uma semana, outras duas cabeças gigantes apareceram no Minute Maid Park, em Houston, cidade natal de La Flame. No dia seguinte, a terceira apareceu no topo do Hard Rock Cafe, na Times Square de Nova York.

Na manhã do dia 30 de julho, Scott confirmou a data de lançamento e compartilhou um trailer que revelou a faixa STARGAZING. Em uma entrevista para o programa de rádio Beats1, da Apple Music, o rapper comentou sobre seu trabalho e expôs seu perfeccionismo. “O álbum está terminado, é claro. Eu e Mike vamos até o último dia. Eu gosto de ouvir várias vezes, e, assim, ir aperfeiçoando a vibe. Eu não gosto de sair do estúdio até essa m**** estar certa”.

 

Colocações

Capa explícita do álbum

ASTROWORLD tirou o reinado de cinco semanas do álbum Scorpion, de Drake, da Billboard 200, lista da revista Billboard que classifica semanalmente os 200 álbuns e EP’s mais vendidos nos EUA. O álbum vendeu 537 mil unidades na primeira semana, sendo 270 mil delas em mídia física, quebrando o recorde de maior número feito em uma semana de 2018. Após o lançamento do álbum, algumas das 17 faixas entraram simultaneamente na Billboard Hot 100, incluindo SICKO MOD , em quarto lugar, e STARGAZINGem oitavo, fazendo de Scott o quarto artista a estrear várias músicas no Top 10 do chart ao mesmo tempo.

No Reino Unido, o álbum estreou em terceiro lugar na UK Albums Chart, dando ao rapper seu primeiro álbum Top 10 no chart. Ainda, SICKO MODESTARGAZING e CAROUSEL  entraram no Top 40 da UK Singles Chart, em 9º, 15º e 29º, respectivamente.

Na Austrália, o disco estreou no topo da ARIA Albums Chart, tornando-se o primeiro #1 de Travis Scott na tabela. Duas faixas ficaram no Top 10 da parada de singles: SICKO MODE, em 7º, e STARGAZING, em 10º.

 

Amanda Lepore

A obra que Travis lançou pode ser interpretada como um “show” de perfeições ao compararmos as críticas, as colocações, as vendas e as participações que ele traz, mas como nada é perfeito, ASTROWORLD não escapou de um polêmica, envolvendo a capa do álbum, que possui duas versões. A primeira, limpa, traz um parque de diversões de dia, com crianças comendo pipocas ou pulando, enquanto uma família entra para ver o show através de uma cabeça gigante dourada de Scott, que forma a entrada para o parque. A segunda, revelada no dia primeiro de agosto,traz uma interpretação mais explícita da ideia central do disco.

O parque de Travis Scott aparece no período da noite com mulheres nuas e sexualizadas, em um cenário que transmite uma sensação de desconforto como se um caos se instaurasse no parque durante a noite, lembrando um circo de horrores. Porém, quando foi publicada pelo artista em seu Instagram, a imagem sofreu um intrigante corte: Amanda Lepore, modelo e ícone transexual norte-americana, participou da fotografia feita por David LaChapelle, mas acabou sendo apagada na edição final. A modelo publicou a versão enviada para ela em seu Instagram, alegando estar “curiosa” com a retirada de sua participação da arte original: “Foi ótimo fazer parte da incrível fotografia de David Lachapelle para a capa do álbum de Travis Scott, mas estou curiosa para saber por que não estou na foto que Travis Scott postou”.

Na esquerda, a versão com Amanda Lepore. Na direita, a edição, capa oficial do disco

O circo, então, estava realmente montado, com as redes sociais entrando em avalanches de críticas à Travis, assinalando a ausência da modelo transexual como um ato de transfobia. Aquaria, drag queen norte-americana e recentemente coroada no reality RuPaul’s Drag Race, se mostrou bastante vocal com a falta de respeito, tuitando sobre o acontecimento e contrapondo os argumentos dos fãs de Travis“Talvez não seja transfobia imediata, mas a exclusão específica do corpo trans ainda é transfóbico. Principalmente se você acha que as pessoas não vão comprar seu álbum porque Amanda está na capa com uma aparência impecável como sempre”. Aquaria não foi a única Queen a se pronunciar sobre o assunto, sendo apoiada pela amiga íntima de LaPoreViolet Chachki: “F*** que Amanda Lepore foi cortada”, escreveu a vencedora da sétima temporada do Drag Race.

A situação ficou ainda mais suspeita quando LaChapelle pesou sobre o assunto, alegando que Amanda estava “boa demais” para aparecer na capa. Ao explicar a remoção e tentar minimizar a situação, o fotógrafo disse que “Amanda foi tirada porque acabou ofuscando todo mundo. Esse é um caso de outra coisa que não consegui controlar. Não tem relação com odiar”. De acordo com o TMZ, a equipe de Scott falou em nome do rapper e negou todas as acusações, uma vez que Travis nunca chegou a receber a arte original (com Lepore), não podendo ter, portanto, relação com a polêmica.

Enquanto alguns podem ficar contentes com a resposta, o TMZ parece inflexível em seguir a narrativa, preferindo transferir a culpa para David LaChappelle, mesmo após a própria Amanda ter aceitado a explicação e não ter dito que se ofendeu com o caso. Travis Scott fez um pequeno texto que publicou em seu Twitter e Instagram, agradecendo a participação de todos para a obra da capa, incluindo Lepore e David, afirmando que ASTROWOLRD é sobre amor e expressão e não sobre ódio.

“Isso é muito importante para que eu fale sobre: enquanto eu crescia fui ensinado a aceitar todos, jamais repelir as pessoas, mas recebê-las em casa. Eu não tenho nada além de respeito pela comunidade LGBT. Eu quero usar minha voz para deixar claro que todos nesse planeta são iguais e incrivelmente foda como seu próximo. Lachapelle e eu nos preparamos para criar imagens que eu cresci assistindo-o fazer por anos, que me inspiram até hoje. Você, Amanda, ofuscou a todos, incluindo eu. E eu não posso esperar para todos verem o encarte que Dave e eu realizamos que incluem todas essas imagens. Obrigado por fazer parte disso. Desculpa pelo mal-entendido. Amo vocês, pessoal e OBRIGADO A TODOS!!! TODOS SÃO BEM-VINDOS AO ASTROWORLD!”.

Amanda preferiu não aprofundar mais e focou na desculpa do amigo fotógrafo e do pronunciamento do rapper: “Uma garota não pode evitar. É muita distração para os olhos. Ofusquei todo mundo na fotografia!” disse ao editar o post que alegou estar curiosa. Ela também disse que ama David LaChapelle por ser o primeiro artista a fotografá-la diversas vezes, em ensaios de sucesso que percorreram museus em todo o mundo. “Ele é um amigo próximo e definitivamente não é transfóbico”, garantiu.


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