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"Circles", o álbum póstumo de Mac Miller, revela autonomia e sinceridade do artista com sua música e estado emocional.

“Circles”, o álbum póstumo de Mac Miller, revela autonomia e sinceridade do artista com sua música e estado emocional.


T“Todo mundo tem quer viver / E todo mundo vai morrer / Todo mundo só quer se divertir, se divertir / E eu acho que você sabe o motivo”, canta Mac Miller durante a faixa Everybody, parte do álbum Circles – o último de sua carreira. O compilado póstumo foi lançado pelos pais do artista no dia 17 de janeiro deste ano, tendo sido concluído por seu produtor, Jon Brion, a partir do material deixado pelo rapper. A data é dias antes do dia 19, quando Mac completaria seus 27 anos de idade.

 

Pré-Circles

Em setembro de 2018, um mês depois de voltar ao cenário da música com Swimming, o rapper veio falecer em decorrência de uma overdose. O que ninguém esperava era receber, no começo de 2020, um compilado de músicas reveladoras sobre o estado emocional do artista momentos antes de falecer, em um elaborado jogo de lamento, culpa e autopercepção.

Em suas últimas produções, Mac Miller andava bem mais introspectivo, buscando fugir a cada single da visão estereotipada do começo de sua carreira: um rapper que produz músicas de festas de faculdade. Miller se revelou, ao longe de suas produções, um multi-instrumentista perfeccionista e fascinado em fazer música que puxa um pouco do cenário atual do jazz e do funk, com resquícios de sua paixão pelo rap e trap norte-americanos.

Se em Swimming conhecemos um pouco do seu jeito de lidar com os problemas (“Antes eu estava me afundando / Agora eu estou nadando”, canta o artista em Back To Earth), agora percebemos como Miller estava não só enfrentando seus demônios internos, mas sofrendo com sua culpa e lamentando cada erro do passado. Além de perceber seus erros, sentimentos e confusões internas, ele as expos de uma forma singular e autêntica.

https://www.youtube.com/watch?v=aIHF7u9Wwiw

Era de se esperar músicas pesadas, densas e complexas, mas o resultado é diferente. Afinal, como Mac Miller estava passando seus últimos meses de vida? Produzindo música sobre si. E, apesar de todo sofrimento e dificuldade que nos deparamos no seu penúltimo álbum, o artista revela, com o póstumo, que por mais desgastante que sensações e emoções negativas sejam, elas proporcionaram músicas leves e até dançantes.

  — Nossa crítica do álbum “Swimming”  

 

Circles, o álbum

Capa do álbum

Circles é repleto de batidas eletrônicas, arranjos instrumentais, utilizando as cordas como as do piano, o que resultou em músicas com suaves batidas que, sem as letras, parecem plano de fundo para cenas e momentos de paz, aceitação e até alegria. Mas, quando ouvimos as letras, tudo fica mais melancólico e profundo do que isso.

O cenário muda quando voltamos a nossa atenção para as frases que o rapper canta, cheias de culpa, remorso e perdas. E, mesmo sendo pequenas, comparadas as letras mais elaboradas das faixas de Swimming, elas carregam, nas sutis e precisas palavras, sentimentos negativos e exaustivos. Blue World é um exemplo claro disso: “Isto aqui é um mundo triste sem você / É um mundo triste e solitário”, canta nos primeiros acordes do single.

Mac Miller nunca escondeu seus problemas pessoais, seja expondo eles em músicas ou extrapolando nas drogas. E é na primeira música, a faixa-título Circles, que nós percebemos, em primeira mão, a melancolia e lamento de Miller.

Logo na abertura do álbum – em menos de alguns segundos de produção – temos contato com a seguinte letra: “Bom, é essa a sensação logo antes de você ‘cair'”. Podemos interpretar que o rapper está nos dizendo, algo parecido como: você pode saber, bem antes de vir, que as sensações/sentimentos ruins estão chegando.

Não é de agora que os fãs conhecem o lado pessimista e, ouso dizer, depressivo, de Mac Miller. Por mais que seus pais, ex-namorada (Arianna Grande) e amigos mais próximos dele, sempre afirmem o jeito doce, gentil e acolhedor de Mac, nada disso anula como o cantor se sentia em relação a ele mesmo e sua vida.

“E eu não posso ser mudado / Eu não posso ser mudado, não / Pode acreditar, eu tentei / Eu sempre acabo de volta ao início da linha / Desenhando círculos”

O rapper tentou, muitas vezes, evitar as drogas e viver de uma forma mais saudável. Mas, como citado na faixa principal – e essa parece ser a mensagem do álbum – é que ele só estava desenhando círculos tentando mudar. E mesmo tentando, uma hora voltava ao mesmo lugar que começou.

Outras faixas chamam a atenção para o estado mental de Mac Miller. Se em Self Care (faixa principal do álbum antecessor), o cantor se preocupava em mostrar como ele cuida dele mesmo e, pensa sim, em sua saúde mental e emocional, agora em Hands (faixa de Circles), o rapper parece não se preocupar tanto com isso, mas sim em notar como se sentem perante essa confusão, uma vez que “prefere estar voando como se não houvesse chão” do que se sentir triste.

Good News é outra prova da sinceridade e afirmação do artista com sua melancolia, lamento e culpa: “Me arrependo de muitas coisas / Mas digo que esqueci”. Ou That’s On Me, título traduzido para “O Erro Foi Meu“. Mac Miller parece estar afirmando para si mesmo sua culpa, remoendo seus lamentos e, principalmente, aceitando ser quem ele é, sem rodeios – sem círculos.

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kDil7bSw2xMW6yCGOXTbwz96McxRXGyPI

Com maturidade emocional, o artista produziu músicas sensíveis, reais e intensas, assumindo para si mesmo – e para a sua arte – como se sentia. Circles vêm para reafirmar seus lamentos, remorsos e culpas, não deixando escapar a sua autopercepção e o autoconhecimento. Apesar dos pesares, Mac Miller sabia quem ele era, como lidava com tudo e lamentou, até a última letra e acorde, como tudo aconteceu.


PLAYLIST


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