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Com "Histórias da Minha Área", Djonga entrega um álbum de discurso forte que é sustentado por sua sensibilidade musical e seu talento ímpar.

Por meio de um manifesto forte de reflexão e gratidão, o rapper mineiro Djonga reconhece aqueles que cresceram e sobrevivem com ele nas quebradas


OO título é claro e não deixa dúvida, esse é um álbum sobre vivências de alguém que tem muito a dizer e deseja celebrar suas origens. Djonga registra suas memórias em Histórias da Minha Área, quarto álbum do rapper mineiro, lançado no dia 13 de março, mantendo seu costume de lançar CDs em dias 13.

Mantendo a tradição de um disco por ano, o rapper constrói, através do papo reto sem espaço para a intolerância, relatos a cada música, capazes de demonstrar que sua área é lugar de convivência, de aprender com os desafios e ultrapassar as barreiras, sejam elas sociais, econômicas, políticas ou humanas.

DJONGA: O INÍCIO
Em 2017, Djonga foi um dos nomes que brilharam no rap nacional. O jovem rapper surgiu na cena através do grupo mineiro DV Tribo, criado por ele ao lado de Hot Apocalypse, FBC, Clara Lima, Oreia e Coyote Beats. Em pouco tempo de carreira, colaborou com vários grandes artistas, aparecendo no remix de Atleta do Ano, do Mob79, e na cypher Poetas no Topo, da Pineapple Supply. No mesmo ano também lançou seu primeiro disco, Heresia, que o colocou definitivamente dentro da cena artística.

 

Histórias da Minha Área

Capa do álbum

Ao longo das 10 faixas, lançadas primeiramente no YouTube para acesso fácil e depois nas plataformas digitais, conseguimos revisitar as memórias do cantor e compositor. Ouvir Histórias da Minha Área é sentir como se estivéssemos junto com ele andando em Belo Horizonte, pela Favela do Índio, onde ele nasceu, e o bairro Novo São Lucas, na Zona Leste da capital mineira, onde cresceu e amadureceu ideias que hoje formam versos de suas canções e rimas, espalhadas por todo o país.

Djonga, nome artístico de Gustavo Pereira Marques, significa “sonolência observadora”, isto é, uma pessoa que está na dela, mas nada passa batido, aspecto comprovado em seu atual trabalho. Nele, o mineiro, que começou sua carreira na rua participando de saraus de poesia, onde cresceu seu interesse pelo rap e logo começou a escrever suas próprias letras, cita a preferência por Harry Potter em Procuro Alguém, expõe seu desejo junto com o MC Don Juan em Mania e, em Oto Patamá, demonstra o orgulho do jogador Bruno Henrique, do Flamengo, que, como ele, cresceu na periferia de BH, com o sonho de ser jogador de futebol e conquistou visibilidade nacional.

Nesse sentido, o cantor ainda denuncia injustiças e lembra daqueles que o acompanham desde que as histórias eram apenas projetos locais. As referências começam logo na capa do disco, em que o genocídio negro deixa as estatísticas para se tornar tema da imagem que dá cara ao novo CD. O extermínio descontrolado da comunidade negra dá as caras em meio a jovens reflexivos, enquanto o próprio Djonga, sem perder o estilo, apresenta a realidade da sua área na Zona Leste de BH.

Se nos Estados Unidos, Billie Eilish é a responsável por explorar a sonoridade experimental, no contexto mineiro o rapper mostra que não é um cara mau, usando também de áudios de WhatsApp dos amigos que por vezes incorporam as músicas, aproximando e humanizando quem inspirou aquelas histórias que, quando ouvidas, podem passar a ser nossas. Além disso, dessa forma o discurso social vem também por meio da ironia e piadas, tornando mais rica a narrativa proposta em tempos tão pesados.

“Quando eu conto a história da minha área, acho que conto a história de todas as áreas do Brasil que se parecem com de onde eu vim. Vocês sabem do que eu tô falando, pelo menos quem veio de lá sabe do que eu tô falando, quem não cresceu preso dentro de casa vai entender o que eu tô falando, só não é garantia que vão gostar do que eu tô falando”

– DJONGA ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS

Histórias da Minha Área conta com parcerias dos cantores Bia Nogueira, NGC Borges, FBC, MC Don Juan Cristal, além de produção da Coyote Beatz.

 

Rap melódico

Fato é que Djonga consegue reunir nesse novo trabalho o rap, com as batidas do funk antigo e a voz sentimental, um clima mais melódico que reflete, entre outras coisas, aspectos de sua vida pessoal como o nascimento de sua segunda filha Iolanda, que agora se junta a Jorge, seu outro filho.

Histórias da Minha Área certamente traduz suas sensações (muitas vezes sensacionais), desde a família com muita festa e música, contribuindo para suas escolhas profissionais, até as dificuldades enfrentadas por todo preto e preta desse país, como por vezes afirma ele próprio. O cantor evidencia que tentaram tirar sua auto estima, autonomia, mas ele e seus irmãos e irmãs de vida foram atrás dela e hoje a carregam com orgulho, em um momento onde isso já não é um impedimento.

O rapper, que não deixa esconder suas maiores inspirações em artistas como Cazuza, Janis Joplin, Elis Regina, Elza Soares, Jimi Hendrixs, MC Smith, além do Mano Brown que vai além da música, orgulha por escancarar que não alcançou seu lugar com a ajuda do poder público, mas sim por motivação própria e, sobretudo, humildade.

SUCESSO NACIONAL
O quarto álbum gravado em estúdio de Djonga contou com todas as 10 faixas entre as 200 músicas mais tocadas no país na semana do lançamento, consolidando-o como um dos artistas mais influentes do cenário do rap nacional. O reconhecimento dá sequência a outros prêmios conquistados anteriormente como quando recebeu Disco de Platina por Heresia e Platina Duplo por O Menino que Queria ser Deus.

Djonga carrega uma personalidade que reforça a existência de rimas inteligentes também fora do eixo Rio-SP. Ele narra suas aventuras pessoais sem sair do lugar de onde veio, usando de sua relevância para tratar dos problemas e questões locais, que refletem um país equivocado, inseguro e cruel, ainda mais para alguns grupos da sociedade, como os negros e menos favorecidos.

Isso tudo sem deixar de trazer junto a galera de BH em seus sons e dividir suas conquistas, como é o caso de FBC, com quem canta Irmão de Arma, Irmão de Luta, no disco Heresia, e Sidoka, no álbum O Menino Que Queria Ser Deus.

Sem pretensões e lançando mais uma vez a identidade artística própria, Djonga consegue manter a atitude de enfrentamento sem perder a sensibilidade e a capacidade de se divertir com o próprio som, mantendo as harmonias e construções dos versos que marcaram sua carreira e nos deixam animados para as histórias que ele ainda pode nos contar.


PLAYLIST


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