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Little Mix fecha o ano de 2018 com o álbum “LM5”, cuja mensagem central é carregada de empoderamento feminino e autoafirmação.


Nota do Colab: este texto é escrito em colaboração com a colab Stephanie Torres.


Há cerca de vinte anos o cenário musical era muito diferente. O final da década de 90 e o início dos anos 2000 é marcado pelo auge de grupos musicais que apostavam em passos de danças e músicas chicletes. Nos Estados Unidos, *NSYNC, Backstreet Boys, TLC e Destiny’s Child arrebatavam as paradas musicais com alguns dos singles mais memoráveis da história da música pop. Seguindo a mesma linha, na Europa, esses nomes eram acompanhados pelos próprios grupos locais de grande sucesso, como o Take That, Westlife, Girls Aloud e as Spice Girls. Todas essa bandas reinaram por um período de tempo até, eventualmente, acabarem ou entrarem em hiatus inderteminados, abrindo uma novo estágio na música, que acabou limitando um sucesso sólido mundial para outros que apostassem na mesma fórmula.

Levou mais de uma década até um grupo atingir os topos das paradas mundiais – mas isso estava praticamente limitado a boybands, como o One Direction, o 5 Seconds of Summer e, brevemente, o The Wanted. Grupos femininos não iam muito longe, até mesmo dentro do próprio mercado, com exceção do Fifth Harmony, que mesmo com uma força significativa, não conseguiram colocar uma única música (ou álbum) no topo da Billboard. No Reino Unido, no entanto, a história corria diferente para quatro garotas que, em 2011, formavam o Little Mix.

Da esquerda pra direita: Leigh-Anne, Jesy, Perrie e Jade

Os nomes de Jade Thirlwall, Jesy Nelson, Leigh-Anne Pinnock e Perrie Edwards começaram a ganhar reconhecimento quando as garotas, individualmente, audicionaram para o The X Factor, sendo eliminadas na fase Bootcamp, apenas para serem reunidas em um grupo para seguir para as Judge’s House. Na época, sob o nome Rhythmix, as meninas rapidamente subiram no gosto do público, o que acabou levando elas a serem o primeiro e único grupo a ganhar uma edição da famosa competição, já sob o nome Little Mix.

Como de costume, a primeira música lançada pelo ganhador do reality show é o Winner’s Single, que consiste na faixa escolhida pelo artista para performar na Final do programa. Para as garotas, esta foi Cannonball, originalmente lançada pelo cantor Damien Rice. A chegada da música na parada britânica, a UK Singles Charts, garantiu o primeiro #1 da carreira do grupo.

 

Títulos e Certificados

Sendo as ganhadoras do reality e com um contrato sob tutela da Syco, selo de Simon Cowell, o Little Mix deu início aos trabalhos logo em 2012, quando veio o primeiro single do primeiro álbum do grupo. Wings, uma faixa bem pautada no brit pop, atingiu o topo da UK Singles Chart, enquanto o disco DNA alcançou a terceira posição da UK Albums Chart. A carreira das meninas passa então a colher bons frutos, onde, dos 20 singles lançados por elas até hoje, apenas sete não entraram no Top 10 – mas gravitaram em torno da posição, com o menor pico sendo o #16. Com o álbum, as Little Mix se tornaram o primeiro grupo, desde o The Pussycat Dolls, a alcançar o Top 5 da parada norte-americana Billboard 200, além de ter o maior debut de um álbum de estreia de uma girlband britânica, que pertencia as Spice Girls (intocado desde 1997, quando elas alcançaram a sexta posição).

Lançado em 2013, Salute, o segundo álbum, atingiu a quarta posição do UK Albums, enquanto o sucessor, Get Weird, de 2015, conseguiu chegar na segunda posição. Este último foi o disco que garantiu o terceiro single #1 ao grupo, com Black Magic. Mas foi com o Glory Days, o quarto projeto das meninas, que elas se viram no topo das paradas. Lançado em 2016, o disco e o seu carro-chefe, Shout Out to My Ex, foram direto para o #1, fazendo delas um dos grupos mais bem sucedidos do mercado britânico, unindo-se com as Spice Girls e as Girls Aloud, duas das maiores girlbands do Reino Unido.

Glory Days ainda garantiu à elas o maior tempo em #1 por uma girlband (cinco semanas não-consecutivas) desde que as Spices passaram 15 semanas no topo com o primeiro disco, em 1996. As cinco ínterpretes do hit mundial Wannabe também retinham o recorde de maior vendagem em uma primeira semana (este, em 1997), “roubado” pelas Mix com o disco (foram 90,000 unidades comercializadas). Ainda, o álbum possui o maior tempo da história que uma girlband ficou no Top 40 da UK Albums Charts, com 69 semanas. A título de curiosidade, o “Top 40” é um título-herança da época das jukebox, cujas as mais antigas só suportavam 40 discos – assim, esse Top é importante por considerar que aquelas 40 músicas ou álbuns são as mais influentes e as mais tocadas do momento.

Com excessão do Word Up!, uma faixa beneficente lançada em 2014 em parceria com o evento esportivo Sport Relief, cada um dos outros 19 singles lançados pelo grupo receberam pelo menos uma certificação mínima da BPI, a Associação britânica que representa as gravadores e distribuidoras, sendo a responsável por entregar os famosos certificados de Prata, Ouro, Platina e Diamante. Destes, a maior certificação recebia por elas, no Reino Unido, é o Platina Dupla (1,2 milhão de cópias vendidas), para Black Magic e Shout Out to My Ex.

Donas de um sucesso estrondoso, que garantiu à elas um Brit Awards (o Grammy britânico) de Melhor Single Britânico, por Shout Out to My Ex, as meninas do Little Mix retornam em 2018 com uma nova era. Sob tutela do quinto álbum, LM5, elas prometem tomar controle de suas carreiras de uma vez por toda e entregar um projeto que seja importante em um nível quase que celular, promovendo auto-aceitação, auto-afirmação, auto-respeito e empoderamento, em meio a muita música de qualidade.

 

LM5

Em tempos de redes sociais onde o relacionamento celebridade-fã é mais próximo do que nunca, não é preciso que um artista anuncie seu próximo trabalho para gerar expectativa sobre ele. Na verdade, cada vez mais são os próprios fãs começam a cobrar do ídolo material inédito – e elaborar diversas teorias sobre o projeto, além de reunir todas as informações sobre, desde as micros até as macros. Para facilitar essa rede de informação, a internet criou uma forma de nomear um álbum antes mesmo que seu nome oficial fosse divulgado, consistindo nas iniciais do nome do artista (grupo ou banda) mais o número do álbum que será lançado. Assim, o quinto disco das Little Mix, ainda na sua concepção, começou a ser chamado de LM5 pelos fãs. E nada melhor para se aproximar do público do que adotar o nome dado por ele. Assim, o LM5, que debutou em #3 na UK Albums Charts, acabou se tornando o nome oficial do novo trabalho das meninas.

Imagem promocional do single “Woman Like Me”

E dar um título quase homônimo ao álbum é justo, uma vez que a coletânea de músicas traz mais personalidade ao grupo do que nunca. Levantar a bandeira do girl power, estabelecido mundialmente pelas Spice Girls na década de 90, sempre foi uma das principais características do quarteto, e o LM5 apresenta empoderamento feminino em várias facetas.

Na primeira faixa, The National Manthem, uma introdução de 29 segundos feito a cappella, Perrie, Jesy, Jade e Leigh-Ann já mostram ao que vieram. Harmonia perfeita e vocais poderosos dão vida a um hino de adoração a mulheres, sendo um pequeno resumo do que está por vir.

Nas faixas seguintes, Little Mix inova e traz uma grande influência do hip-hop, tanto com colaborações como Nicki Minaj, em Woman Like Me, e Sharaya J, em Strip, quanto nas vozes das próprias integrantes. Essa é uma clara tentativa de conquistar mais espaço no mercado norte-americano e repetir o sucesso que o grupo faz no Reino Unido em escala mundial. A estratégia, porém, dividiu os críticos (no Metacritic, a nota é 64/100), mesmo tendo agradado aos fãs.

Mas o que não é dúvida para ninguém é o talento das quatro mulheres britânicas. Os vocais e harmonias não deixam a desejar em nenhum momento. Tanto individualmente quanto em conjuntos, todas brilham e são capazes de deixar quem está ouvindo totalmente envolvido nas canções. As faixas mais emocionais como Told You So e The Cure são capazes de emocionar, enquanto as mais animadas como Joana Of Arc e Wasabi deixam qualquer um com vontade de se mexer, sempre deixando perceptível a qualidade vocal das meninas.

Porém, o mais legal do LM5 é a mensagem que ele apresenta. O feminismo é o tema central que percorre todas as músicas, mas é bem interessante como as letras exploram lados diferentes desse empoderamento. Enquanto Joana Of Arc, por exemplo, é um hino que exala confiança quando Jade e Jesy declaram “Eu não preciso de um homem / Se eu estou te amando é porque eu posso / Eu não quero seu dinheiro / Eu coloco minha própria pedra na minha mão”, em Woman Like Me Leigh-Ann canta “Insegura, mas eu estou trabalhando nisso”, enquanto elas se questionam se alguém poderia se apaixonar por uma mulher como elas. (Mas cá entre nós garotas, vocês ainda tem dúvida alguma dúvida disso?).

Promovendo o álbum, as meninas fizeram uma sessão de fotos para o clipe de “Strip”, onde elas, nuas, estão marcadas por diversos insultos direcionados à elas ou à mulheres no geral. Entre as palavras é possível ler “gorda”, “feia”, “imatura”, “vadia”, “sem talento”, “cheia de celulite”, “comum”, “insignificante” e “fraca”.

Em Wasabi, as meninas respondem às criticas e as fofocas sobre elas de uma forma bem diretamente e irônica. Em Motivate elas exploram sua sexualidade de forma aberta e explicita. Love A Girl Right e Told You So falam de sororidade e amizade feminina de uma forma bem sensível e bonita. Em Monster In Me e Notice elas tratam sobre relacionamentos amorosos complicados. The Cure fala de superação enquanto Strip é aquele hino sobre autoaceitação.

Woman’s World, faixa que está na versão deluxe do álbum, resume tudo explanado no álbum de uma forma simples e direta. Após passar todo o disco se autoafirmando e trazendo poder e força ao sexo feminino, elas quebram um pouco a expectativa do título da música (que traduz-se como “Mundo das Mulheres” e pode passar a ideia de uma música que fala de um mundo dominado pelas mulheres) denunciando todas as dificuldade que sofrem no mundo apenas por serem mulheres, almejando um dia não trabalharem o dobro para ganhar a metade dos homens. No refrão, elas cantam: “Se nunca te falaram o que você tem que ser / O que você tem que vestir, como você tem de falar / Se você nunca teve que gritar para ser ouvida / Você não viveu no mundo das mulheres / E se você não vê que isso precisa mudar / Só quer o corpo e não o cérebro / Se você acha que é assim que as coisas funcionam / Você não viver em um mundo de mulheres, não“.

Com essa mensagem, Little Mix apresenta um álbum em que cada uma das integrantes tem o seu espaço de voz, podendo cantar sobre suas respectivas inseguranças e se libertar das amarras que lhe são impostas. Mesmo que o disco possua defeitos, nada pode apagar sua importância e o talento das meninas, tendo grande chance de dar a Leigh-Ann, Jade, Jesy e Perrie o reconhecimento que elas merecem.


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