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No último Dia Internacional da Mulher, a editora Boitempo lançou A Liberdade é uma Luta Constante, da ativista e autora Angela Davis. Esse é o terceiro título de Davis disponível no Brasil, considerando que o primeiro, Mulheres, Raça e Classe (1981) foi traduzido apenas em 2016. Com a crescente discussão sobre questões de cunho social na sociedade brasileira, a autora se consolida cada vez mais como uma referência.

Nascida em 1944, Angela Davis carrega uma trajetória de luta. Em 1970, integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos e o grupo Black Panther. No mesmo ano, foi acusada de conspiração e sequestro e passou a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI, sendo inocentada de todas as acusações 18 meses depois. Na época, artistas como John Lennoncom Angela, e os Rolling Stones, com Sweet Black Angel, homenagearam e pediam a libertação da ativista em canções. Dirigido por Shola Lynch, o documentário Libertem Angela Davis (2012) também retrata esse período.

Resultado de uma conspiração, Angela Davis, ficou presa por mais de um ano. Na foto, Davis acende um cigarro enquanto dá entrevista, em 1971, para o Associated Press, de dentro da cadeia de Santa Clara, em Palo Alto

Nas palavras da ativista brasileira Djamila Ribeiro, que assinou o prefácio de Mulheres, Raça e Classe, a esquerda tem muito o que aprender com Angela Davis. “Num momento em que as militâncias negras ganham mais visibilidade no Brasil e com isso são covardemente atacadas – inclusive por integrantes de esquerda –, é fortalecedor termos Angela Davis no País ressaltando a importância da luta das mulheres negras, ainda à margem da sociedade em sua grande maioria”, escreveu em um artigo da Carta Capital. Outra importante autora que tem Davis como referência é Judith Butler, filósofa pós-estruturalista, comentando que “Angela Davis reúne em palavras lúcidas nossa história luminosa e o mais promissor futuro de liberdade”.

Em Mulheres, Raça e Classe, a autora analisa, por um viés marxista, as opressões sistêmicas sofridas por grupos minoritários. Retratando a história do marxismo e também do feminismo, a escritora reforça a importância de se pensar em esferas interseccionais, pois em uma sociedade capitalista, colonialista e patriarcal, as opressões se relacionam profundamente.

A autora também é categórica ao afirmar que no Brasil e nos Estados Unidos não se pode dizer que a escravidão foi de fato abolida, já que os dois países carregam resquícios desse período, como a violência policial sistêmica e o encarceramento em massa da população negra. Documentários como Eu Não sou Seu Negro (2016) e 13ª Emenda (2016) ilustram a colocação de Davis.

Já em Mulheres, Cultura e Política, o segundo livro da escritora lançado no país, a abordagem é mais ampla e engloba também as lutas de países periféricos. Esse, aliás, é um dos fatores que faz com que Angela Davis seja uma boa referência para a militância brasileira: seus estudos não são centrados apenas na sociedade norte-americana. Uma das ideias mais interessantes presentes na obra é a maneira com que a autora procura tirar o estigma negativo da palavra radical. “Radicalismo significa, simplesmente, entender as coisas desde a raiz”, escreveu.

O mais recente lançamento, A Liberdade é Uma Luta Constante, reúne uma coleção de seus artigos e discursos proferidos entre 2013 e 2015. Em julho de 2017, a ativista veio ao Brasil e participou de palestras e conferências. No Dia Latino-Americano e Caribenho da Mulher Negra, lotou a reitoria da Universidade Federal da Bahia.

Em tempos de um crescente e aterrorizante conservadorismo, conhecer Angela Davis é preciso.


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