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“Toy Story 4” brinca com o novo e o adeus

"Toy Story 4" é um belo capítulo da franquia, abrindo o precedente para novas histórias ao mesmo tempo em que dá um (novo) adeus.

“Toy Story 4” é um belo capítulo da franquia, abrindo o precedente para novas histórias ao mesmo tempo em que dá um (novo) adeus.


O quarto filme da franquia de animação mais emblemática da história chegou aos cinemas no último dia 20. Toy Story acompanhou uma geração inteira, e agora abre as portas pra mais uma.

O primeiro filme, de 1995, conhecido por ser o primeiro longa completamente animado em 3D, foi grande responsável pela ascensão da Pixar como um dos mais relevantes estúdios de animação. O segundo, de 1999, consolidou o sucesso da franquia. 11 anos depois, em 2010, os fãs dos primeiros filmes já estavam adultos e Toy Story 3 concluiu a trama de forma tocante – a cena da despedida do Andy (John Morris) com os seus brinquedos é uma das mais emocionantes da história do cinema. Então, por que um quarto filme? A resposta é simples e óbvia, e o título da franquia responde. A história nunca foi sobre o Andy, mas sobre os brinquedos. A despedida ainda não estava completa.

Toy Story 4 acompanha os novos dramas do Woody (Tom Hanks). A Bonnie (Madeleine McGraw), sua nova dona, tem seus brinquedos favoritos e o caubói está longe de ser um deles. Mas o personagem está muito mais maduro, e Woody já consegue pôr suas frustrações de lado e pensar no bem da criança. É então que entra o Garfinho (Tony Hale), um novo brinquedo criado pela Bonnie a partir de lixo e que acaba por tornar-se seu xodó.

Garfinho, no entanto, não se enxerga como brinquedo e vai tentar fugir de todas as maneiras. Numa repetição do que acontece em quase todos os outros Toy Story, lá se vai o Woody em busca desse novo personagem que insiste em se perder, acabando por reencontrar um antigo amor e conhecendo um novo mundo de Brinquedos Perdidos.

Woody e Garfinho passam por uma grande aventura antes de fazerem as pazes com as suas realidades

É interessante pensar que toda a aventura dos brinquedos que estão perdidos serve para que o Garfinho seja… encontrado! Mas, muito além disso, para que os personagens antigos se encontrem internamente. É o jeito Pixar de ser. Por mais escondida que a mensagem e a reflexão esteja (dessa vez encoberta por muita aventura, piada e ação), ela está ali.

O resgate da personagem Betty (Annie Potts), agora uma espécie de líder dos Brinquedos Perdidos, é um acerto por inúmeros motivos. Primeiro porque, é claro, num filme de 2019 não cabe mais uma personagem feminina tão passiva, com devoção ao par masculino e sem protagonismo como ela era em 1995. Betty não é mais bela, recatada e do lar.

No novo capítulo, Betty está empoderada e independente, sendo a responsável por liderar o grupo no resgate de Garfinho – ao lado de sua amiga, Isa Risadinha

A boneca de porcelana encarna uma aventureira que, apesar de dura e cheia de opinião, não perde o carinho com seus amigos. Ela pode lutar pra provar seu ponto, mas sabe a hora de deixar o ego de lado a fim de ajudar Woody. A relação de contraponto estabelecida entre os dois é um dos pontos altos do filme, inclusive. Uma pena que, para ela ganhar protagonismo, a vaqueira Jessie (Joan Cusack), antes uma peça importante da franquia, é quase deixada de lado pelo roteiro, desperdiçada.

Os novos personagens de Toy Story também merecem atenção. Isa Risadinha (Ally Maki), Duke Caboom (Keanu Reeves), Coelhinho (Jordan Peele), Patinho (Keegan-Michael Key), e até o próprio Garfinho são super divertidos! Seus dramas internos são pouco explorados, e não conhecemos muito do passado de cada um – exceto Duke, que tem um momento para brilhar, e Garfinho. Esse último, apesar de parecer chato e repetitivo no começo, ganha profundidade e passa a movimentar a trama e deixa de ser o mero “objetivo de busca” de todos.

O pequenino Duke Caboom, dublado por Keanu Reeves, é um divertido personagem, com uma certa importância no desenvolver do filme – e um triste passado

O Coelhinho e o Patinho são o grande alívio cômico do filme e protagonizam uma sequência que lembra algo que tem em Homem-Formiga e que, apesar de simples, parece muito inventivo e até ousado para uma animação Disney. Ótimas adições ao enredo, apesar de roubarem todo o protagonismo da galera antiga. Por fim, Gabby Gabby (Christina Hendricks), a antagonista, que baita surpresa! Há tempos que uma animação não se preocupava em criar um vilão consistente, motivado e interessante. As camadas dessa boneca são de surpreender!

Não dá pra falar do bom desempenho dos personagens sem citar a excelente dublagem brasileira. A adaptação do texto para o português é primorosa, assim como tem sido nos últimos filmes Disney. Mais de uma vez tem piada essencialmente brasileira ou alguma referência que só a gente vai entender. Isso gera uma identificação absurda com o público, principalmente com as crianças. Excelente trabalho!

Gabby Gabby é um brinquedo com um ar macabro, dominando a loja de antiquidades em que mora

Este é o Toy Story mais divertido dos quatro da franquia. Entretenimento puro, com cenas de ação bem boladas e que, apesar de ter cenários repetidos durante a mais de 1h30 de duração, não deixa de trazer novidades. O investimento no humor é forte e, em algum momento, todos os personagens servem de alívio cômico – e só o Buzz (Tim Allen) sobrando nessa. Um lendário personagem da franquia, Lightyear fica reduzido a uma piada que cansa de tanto que é dita. O co-protagonista merecia mais, mas ao menos ganha uma cena bonita no final.

Por ser Pixar em sua mais pura essência, não se prepare para outra: o filme vai tentar te fazer chorar, independente do quanto ou a que momento. A sensação de adeus se faz presente de novo no fim desse filme, e ganha uma forma até mais definitiva se comparado ao terceiro Toy Story. Se vai existir um quinto episódio, é impossível adivinhar – os produtores e criadores são bem evasivos com essa pergunta. Porém, temos no longa mais um ciclo se encerrando de forma muito bonita, emocionante e sincera. A cena cena final é simples e poderosa, servindo como o fim digno para personagens que conhecemos há tanto tempo.

Ao final, “Toy Story 4” é mais um belo e emocionante acerto da Pixar

Toy Story 4 não deveria existir, mas existe, e cumpre muito bem seu papel. Dentre todas as obras-primas criadas pela Pixar, esse com certeza não é um destaque. Mas não precisava ser. É difícil que uma franquia seja impecável hoje em dia em Hollywood. Caso isso seja um adeus definitivo, ficou muito satisfatório. E caso seja um convite para um mundo novo… amigo, estou aqui!

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