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Existe Amor propõe reconstruções de músicas antigas dos artistas em um EP voltado para arrecadar doações à população paulista marginalizada.

“Existe Amor” propõe reconstruções de músicas antigas dos artistas em um EP voltado para arrecadar doações à população paulista marginalizada.


IIsolados sim, tranquilos não. Enquanto cumprem as medidas de isolamento social e se mantém em casa, Criolo em São Paulo e Milton Nascimento em Minas Gerais, a preocupação ainda permanece do lado de fora, especialmente em quem não pode contar com uma casa para se proteger nesse período de pandemia no mundo.

Os dois artistas, consagrados em escala nacional, juntam suas forças e compartilham suas angústias por meio do novo EP Existe Amor, que marca a retomada da parceria iniciada em 2014 na turnê conjunta Linha De Frente, além de propor uma ação social que ultrapassa a música e pretende, como esta, aproximar e conectar as pessoas.

 

EXISTE AMOR

Capa do EP

Desesperança. Esse é o sentimento que domina Existe Amor e norteia a experiência sonora de aproximadamente 20 minutos, distribuídos em quatro músicas. Se você procura um disco alegre e animado para aliviar esse momento de incertezas, sugiro continuar procurando, afinal Milton e Criolo não economizam no tom realista e sincero para tratar das ruas, por vezes romantizada durante a quarentena.

Ambos entregam um discurso forte e honesto baseado em, por meio da sensibilidade social, mostrar a cidade pelos olhos de quem vê além dos muros e interações entre os habitantes. O grafite que colore os cinzas, os bares como refúgio e enfim, a falta de amor servem de ponto de partida para esta declaração ao ambiente em que tudo acontece.

Em Cais, a primeira faixa do material e clássico de Bituca presente no disco Clube da Esquina (1972), a dupla canta em seis minutos sobre a invenção do sonho, do amor, do mar, em um cenário onde a felicidade é apenas um desejo. “Invento o amor e sei a dor de encontrar / Eu queria ser feliz”, cantam entre as longas partes de um piano que parece preparar para a narrativa.

O COMEÇO
Criolo e Milton Nascimento se conheceram em 2012, nos bastidores do Grande Prêmio da Música Brasileira, após serem apresentados por Ney Matogrosso. Desde então, já trocaram participações nos shows um do outro e fizeram a turnê conjunta Linha De Frente, em 2014.

É deixado claro também, através dos vocais sensíveis da dupla, as demais ausências que ainda se fazem presentes nos espaços urbanos, sejam elas de empatia, cuidado ou simplesmente humanidade. A construção do disco, as melodias e a troca entre os dois demonstra como o trabalho foi feito a partir da amizade, sem pressa e de acordo com o processo criativo da dupla para não perder certa identidade que os caracteriza individualmente. “Foi um encontro de almas, com certeza, e sem medo nenhum de usar o clichê. Criolo, Amaro e eu temos muitas coisas em comum. Não digo isso apenas na parte musical, mas de vida também. Nossas origens são muito parecidas”, afirmou Milton, ou Bituca, como é apelidado, em entrevista ao Estadão.

Criolo e Milton Nascimento

 

“Tanto barro pra amassar / Na sacola, uma ilusão / Na cabeça, um querer / Arma e ódio na mão”, assim entoa Nascimento em Dez Anjos refletindo sobre o ter e o querer, as expectativas e as conquistas, o presente e o futuro, temas muito discutidos atualmente em meio a insegurança. Tanto Criolo quanto Milton conseguem imprimir seu estilo musical próprio enquanto também se aventuram juntos em um tom confessional e honesto que lembra o ouvinte da contação de um relato, aliás, o nosso, de São Paulo e de muitas cidades por aí.

Sem o ritmo rap melódico e a pegada urbana da versão original de Criolo em 2011, Não Existe Amor em SP aparece na sequência mostrando querer chegar também na classe alta. Em um clima tradicional e nostálgico os versos “a ganância vibra, a vaidade excita/ devolva minha vida e morra” ganham vida.

CAMPANHA
Lançada no final de abril, a campanha* relacionada ao lançamento do EP arrecadou mais de R$ 125 mil nas primeiras semanas, o suficiente para ajudar cerca de três mil pessoas. A meta final do projeto idealizado em conjunto com a agência AKQA e o Coala.Lab, do Festival Coala, é conseguir R$ 1 milhão.

A sensação mais próxima de alegria fica por conta de O Tambor, canção que finaliza o EP com uma energia mais dançante e alto astral, com referências no soul, apoiada em uma orquestra que de fundo enriquece a canção. Criolo inicia com “Chega de ser, de sofrer, de chorar / mastigar toda desgraça com pão” e o final fica com Milton, que celebra em ritmo de festa com “hoje o tambor vai se rebelar / onde isso vai dar?”.​

Além dos cantores, o pianista recifense Amaro Freitas participou nas releituras de Existe Amor em SP, lançada originalmente no disco de estreia do rapper, e Cais, clássico do Clube da Esquina. Ainda, o maestro Arthur Verocai fica a frente da produção de O Tambor e Dez Anjos, esta última composta por Criolo e Milton a pedido de Gal Costa para Estratosférica, seu álbum de 2015.

Ao final do EP ficamos com a certeza de que o amor precisa existir, para acalmar, acolher e diminuir os impactos. Por enquanto, vivenciamos a rua pelo olhar e percepção de Milton Nascimento e Criolo que, mesmo de casa, mostram que é preciso ressignificar a rua, fazendo-se chegar onde a necessidade está ainda presente e urgente.


* As doações podem ser feitas no existeamor.com/doe através da plataforma de crowdfunding administrada pela Benfeitoria. O fundo é gerenciado pela SITAWI, que repassará os recursos para organizações como É de Lei, SP Invisível, Arsenal da Esperança, entre outras.

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