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The Beatles e o show que entrou para a história

O “Apple Rooftop Concert”, dos Beatles, marcou a história da banda de forma relevante, deixando um legado de peso para a indústria musical.


Em 2013, o Please Please Me (1963), álbum de estreia dos Beatles, completou 50 anos. De lá para cá, todo ano um disco da banda volta às páginas dos jornais com matérias que enaltecem suas cinco décadas de aniversário. Assim será até 2020, quando o Let It Be (1970) encerrará o ciclo dos cinquentões.

Esse ano, os holofotes estão voltados para o Yellow Submarine e Abbey Road, lançados, respectivamente, em janeiro e outubro de 1969. Mas não para por aí. Outro marco na carreira do quarteto de Liverpool, o Apple Rooftop Concert, também completa seus 50 anos em 2019. No dia 30 de janeiro de 1969, acontecia o icônico show dos Beatles no telhado da Apple Corps, na rua Savile Row, do bairro Mayfair, em Londres.

Oficialmente, não se sabe quem deu a ideia da apresentação. Com base nas declarações da banda e produtores, acredita-se que John, Paul, George e Ringo decidiram juntos, alguns dias antes, que iam cantar e tocar músicas inéditas no telhado da gravadora deles. Tudo sem divulgação prévia. Só amigos e produtores sabiam.

Engane-se quem acha que a performance era uma despretensão. Pelo contrário, era parte de um novo trabalho. Na verdade, mais do que isso. O quarteto tinha lançado um álbum duplo homônimo, o The Beatles (1968), popularmente conhecido como The White Album, havia poucos meses. Sucesso de crítica e vendas, sua produção foi o pontapé inicial para as desavenças entre os quatro músicos.

Hunter Davies, autor da única biografia autorizada da banda, escreveu que “os Beatles começaram a se separar já em 1966, quando desistiram de fazer shows e pararam de viver uma vida em comum”. Sendo assim, os desentendimentos, mais cedo ou mais tarde, aconteceriam. Fato é que chegada de Yoko Ono na vida de John Lennon deu uma apimentada nas discussões. Ele a levava para o estúdio de gravação, o que irritava os outros três, pois quebrava com a dinâmica que tinham estabelecido desde o primeiro trabalho juntos.

As brigas durante as gravações do álbum duplo chegavam a patamares antes inimagináveis, ao ponto que nas músicas Back in the U.S.S.R. e Dear Prudence, quem toca a bateria é Paul McCartney – Ringo tinha abandonado as gravações após discussões entre os quatro. “Ele disse que estava farto de ser o baterista deles. (…) No entanto, ele ficou afastado apenas um dia e foi convencido a voltar”, escreveu Davies sobre o episódio na biografia homônima dos Beatles.

Decidido a acalmar os ânimos e a produzir algo novo, que unisse a banda, Paul McCartney idealizou o Get Back, um documentário sobre o processo criativo do quarteto na gravação do seu novo disco. Depois, finalizaram com uma grande apresentação ao vivo. Vários locais estavam na mira para o grand finale, dentre eles o Coliseu, em Roma, e um grande estádio em Los Angeles, nos Estados Unidos.

A ideia agradou a todos. As filmagens começaram Twickenham Film Studios, mas logo desagradaram. Por questões sindicais da época, os takes começavam pela manhã, no auge do inverno londrino. Não suficiente, foi a vez de George Harrison abandonar a banda – retornando logo depois, assim aconteceu anteriormente com o colega. As gravações foram, então transferidas para o recém construído estúdio da Apple Records, o edifício 3 da Savile Row, também endereço da sede da Apple Corps, empresa que pertencia aos Beatles e gerenciava todo o império da banda. Era um dos principais motivos de desavenças entre eles.

 

Apple Rooftop

As filmagens seguiram em tom ameno. George Harrison convidou o tecladista Billy Preston, pois imaginou que o artista poderia ajudar a melhorar o clima entre eles. Parece que funcionou. Preston é único músico oficialmente creditado em gravações com os Beatles. Após dias de gravações, o quarteto de Liverpool desistiu do grande show em algum local de suntuosa visibilidade. A apresentação seria no telhado do estúdio, ali mesmo no centro comercial de Londres. Billy Preston, lógico, estava convidado.

John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e Billy Preston começaram a tocar a música Get Back no horário do almoço. As pessoas não conheciam as canções, naquele momento inéditas, mas começaram a aglomerar em frente ao prédio da gravadora, nas ruas próximas e nos telhados. A notícia, em tempos que não existia internet e celulares, espalhou-se rapidamente. Parece que alguns comerciantes ficaram irritados com o barulho, além da comoção que resultou até em problemas no trânsito. A polícia foi acionada e teve de intervir.

Policiais tentavam obter a ordem e ameaçavam prender os funcionários da gravadora caso não parassem com o show. O policial de identificação 503 da delegacia de Westminster subiu no telhado e deu ordem para que a apresentação acabasse, mas os músicos continuaram por alguns bons minutos, mesmo com a presença do agente.

Entre uma câmera e outra, os Beatles gesticulavam que não ia parar. Paul McCartney até ironizou a situação em um improviso na letra de Get Back: “Você está brincando no telhado de novo, e sabe que sua mãe não gosta, ela vai mandar te prender!”. O show durou 42 minutos e contou com nove tomadas de cinco músicas: Get Back, Don’t Let Me Down, I’ve Got a Feeling, Dig a Pony e One After 909. Além disso, tocaram o hino britânico God Save the Queen e um trecho de I Want You (She’s So Heavy), que mais tarde estreou no álbum Abbey Road. No final da apresentação, John Lennon agradeceu em nome do grupo, complementando com um “Espero que tenhamos passado na audição”.

Depois da apresentação, o projeto Get Back ficou esquecido. O quarteto começou a trabalhar em outro disco, o Abbey Road. As filmagens, dirigidas por Michael Lindsay-Hogg, resultaram no filme Let It Be (1970). Lindsay-Hogg utilizou 10 câmeras nas gravações do show, tudo para pegar a maior variedade de ângulos possíveis do evento. Sucesso de bilheteria, o longa ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original. Infelizmente, o filme não pode ser encontrado em DVD ou Blu-ray. Entretanto, existem trechos na internet. Além disso, o vídeo oficial da música Don’t Let Me Down está disponível no canal oficial dos Beatles no YouTube.

Com o filme veio o álbum de mesmo nome, Let It Be (1970). Desta vez, George Martin, produtor de todos os álbuns anteriores da banda, não organizaria o material. Para esse trabalho, contrataram o engenheiro de som Glyn Johns, que já havia trabalhado com The Rolling Stones, The Who e Led Zeppelin. Os Beatles detestaram o resultado de Johns. Recorreram ao aclamado produtor Phil Spector, que finalizou oficialmente o Let It Be, quase um ano e meio após as gravações. Três das canções do show no telhado estão no disco, sendo elas: I’ve Got a Feeling, Dig a Pony e One After 909.

É sabido que Paul McCartney não gostou da montagem realizada por Phil Spector no último álbum da banda, mas mesmo assim o disco foi lançado. Paul não deixou barato. 33 anos depois foi lançado o Let it Be… Naked (2003), uma versão remixada e remasterizada supervisionada pelo próprio McCartney. O álbum é considerado uma versão mais pura das gravações realizadas em 1969, antes dos produtores trabalharem com o material.

 

Referência

Depois do Apple Rooftop Concert, shows em telhados viraram uma espécie de tendência no mundo da música. A banda irlandesa U2 também resolveu fazer seu espetáculo no térreo de um prédio. A apresentação de Bono e companhia foi planejada com referências diretas do show dos Beatles, mas, ao contrário dos britânicos, os irlandeses convidaram os fãs.

Os irlandeses do U2 fazem seu próprio concerto de uma hora, em 1987, no terraço de uma loja de bebidas, em Los Angeles.

O show do U2 aconteceu na primavera de 1987, quase 20 após o Apple Rooftop Concert, no telhado de um loja de bebidas, localizada na East 7th Street com Main South Street em Los Angeles. O propósito era gravar o videoclipe da música Where The Streets Have No Name, terceiro single do álbum The Joshua Tree (1987). Assim como aconteceu com o quarteto de Liverpool, a polícia também fez intervenções – entretanto, era um desejo da banda irlandesa, que colaborou para a presença policial no local. Gravado ao vivo, o clipe musical levou o gramofone de Melhor Performance de Videoclipe no Grammy de 1989, contando com imagens do show e áudio sobreposto para a versão da música gravada em estúdio.

Depois disso, shows ou gravações de vídeos musicais em telhados tornaram-se ainda mais comuns. A banda norte-americana Red Hot Chilli Peppers é mais um exemplo famoso disso. Em 2011, eles subiram no terraço de um prédio da movimentada Venice Beach, em Los Angeles, para gravar o videoclipe de The Adventures of Rain Dance Maggie, primeiro single do álbum I’m With You (2011).

Em 2011, no terraço de um prédio na Venice Beach, em Los Angeles, o Red Hot Chilli Peppers fazem seu rooftop concert.

No mesmo ano, Marc Klasfeld, diretor do vídeo, disse em uma entrevista para a MTV norte-americana que ele e o vocalista da banda, Anthony Kiedis, estavam assistindo o clipe de Get Back dos Beatles e decidiram que fariam algo parecido. Seria “simples e icônico”, lembrou Klasfeld. Na época, o programa de variedades Fantástico, da TV Globo, também realizou entrevista com o Red Hot e mostrou detalhes da produção do clipe. Infelizmente, o material não está disponível na internet.

Outra representação clássica do show dos Beatles no telhado da Apple Records está no filme Across the Universe (2007), dirigido pela mesma cineasta de Frida (2002), Julie Taymor. Pautado em canções dos Beatles e todo o contexto do mundo na década de 1960, o longa tem como um de seus momentos mais empolgantes a cena em que Jude Feeny (Jim Sturgees) e seus amigos cantam All You Need Is Love. Fica a recomendação do filme, que conta com a participação de Bono e Joe Cocker. Bono, aliás, foi um dos produtores.

Os shows também migraram para especiais em canais de televisão. O próprio Paul McCartney repetiu o feito em 2009, ao se apresentar de surpresa no telhado do Ed Sullivan Theater, em Manhattan. O show era um especial do Late Show, na época ainda apresentado por David Letterman.

Também em 2009, o U2 voltou aos telhados. Dessa vez em um edifício da BBC Londres. Em 2017, a banda irlandesa fez um show exclusivo para a TV Globo, no heliponto da emissora em São Paulo.

 

Documentário

No dia 30 de janeiro, o perfil oficial dos Beatles no Instagram anunciou, na legenda de uma foto do quarteto acompanhado de Yoko Ono em estúdio, que vem material novo por aí. Trata-se de um documentário dirigido por Peter Jackson, diretor da franquia O Senhor dos Anéis. O texto explica que o novo projeto é uma colaboração da banda com o diretor aclamado pela Academy Awards.

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Uma publicação compartilhada por The Beatles (@thebeatles) em

Para o novo filme, Jackson teve acesso a 55 horas de filmagens do projeto Get Back, que deu origem ao Let It Be em 1970. As imagens, gravadas entre 2 e 31 de janeiro de 1969, são inéditas e prometem revelar um clima mais amigável entre o quarteto, diferente do que foi visto no filme de 1970 de Michael Lindsay-Hogg.

O texto da rede social revela as impressões e expectativas de Jackson após analisar o material. Em publicação, ele afirma:

As 55 horas de imagens inéditas e 140 horas de áudio que nos foram disponibilizadas garantem que este filme será a melhor experiência com a qual os fãs dos Beatles sonham. Fiquei aliviado ao descobrir que a realidade é muito diferente do mito. Depois de rever todas as filmagens e áudio que Michael Lindsay-Hogg gravou, 18 meses antes de se separarem, é simplesmente um incrível tesouro histórico. Claro, há momentos de drama – mas nenhuma da discórdia com a qual, há muito tempo, associam a esse projeto. Assistir John, Paul, George e Ringo trabalharem juntos, criando músicas clássicas do zero, não é apenas fascinante – é engraçado, edificante e surpreendentemente íntimo. Estou muito feliz e honrado por ter recebido esta filmagem notável – fazer o filme será alegria pura”.

Segundo informações de portais de notícias, o documentário será uma parceria entre Apple Corps e WingNut Films e contará com o apoio de Paul McCartney, Ringo Starr, e as viúvas de John Lennon e George Harrison, Yoko Ono e Olivia Harrison, respectivamente.

De acordo com essas publicações, as filmagens serão remasterizadas por uma empresa da Nova Zelândia, especializada no assunto e responsável pelo tratamento do material utilizado por Jackson em seu último trabalho, o Eles Não Envelhecerão (2018), um documentário sobre a Primeira Guerra Mundial.

O título e a data de lançamento do novo filme dos Beatles não foram divulgados. A expectativa é que chegue aos telões em 2020, ano que o Let It Be completa seu 50º aniversário.

 

Yesterday

Em junho deste ano, chega aos cinemas norte-americanos o filme Yesterday, do cineasta britânico Danny Boyle, diretor do premiado Quem Quer Ser um Milionário? (2008). Protagonizado por Himesh Patel, o longa contará a história de Jack Malik, um compositor fracassado que, após um acidente, vai parar em uma dimensão onde os Beatles nunca existiram. Malik vê uma oportunidade nisso e começa a faturar com as composições do quarteto britânico.

Sem data de estreia no Brasil, o filme da Universal Pictures tem no elenco Lily James, Kate McKinnon, Ana de Armas, Ed Sheeran e James Corden. Na internet, fãs comentam das supostas participações de Paul McCartney e Ringo Starr.


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