
“Ilha do Sol” (2021) / 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Meticulosamente uma realidade primitiva é traçada em uma ilha. Ilha do Sol, curta de Lucas Parente e Rodrigo Lima se desenvolve em uma Baía de Guanabara silenciosa e decrépita, em que o instinto humano e o primitivismo são explorados.
A Ilha do Sol se mostra habitada por um único homem, a única referência de humanidade que o telespectador recebe para se identificar. A cada detalhe do grafismo que se completa, maiores são as inúmeras tentativas de compreender o que acontece diante aos olhos.
Cada ato e expressão subjetiva são o suficiente para interpretação. Se de um lado surge a inquietação pelo distanciamento de um contexto mais movimentado e populoso, de outro, a sensação de alívio por não existir situações conflitantes quebradoras do ritmo apresentado.
O símbolo que se forma quando a criação chega ao fim é marcante, e até para quem não compreende a referência, fica explícito que há algo significativo ali. A dedicatória para Luz del fuego é o grande direcionador conclusivo.
Para além do que é mostrado em tela, existe uma lacuna aberta na alma de São Gonçalo, município em que a Ilha do Sol é localizada. Às margens da praia da Luz, a artista Luz del Fuego foi assassinada. Era conhecida por suas apresentações sensuais em quais dançava com serpentes amestradas, uma representação musical singular para a época em que viveu.
Um pouco antes da sua morte, havia comprado a pequena ilha e inaugurado um resort naturista, cenário de nudismo em meio à natureza caiçara. O escândalo foi tanto que se seguiu à tragédia. Dentre todos os significados e sentimentos que o curta aborda, a violência esquecida e o corpo como resistência é o maior deles. Ilha do Sol é um convite à uma experiência de reflexão interna como seres que somos e externa como sociedade.