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Com o álbum "III", Banks nos convida a mergulhar em profundidade em seus sentimentos e em sua talentosa versatilidade musical.

Com o álbum “III”, Banks nos convida a mergulhar em profundidade em seus sentimentos e em sua talentosa versatilidade musical.


Após nos levar ao altar como uma deusa passional, a californiana Jillian Rose Banks nos convida a contar até três em seu mais recente e maduro álbum de estúdio, intitulado III. E, caso você não tenha entendido as referências no início deste parágrafo, nós é quem os convidamos para conhecer a discografia impecável de uma artista sentimentalmente cativante. Para isso, coloque seu fone de ouvido, abra o Spotify, dá play em III e mergulha com a gente nesse disco. Abaixo, nós te guiaremos durante esse mergulho – e em profundidade.

 

BANKS

Alguns compositores parecem ter nas mãos uma facilidade singular de se expressar. E, assim, desenhar em versos e estrofes aquilo que sentem ou deixam de sentir. Cantora e compositora, Banks é uma dessas artistas que, com aptidão ímpar, traduzem em suas músicas aquilo que nós, ouvintes, não conseguimos verbalizar acerca de nossas dores e amores. Em III, ela nos leva novamente a se identificar com cada palavra que compõe.

Descrito pela intérprete como uma janela para que a possamos conhecer profundamente, a obra sucede os álbuns The Altar (2016) e Goddess (2014), sendo, portanto, o terceiro lançamento da artista – daí, a redundância do título. Divulgado em 12 de julho, o disco contém treze faixas, das quais todas as composições são creditadas a Banks, que assume um protagonismo na construção lírica do álbum, algo já esperado pelos que a acompanham há algum tempo. Todavia, III conta, ainda, com outros dezesseis compositores.

Para dar ritmo às caprichadas composições, a artista teve a colaboração dos produtores BJ Burton, Buddy Ross, Francis and the Lights – com quem, inclusive, canta a música Look What You’re Doing To Me – e Hudson Mohawke. Juntos, deram ao disco uma sonoridade mais “alegre” se comparada às dos trabalhos anteriores de Banks. Para ser menos generalista, III soa mais arriscado, diversificado e mainstream do que os antecessores, mais sóbrios, pesados e melancólicos.

A tendência da intérprete em adotar uma sonoridade mais pop já era perceptível desde The Altar, onde apostou em músicas mais comerciais, como Gemini Feed e Trainwreck, deixando de lado a sisudez de Brain e das demais faixas de seu debut, Goddess, que de tão maciço chega a ser difícil de engolir. Com Gimme, carro-chefe do III, a  compositora mergulha de vez nessa pegada mais energética e mercadológica – ela quer que você deixe a música no repeat.

 

III

Apresentado ao público no dia 29 de abril, cerca de duas semanas antes do lançamento do disco, o lead-single é uma faixa trip-hop com elementos de pop e R&B alternativo. A música possui samples de My Love, de Justin Timberlake com T.I., que, ao lado de tambores, sintetizadores e backing-vocals, dão à Gimme um ritmo gradualmente frenético, contagiante e dançante, que flerta com a dança contemporânea. Liricamente, é um grito de autoconfiança e prepotência ao esbravejar sobre conquistarmos o que queremos e o que julgamos merecer.

Porém, o disco não se mantém unicamente nas mesmas notas do primeiro single. Mostrando mais uma vez que é tão humana quanto nós, Banks preencheu o álbum de altos e baixos,  tanto em relação à sonoridade quanto às letras. É um trabalho de variações emocionais, com músicas que falam desde superação à dependência, da negação à entrega, e que te levam, literalmente, do Havaí ao Alasca, e vice e versa. Com isso, III mostra-se narrativamente interessante, repleto de dubiedades que o tornam ainda mais verdadeiro sentimentalmente.

Com isso, o disco revela a vulnerabilidade e a fragilidade de alguém que ama, já amou ou deseja amar, e até mesmo de quem só quer deixar pra lá e seguir em frente. Tais sentimentos são largamente explorados pela tracklist. Enquanto Gimme te convida a conquistar, o piano de Contaminated traz à tona a melancolia de uma relação desgastada. Se por um lado Stroke grita sobre como o outro pode ser narcisista, Godlesstambém conhecida como a melhor faixa do disco, fala a respeito da nossa dependência em relação a quem amamos.

Mas, nesse vai e vem de sentimentalismos, Banks preocupa-se em nos dar alguns respiros. A faixa Alaska, um electro-soul repleto de tambores, por exemplo, funciona como uma pausa lúdica na tracklist. A faixa, cuja composição foi inspirada em um sonho da artista, é divertida. Um outro exemplo é a música The Fall. Neste caso, o instrumental é que parece estar fora da curva. Fluente em piano, que a acompanha em praticamente todas as faixas, Banks traz em na faixa um baixo intenso, acompanhado por palmas rítmicas e abusados backing-vocals.

 

Camadas de Versatilidade

Em linhas gerais, III é um ato de versatilidade, e mostra que a pequena Jillian tem progredido musicalmente. Diferentemente de outros artistas com público semelhante, que insistem em lançar mais do mesmo, Banks é uma exímia degustadora de estilos. Ela não teme explorar os próprios vocais, utilizando-os nas mais diversas camadas de mixagem, ou aderir à experimentações sem repetir fórmulas. Ainda que soe alternativo, o disco flerta com o popular e expressa as potencialidades da intérprete em expandir as fronteiras de seu público.

Além disso, o álbum reflete o amadurecimento pessoal da cantora. Basta ouvir cada faixa acompanhando seus respectivos versos para ver que Banks, ao menos musicalmente, lida de maneira mais perspicaz com aquilo que sente. Particularmente, sinto que as composições representam martírios emocionais que enfrentamos enquanto adultos – e de maneira adulta.

Voltando ao tom crítico, é indiscutível a facilidade de gerar identificação que faz de Banks uma artista íntima, que ao mergulhar fundo sobre si própria faz com que façamos o mesmo.


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