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Em meio ao caos da fantasia, "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" encontra no intimismo e calmaria seus momentos mais potentes.

TTudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é não só o título do novo filme dos Daniels (dupla de diretores formada por Daniel Kwan e Daniel Scheinert), mas também um resumo preciso do que é a confusa, inconstante e divertida experiência proporcionada pelo longa.

De fato o título engloba a essência do projeto: 2h20 acompanhando Evelyn Wang (Michelle Yeoh) mergulhar em uma aventura fantasiosa entre realidades paralelas para salvar a existência de diversos multiversos coexistentes no espaço-tempo. Paralelamente, ela precisa lidar com a iminente falência da sua lavanderia por questões tributárias pendentes, com um casamento prestes a acabar e com a conturbada e incompreendida relação com sua filha lésbica.

Ao Mesmo Tempo

Pela descrição caótica e pelo título extenso dá para entender que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é um projeto de aparência ambiciosa, mas que troca o almejo artístico da execução para abraçar o caos. Nesse sentido, o filme se desenvolve pela primeira hora (ou algo do tipo) com um frescor e uma imprevisibilidade muito cativantes. A montagem é dinâmica e precisa ao picotar os passeios da câmera e a inventividade dos Daniels em lotar o plano de informação visual, de uma maneira até bem informativa e direta.

É, de alguma forma, um trabalho que lembra muito o das irmãs Wachowski em Matrix — e se há uma influência clara aqui, é mesmo como referencialismo e homenagem. Não que o filme dos Daniels seja uma bagunça desgovernada, mas as Wachowski entendem melhor como trabalhar a cacofonia social dos anos 2000 tanto em discurso, quanto em forma.

Passada essa primeira hora de apresentação da dinâmica familiar da protagonista e de contextualização do que está em jogo (seja em nível universal ou ao alcance mundano para a realidade da protagonista), Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo começa a sofrer com a própria criatividade já que passa a concentrar em uma única linha narrativa – até bem simples – a confluência de diversos acontecimentos paralelos que incham e alongam o desenrolar.

Se por um lado existe esse desgaste (até mesmo na minutagem da projeção), há uma constante imprevisibilidade narrativa que minimamente instiga o espectador a não desistir do que está assistindo. No que cabe ao visual, a pirotecnia de efeitos visuais é bem resolvida e cria sequências de ação e viagem interespaciais muito atraentes – algo que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, por exemplo, não faz tão bem. É até curioso que a presença de Michelle Yeoh – em um dos melhores trabalhos da carreira – ajuda a complementar os embates corpo a corpo com uma fisicalidade do kung fu que é bem maneira.

Inclusive, todo o elenco ajuda (e muito) o drama mal trabalhado a ganhar mais potência e força. Para além de Yeoh, os destaques são Ke Huy Quan e Stephanie Hsu vivendo, respectivamente, o gentil e amável pai/marido Waymond e a reprimida magoada filha Joy.

Curiosamente, em meio a viagens pelo multiverso, criaturas com dedos de salsichas e toda a inquietação frenética do visual, o grande esmero do filme está nos momentos íntimos e mais parados. E aí está o principal trunfo de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, em meio a todos elementos de fantasia, encontrar os momentos de humanidade e afetividade que nos fazem querer lavar a roupa suja e cuidar do imposto de renda com alguém que amos.

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