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No ano de 2017 a primavera feminista chegou a Hollywood e reivindicou para as mulheres respeito, igualdade e reconhecimento diante e detrás das câmeras. Recorrentemente apagadas da historiografia do cinema, agora elas estão em foco escrevendo, dirigindo, fotografando, produzindo dentre outras funções.

Mulher-Maravilha (2017), sucesso da diretora Patty Jenkins (também responsável pelo excelente Monster – Desejo Assassino, de 2003), trouxe uma visão corajosa e respeitosa sobre o feminino. Provou-se que mulheres não-objetificadas e em protagonismo conseguiam, sim, levar público às salas de cinema, que as mulheres são consumidoras de ”Cultura Pop” e que querem se sentir representadas nas telas. Lady Bird – É Hora de Voar (2017), filme de estreia na direção da atriz e roteirista Greta Gerwig, sobre o desabrochar de tornar-se adulta, bateu recorde de críticas positivas no site Rotten Tomatoes e levou a diretora a concorrer ao Oscar. Provou-se, por fim, que uma mulher falando sobre o ser mulher, o faz com mais propriedade.

Nessa lista encontram-se 8 mulheres inovadoras e fantásticas que usaram da arte para dar voz a suas iguais e a si mesmas. Diretoras que falam do feminino com personalidade e complexidade, e que são obras essenciais para qualquer mulher e qualquer cinéfilo.


Tramas do Entardecer

de Maya Deren; 1943

Maya Deren foi uma diretora e teórica tcheca pioneira no cinema experimental. Meshes of the Afternoon é um curta de pouco mais de 14 minutos e usa da associação de imagens na montagem para criação de sentimentos e percepções muito subjetivas de cada espectador. Ele conta a história de uma mulher que ao retornar para casa têm sonhos bastante vívidos e desconexos, que podem ou não ser realidade. Sua inteligência e inovação surpreendem pela utilização da confusão das percepções de tempo e espaço e da quebra das narrativas lineares do tipo de cinema mais popular da época, o cinema clássico americano.


Cléo das 5 às 7

de Agnès Varda; 1962

Agnès Varda fez sucesso esse ano ao se fazer presente na foto oficial do Oscar por uma fotografia de papelão em tamanho real, mas a cineasta belga é grande figura do cinema há décadas e uma das maiores diretoras em atividade no auge de seus 89 anos. Concebida dentro do movimento cinematográfico francês nouvelle vague, Cléo das 5 às 7 acompanha duas horas da vida de Cléo, enquanto a personagem espera pelo resultado de um exame que dirá se ela tem ou não câncer.


Jeanne Dielman, 23 Commerce Quay, 1080 Brussels

de Chantal Akerman; 1976

A linguagem peculiar de Chantal Akerman fica clara nessa obra, uma história sutil de uma dona de casa alienada que cumpre seus afazeres de forma mecânica, apenas para sobreviver. Acompanhando durante três dias nossa protagonista, descobrimos que ela também se prostitui em sua própria casa para conseguir manter seu filho após sua viuvez. O filme é um marco no cinema sobre sua utilização de tempo e espaço dentro das mise en scene, criando uma atmosfera bonita e real, apesar de sua simplicidade.


A Hora da Estrela

de Suzana Amaral; 1985

Baseado no romance homônima de Clarice Lispector, A Hora da Estrela é a obra prima da diretora paulista Suzana Amaral, e rendeu o Urso de Prata de melhor atriz para Marcela Calixto e Prêmio da Crítica para Suzana no festival de Berlim. O filme acompanha Macabéa, a “datilógrafa e virgem e fã de coca-cola”, em sua chegada a São Paulo em busca de uma vida melhor e de um amor. O filme passa do livro para a tela a delicadeza e inocência de Macabéa ante a dureza da cidade grande e entretém e emociona seu espectador. De brinde ainda temos Fernanda Montenegro como a cartomante Madame Carlota.


As Virgens Suicidas 

de Sofia Coppola; 1999

Sofia Coppola é a diretora mais conhecida do grande público e a As Virgens Suicidas é um de seus longas mais inteligentes e aclamados. Num bairro classe média americano reside a família Lisbon e suas cinco filhas cometeram suicídio. O filme acompanha, então, a jornada para descobrir as motivações dessas meninas tão jovens e que pagam com a vida por viver em um mundo de repressões e de escolhas que elas não fizeram.


A Mulher Sem Cabeça

de Lucrecia Martel; 2008

Lucrecia Martel é uma brilhante diretora argentina que vem angariando fãs por seu cinema inteligente, agudo e subversivo. A Mulher Sem Cabeça acompanha a história de uma mulher de classe alta que comete um atropelamento, e temerosa sem saber se matou um cachorro ou uma criança, parte e prefere sofrer com a dúvida. O filme perpassa a agonia e remorso de sua protagonista que se nega como assassina, e toda a composição de planos e enquadramentos é milimetricamente calculada para enriquecer a narrativa a um ponto quase visceral.


O Atalho

de Kelly Reichardt; 2010

O Atalho é um experimento da diretora Kelly Reichardt sobre o gênero faroeste, porém contado e vivido por mulheres. O filme acompanha três famílias que atravessam o deserto de Oregon na busca de uma vida melhor. A câmera afiada e bem trabalhada de Reichardt está sempre do lado feminino impulsionando a narrativa e é um filme indispensável para quem gosta de pensar sobre a câmera que filme as mulheres.


Que Horas Ela Volta?

de Anna Muylaert; 2015

Aclamado no ano de 2015 pela forte crítica social e pela atuação magistral de Regina Casé, Que Horas Ela Volta? fala dos conflitos entre uma mãe doméstica e a filha que quer ser arquiteta, pondo em cheque uma crença nacional de fim da escravidão quando as classes altas ainda mantém senzalas disfarçados de “quarto de empregada” e amas de leite que criam os filhos das patroas e não os próprios. No fim, a obra sutil, inteligente e emocionante de Muylaert nos leva a pensar sobre toda a estrutura social do Brasil e sobre a diferença gritante de oportunidades, mas fala também das dores e delícias de ser mãe, amar um filho acima de tudo e o ver cometendo os mesmos erros.


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