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Rico Dalasam mostra sua força e talento através de sua música, que narra suas lutas pessoais como um homem negro, gay e afeminado.

Rico Dalasam mostra sua força e talento através de sua música, que narra suas lutas pessoais como um homem negro, gay e afeminado.


OO paulistano Jefferson Ricardo da Silva, de 28 anos, mais conhecido como Rico Dalasam, é o nome que vem ganhando destaque no cenário do hip hop nacional. O principal representante do Queer rap (algo como “rap feito por gays”) no Brasil, começou a rimar na periferia de Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, e frequentava as populares batalhas de MC’s de Santa Cruz, na zona sul do estado.

 

Primeiros Trabalhos

Versando sobre aceitação racial, sexualidade e gênero, o ex-cabeleireiro lançou o seu primeiro EP, Modo Diverso, em 2015. Produzido por Filiph Neo, de forma independente, o trabalho logo chamou a atenção de público e crítica com seu single principal, Aceite-C, que usa como base o sample da música O Mais Belo dos Belos, de Daniela Mercury, e traz no refrão um grito de confronto e autoaceitação. Com o sucesso, a música ficou durante semanas nos mais tocados de canais como MTV Brasil e Multishow.

https://youtube.com/watch?v=dRDRGizXymw

Ainda no mesmo EP, com um tom questionador e político aliado aos beats, normalmente presente nas pistas de dança, e um leve toque de Funk, as rimas da música Não Posso Esperar revelam um pouco mais da proposta de Rico Dalasam, que é trabalhada de forma mais ampla no seu álbum Orgunga.

 

Orgunga

Lançado de forma gratuita, em junho de 2016, o primeiro álbum do rapper mistura flautas, percussões brasileiras e algumas referências árabes em um total de oito faixas autorais. A obra é intitulada pela palavra Orgunga, inventada pelo artista e que significa “o orgulho depois da vergonha”, uma maneira de exaltar o orgulho gay e negro.

Com um clipe dinâmico, colorido e empoderado, dirigido por Nicole Fischer e Amadeo Canônico, a música Esse Close Eu Dei, chega como carro-chefe desse trabalho e revela um lado mais pop, presente em todo o álbum. Outros destaques, são as músicas Vambora, que expõe a mistura de frevo, pandeiro com referências orientais e samba; Honestamente, que tem rimas mais melódicas, quase cantadas, em um ritmo de R&B, faixa que o rapper nos revelou “ter muito carinho”; e o  remix de Riquíssima, produzido por Mahal Pita, do BaianaSystem, e que originalmente estava presente no EP Modo Diverso.

https://youtube.com/watch?v=NIgLsHMWCsI

Uma das características de Rico Dalasam é a facilidade em transitar por diversos ritmos musicais, o que pode ser conferido em sua colaboração na faixa Mandume, de Emicida, presente no álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa. A parceria, lançada em 2015, traz também os rappers Drik Barbosa, Amiri, Muzzike e Raphão Alaafin. Na canção, as rimas deixam claro as reivindicações por representatividade, igualdade racial, de gênero e religiosa.

 

Carnaval e Próximos Passos

Já na música Todo Dia, lançada no início do ano para o álbum de estreia da drag queen brasileira Pabllo Vittar, o rapper mostra que também é possível fazer letras mais leves e que cabem no gosto popular. A faixa que virou hit no carnaval 2017, e já conta com mais de 38 milhões de visualizações no Youtube, foi produzida por Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, e traz um refrão chiclete sustentado pelo ritmo de funk.

Em conversa com o artista, Rico Dalasam comenta sobre uma declaração da Drag Queen americana RuPaul em que diz ter sido “rejeitada pelos brancos por ser negro, pelos negros por ser gay e pelos gays por ser afeminado”.

O rapper se prepara agora para o divulgar o seu recém lançado EPBalanga Raba, disponibilizado no dia 21 de julho e que sinaliza um flerte ainda maior com pop. Para isso, conta com uma turnê que teve sua estreia na parada LGBTQ do Canadá, a Pride Toronto, evento que é o terceiro maior do mundo nesse segmento; ele também irá circular por todo o Brasil.

Desse novo trabalho, a música Procure, lançada no final de 2016, com produção de Japa, do BaianaSystem, mostrou a mistura do axé com à música eletrônica, sem perder o tom crítico de seus versos. Mas é o seu novo single, Fogo em Mim, que abre oficialmente os trabalhos desse projeto. Com a mistura de elementos eletrônicos e de percussão em sua nova parceria com Mahal Pita, Rico está definitivamente disposto a colocar o público para dançar. Além disso, o trabalho também conta com as inéditas Não Deito Pra Nada e Não Vem Brincar de Amor.

 

Entrevista com Rico Dalasam

ZINT: Você já viveu ou sentiu isso em algum momento?

Rico: A gente vive a margem da margem. Quando você é negro, você é gay, você é afeminado, você vive em um outro lugar de ser gay, em um outro lugar negro, em um outro lugar de ser ser-humano. Entende? Isso, as vezes, influencia no nosso jeito de amar. Eu acredito que a gente tem que encontrar o nosso lugar. Temos a chance de dizer, cada vez mais, propagar e mostrar que a gente não está pedindo esmola pra ninguém. A gente vai fazer e vai ser! RuPaul é um grande exemplo, apesar de tudo isso, ela é um ícone no mundo.

 

Z: E como você avalia esse momento em que existe uma onda conservadora no mundo, mas ao mesmo tempo, pessoas como você tem ganhado cada vez mais espaço?

R: A gente está na outra ponta, enquanto o retrocesso caminha. Com a força do jovem, com a força incendiária, a gente fazendo a nossa arte. Se eles estão retrocedendo a gente trazendo nossa própria vida. A gente se expõe e ai mano, contra isso, não tem força!

 

Sobre apropriação cultural, Rico foi enfático ao dizer que a cultura negra precisa ser reconhecida em cada ser humano que vive dentro deste país.

R: Nosso país é muito misturado! Para começo de conversa, acho que ninguém aqui é zero% negro, todo mundo tem algo de negro em si. É algo muito mais complexo do que dizer que branco está fazendo coisa de preto ou preto fazendo coisa de branco.

 

Todas as músicas do Balanga Raba estão disponíveis em plataformas de streaming (Spotify; Deezer; Apple Music) e para download gratuito.


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