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Depois de quatro anos, o rapper americano que mais vendeu discos na história, voltou aos estúdios para lançar Revival, composto por 19 faixas densas, Marshall Matters faz um balanço sobre sua carreira, lamenta mais uma vez suas falhas em família e, claro, exerce seu papel social expondo sua posição política frente ao atual presidente dos Estados Unidos. Antes do lançamento, no dia 15 de dezembro, Eminem já havia apresentado uma das novidades no Europe Music Awards, no qual recebeu o prêmio da categoria Best Hip Hop. Ele mesmo se mostrou surpreso pelo reconhecimento por estar a tanto tempo longe da mídia, mas fato é que os Stans ainda o apóiam incondicionalmente. Com parcerias de peso, como Ed Sheeran, Beyoncé e Alicia Keys, é inegável o respeito que o rapper ainda sustenta no meio artístico.

 

Um Novo Retrato da Carreira

A primeira faixa de Revival, “Walk on Water“, assustou um pouco os fãs de Eminem, por sua letra negativista, na qual ele inclusive sugere que esta pode ser sua despedida. Ao contrário da aparência irreverente e despreocupada com as cobranças da mídia, as constantes críticas recebidas ao longo dos anos, por suas letras ofensivas e seu mau comportamento fora dos palcos, parece ter abalado a confiança do rapper. Nós compramos a ideia de que ele estava bem se auto-intitulando “Rap God“, em 2013, mas em trecho dessa nova música ele mostra que não acredita estar no mesmo nível de Tupac e Notorious B. I. G, por exemplo.

Essa não é a primeira vez que ele reclama da pressão exercida pela fama. Em 2000, Eminem escreveu “The Way I Am“, música de grande sucesso na qual ele se mostrava extremamente incomodado pelo comportamento invasivo de seus fãs, o que dificultava ainda mais seu relacionamento com sua então esposa Kimberly Scott. Outra exposição notável dessa dificuldade em lidar com o inesperado sucesso e com o alcance de sua influência foi a composição da faixa “Stan“, no mesmo ano, na qual ele conta a história de um fã que se matou depois de não ter suas cartas respondidas pelo rapper. Quando o clipe da música saiu, foi impactante a forma que ele encontrou de mostrar a todos que suas letras não são para serem levadas ao pé da letra.

Porém, ao mesmo tempo, percebemos que sua autocobrança por lançar singles perfeitos e ser bem aceito é algo real que o atormenta. Após ouvirmos na voz de Beyoncé que ele está aterrorizado de decepcionar seus fãs, ele cita novamente “Stan” e reforça que ele se enxerga acima deles. Talvez, por isso exista uma grande dificuldade tomar a posição de ser um exemplo a ser seguido.

 

A Voz dos Movimentos Sociais

Não é novidade Eminem expor sua posição frente às decisões de políticos. Ao longo dos anos ele deu muita dor de cabeça ao congresso americano, sendo considerado por alguns senadores como uma das grandes ameaças a juventude do país. Mas, a verdade é que o artista não economiza na sinceridade e suas palavras sempre causaram muito desconforto àqueles a que eram direcionadas. Em 2004, a músicaMosh” fortaleceu a voz de milhões de norte-americanos que imploravam pelo fim da guerra no Iraque, promovida pelo então presidente George W Bush.

No more blood for oil.

We got our own battles

To fight on our own soil

Das lutas que ele se referia em 2004, muitas permanecem até hoje, negligenciadas e muitas vezes confrontadas pelo atual presidente Donald Trump. Prova disso foi a ameaça de banir os jogadores que se posicionassem ajoelhados durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos em apoio ao movimento Black Lives Matter. Uma clara oposição ao movimento, afinal a postura de um jogador em um jogo não causaria tanto alvoroço se ele estivesse ao menos indiferente a questão. Famoso por seus tweets o presidente também continua agredindo hispânicos, gays e transgêneros, e é claro que Eminem não ficaria calado.

Antes mesmo do lançamento de Revival, o rapperhavia feito um freestyle, no BET Hip Hop Awards, atacando Donald Trump e estabelecendo uma escolha aos seus fãs: apoiariam a ele ou ao presidente racista. Vale lembrar que o presidente não foi eleito porque recebeu votos da maioria da população, mas sim de acordo com o modelo de colégio eleitoral. Em “Like Home“, nona faixa do álbum, Eminem pede a todos que se juntem a ele na luta para derrubar Trump pelo bem da verdadeira América. E, na música “Untouchable“, Marshall também fala sobre os privilégios de ser branco em uma sociedade preconceituosa, de forma mais explícita do que havia feito em “White America“, de 2002, quando afirmou que não venderia tantos discos se fosse um rapper negro.

 

Fechando Ciclos na Família

Castle em comunhão com “Arose” finalizam o novo álbum com maestria. Na primeira, Eminem escreve cartas a sua filha Hailie, sobre quem fez inúmeras músicas ao longo dos anos, sempre em tom de remorso por sua constante ausência, mas também em agradecimento por tê-la em sua vida. Nos segundos finais desta podemos ouvir o som de comprimidos balançando dentro do seu recipiente que por fim é aberto. Mas, na segunda ele reescreve parte da sua história, depois de conversar sinceramente com seu irmão mais novo Nathan, com sua mãe e com seu melhor amigo Proof, que morreu em 2006. A fita imaginária do seu episódio de overdose que quase o levou a morte em 2007 é rebobinada e ao invés de abrir o recipiente, ele joga os comprimidos no vaso sanitário e o último som da faixa é uma descarga.

Mockinbird” é uma de suas mais famosas músicas dedicadas a família, quando ele fala sobre o fim de seu casamento com Kim, mãe de Hailie, que compõe o álbum Encore, o último antes da overdose e um dos que ele considera ser seu pior trabalho. It’s OK, do seu primeiro álbum Infinite, foi a primeira em que ele se abriu sobre esse assunto e talvez com Revival ele consiga cicatrizar essa ferida. Talvez, no futuro ele nos descreva mais momentos bons do que os ruins sobre os quais conhecemos mais agora.

 

Uma Breve Volta no Tempo

2009  //  2010  //  2017

Relapse  //  Recovery  //  Revival

Esses três álbuns tem muito em comum e falam muito sobre a difícil trajetória de Eminem contra as drogas. Na 17ª faixa do disco encontramos “In Your Head, música na qual ele cita os álbuns Relapse e Recovery, de uma forma que ninguém nunca havia ouvido antes. Nela o rapper diz que o álbum de 2010 poderia ter sido a grande vitória de sua carreira se ele não estivesse na beira de uma nova recaída, mas na época os rumores eram de que ele já havia superado essa fase, assim como indicava o singleNot Afraid“, cuja performance até hoje é uma das mais esperadas em seus shows. Com Revival ele se mostra mais forte e determinado do que nunca a apagar essa parte da sua história e recomeçar. De fato, o nome do novo álbum não poderia ter sido melhor escolhido.

 

O Fim de Shady?

Famoso também por suas polêmicas, sua personalidade difícil era atribuída ao seu alter ego Slim Shady, sempre alheio à mídia, intocável. Suas músicas compostas sob a influência dele ficaram conhecidas pelo humor negro e pela ridicularização de outros artistas da música e de Hollywood, que ficavam ainda mais grosseiras em seus clipes. Marshall agora traz pela primeira vez um álbum sem nenhuma faixa ao estilo de Shady, o que nos mostra sua honestidade quando pede perdão a sua filha por não ter separado Slim do seu convívio em família.

Hits como “Without Me“, “The Real Slim Shady” e “Just Lose It” logo nos fazem lembrar o artista que os compôs, por sua originalidade e batida contagiante, mas ninguém pode dizer que foi graças a Slim Shady que Eminem construiu sua carreira. As músicas do rapper que ficaram em melhor posição no Bilboard Hot 100, foram “Not Afraid e suas parcerias com Rihanna, “Love The Way You Lie” e “The Monster”.

Além de “Lose Youserlf” ter vencido o Oscar de 2003 na categoria de Melhor Canção Original, fazendo de Em o primeiro rapper na história a conseguir tal reconhecimento. Por enquanto a última música mais próxima do estilo Shady vai continuar sendo “Bezerk“, do Marshal Matters LP 2, de 2013. Será que aos 45 anos ainda há espaço para Slim? Não se pode ter certeza. Admitir que ele é surpreendente e aguardar ainda é a melhor escolha.

Inclusive, ele perguntou: Do you still believe in me?


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