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Tim Burton chega à BH com uma exposição inspirada no cineastra, que construiu um legado importante com famosos filmes.

Tim Burton chega à BH com uma exposição inspirada no cineastra, que construiu um legado importante com famosos filmes.


PPeculiar, imaginativo e perdido em seus próprios pensamentos. Essas são algumas palavras que servem para descrever o diretor, produtor e roteirista Tim Burton, que além de contar com mais de 20 filmes em sua filmografia, completa 35 anos de carreira em 2017.

 

Tim Burton

Timothy “Tim” Willian Burton nasceu em 1958 na cidade de Burbank, Califórnia. Ele é o filho mais velho de Bill Burton e Jean Erickson, mas mesmo tendo um irmão mais novo, Tim Burton podia ser considerado um garoto solitário, durante sua infância. Ele também tinha dificuldades em sua vida escolar e como forma de fugir da realidade gostava de ler os clássicos sombrios de Edgar Allan Poe e de assistir filmes de terror de baixo orçamento. O pequeno Tim tinha afinidade pelos desenhos e, após terminar o colegial, ganhou uma bolsa da Disney para estudar no Instituto das Artes da Califórnia na cidade de Valencia, na Califórnia. Estudou animação por três anos e depois foi contratado como aprendiz de animador pelo Walt Disney Studios. Burton chegou a trabalhar na equipe técnica do filme O Cão e a Raposa (1981), mas ficou insatisfeito com a direção artística do filme.

Foi durante esse período que o cineasta fez seus três primeiros curtas metragens: a animação em stop-motion Vincent (1982) e dois live-actions João e Maria (1983) e Frankenweenie (1984). Esse último contava a estória de um cachorro que foi morto em um atropelamento e que acaba sendo ressuscitado, em uma analogia ao mostro Frankenstein. Contudo, Frankenweenie foi considerado muito sombrio para os padrões da Disney, o que acarretou na demissão de Tim Burton.

Fora do Walt Disney Studios, Burton passou a ter maior liberdade de criação e aos poucos foi se transformando em um dos cineastas mais inventivos de sua geração.

 

Influências

Filmes como Edward Mãos de Tesoura (1990), Batman: O Retorno (1992), A Fantástica Fabrica de Chocolate (2005) e Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007) apresentam algumas características em comum: os roteiros abordam os medos humanos; os cenários se deformam; os ambientes são obscuros e os atores trabalham com expressões exageradas. Essas são características do Expressionismo Alemão, movimento cinematográfico que se deu na Alemanha no inicio do século XX, e que é uma das grandes influências de Tim Burton.

Burton durante a produção de “Batman” (1989), ao lado de Michael Keaton (Batman) e Jack Nicholson (Coringa)

Outra forte influência do diretor é o escritor Edgar Allan Poe. Os filmes de Tim quase sempre trazem universos macabros, em que o mundo dos mortos é mais interessante do que o mundo dos vivos. Em alguns filmes é perceptível a cena de criaturas mortas tirando suas cabeças para recitar Shakespeare no Halloween, o assassinato de uma jovem noiva e até mesmo crianças revivendo um cachorro no estilo Frankenstein. Toda essa atmosfera sombria e a obsessão por narrativas macabras apenas reforça o quão grande é a influência, direta ou indireta, de Poe na carreira de Burton e isso foi um fato importante para formar a identidade do diretor, que é conhecido por seus filmes peculiares.

A figura cinematográfica do ator Vincent Price também teve uma grande importância durante a infância de Tim Burton. Anos mais tarde isso se tornou evidente no curta Vincent, que conta a infância do jovem e excêntrico Vincent Malloy. O filme é em forma de poema, escrito por Burton e narrado por Price, o que reforça a admiração do diretor pelo ator.

 

Principais Trabalhos

Tim Burton é um cineasta que soube, em sua carreira, transitar entre os filmes autorais, como Edward Mãos de Tesoura (1990), e alguns blockbusters ou filmes de estúdios, como Alice no País das Maravilhas (2010). Sendo assim, durante seus 35 anos de carreira, atuando como diretor, produtor, roteirista e com uma filmografia de mais de 20 filmes, existem alguns trabalhos que se destacaram.

Os Fantasmas se Divertem (1988) foi o primeiro sucesso da carreira do diretor. O filme reúne com humor, os delírios e a estética que seguiria. Os pontos altos e que se destacam são: as piadas ágeis, a música do final e a maquiagem carregada no rosto de Michael Keaton. Atualmente, há quem diga que o diretor seja um dos responsáveis pelo atual subgênero de super-heróis no cinema, devido a seu filme Batman (1989). Com uma construção de atmosfera impressionante, dando vida a uma Gotham City esfumaçada e soturna, uma representação poderosa do consagrado vilão, Coringa, e uma direção consistente, o longa do homem-morcega alcançou sucesso de público e crítica.

Um dos personagens mais marcantes de Michael Keaton foi como o personagem-título de “Beetlejuice”

O filme Edward Mãos de Tesoura pode ser considerado um dos trabalhos mais populares de Tim Burton. Neste filme acompanhamos a trajetória de Edward (Johnny Depp), uma figura atormentada que simbolizava e causava medo das pessoas, mas depois gerava um encantamento. Existe certa poética no filme, que fica mais evidenciada no final do longa, o que aumenta a mitologia em torno de um homem com mãos de tesoura.

O stop-motion O Estranho Mundo de Jack (1993) também foi um filme que marcou a carreira do diretor, podendo ser considerado uma das mais inventivas animações de todos os tempos, no aspecto da narrativa e cinematógrafo. O filme conta a história de Jack Skellington (Chris Sarandon), que é considerado o “Rei das Abóboras” na cidadezinha de Halloween Town. Porém, tudo toma um rumo diferente quando Jack acaba indo parar na Cidade do Natal, um lugar alegre, maravilhoso e extremamente colorido, totalmente o oposto de Halloween Town. A partir desse momento, Jack resolve levar o “Natal” para sua cidade o que desencadeia inúmeras confusões.

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999)por sua vez, é um filme em que Tim Burton consegue criar um cinema fantástico, que transita entre a fantasia, o delírio, o sonho infantil e o terror gótico. As florestas com árvores retorcidas, um fantasma movido por um desejo e uma fotografia gélida conseguem criar um dos trabalhos mais góticos de toda a carreira do diretor. O alívio cômico do filme está presente no personagem Ichabod Crane (Johnny Depp), mas isso não muda o fato de que é uma história de terror.

“O Estranho Mundo de Jack” tornou-se um dos maiores clássicos de Halloween, marcando o cinema como um todo

Em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003) o diretor consegue reunir o humor, o drama, grandes personagens e o equilíbrio visual em uma só obra. Na trama acompanhamos a tentativa de William (Ewan McGregor) reconstruir a história de seu pai: Edward Bloom (Albert Finney). Como não possui muitas informações, ele acaba completando os espaços vazios com histórias maravilhosas que dão nome ao filme. Nesta obra, Tim Burton consegue criar uma ambiguidade entre a realidade e a fantasia, é a química perfeita.

 

A Fantástica Fábrica

Uma característica marcante do diretor é o seu gosto por releituras. Tim Burton não faz refilmagens, ele dá a sua própria visão sobre a outra obra. Um dos casos mais famosos foi o filme A Fantástica Fabrica de Chocolate, inspirada na obra do escritor britânico Roald Dahl. A primeira versão, dirigida por Mel Stuart em 1971, se tornou um clássico rapidamente, tornando a missão de refilmar um clássico do cinema não é uma tarefa fácil e aí está o ponto central da questão: A Fantástica Fabrica de Chocolate, de Burton, não é uma refilmagem. O filme é uma versão cinematográfica da história criada por Dahl, mas com o olhar específico de Burton em relação à obra.

A trama gira em torno de Charlie Bucket (Freddie Highmore), um garoto pobre que leva uma vida simples e humilde ao lado de sua família. A casa onde moram é pequena e torta e na maioria dos dias só tem sopa de repolho para o jantar. A família do garoto é composta por seus pais (interpretados por Helena Boham Carter e Noah Taylor) e seus quatro avós doentes, que não saem da cama – um deles é o vovô Joe (David Kelly), que já trabalhou para o mais excêntrico e famoso fabricante de doces: Willy Wonka (Johnny Depp).

“A Fantástica Fábrica de Chocolate” é a quinta colaboração entre Tim Burton e Johnny Depp

Um dos maiores sonhos de Charlie era conhecer Willy Wonka, mas ele sabe que isso dificilmente aconteceria já que há anos ninguém o via sair da sua fábrica, apenas os chocolates saíam de lá. Porém, essa situação muda quando o chocolateiro lança um concurso mundial: cinco barras de chocolate, o Wonka Bar, vem premiados com um tíquete dourado que dá ao premiado o direito de visitar a fábrica e de conhecer o tão famoso Willy Wonka em pessoa. Enquanto milhares de crianças ao redor do mundo compram as barras na tentativa de encontrar as barras premiadas, Charlie tem poucas chances de encontrar o tíquete dourado uma vez que a condição financeira de sua família é difícil e ele não tem como comprar várias barras. Porém, devido a um tremendo golpe de sorte do destino, Charlie se torna uma das cinco crianças sortudas que terá a chance de conhecer a fábrica, juntamente de seu grande ídolo: Willy Wonka.

O telespectador passa a acompanhar a trajetória de Charlie, ao lado do vovô Joe, na fantástica fábrica de chocolate. Além deles, as outras quatro crianças acompanhadas de seus pais: Augustus Gloop (Philip Wiegratz) um garoto da Alemanha que é apaixonado por chocolate; Veruca Salt (Julia Winter) uma menina extremamente mimada por seus pais; Violet Beauregarde (AnnaSophia Robb) que foi criada por sua mãe para ser uma vencedora, de forma que é uma garota extremamente competitiva e por último temos Mike Tavee (Jordan Fry) que é o tradicional “pirralho chato”, um menino viciado em videogame, que odeia chocolate e que acha que sabe de tudo.

Para Tim Burton, Roald Dahl foi um dos primeiros escritores que conseguiu captar bem a combinação de luz e escuridão, além de ter certo humor, ser politicamente incorreto e conseguir unir todas as coisas que adoramos quando crianças e adultos. Durante o longa é difícil dizer onde Roald acaba e Tim começa, os dois conseguem formar uma ótima combinação.

O remake foi marcado por um uso constante de cores bem vivas e muita música

Tim Burton consegue transformar A Fantástica Fabrica de Chocolate em parte dos filmes que compõe o seu universo. Mesmo se tratando de uma história criada por Roald Dahl, o diretor conseguiu deixar sua marca. Os cenários são fenomenais, algo que se deve aos efeitos digitais utilizados e a equipe do designer de produção Alex McDowell, que fez um trabalho fabuloso ao recriar o jardim comestível e a cascata de chocolate. Além disso, Tim também incluiu trechos do livro de Dahl, expandindo assim o mundo fantasioso de Wonka.

 

Johnny, Tim e Helena

Tim Burton também é conhecido por suas parcerias com os atores Johnny Depp e Helena Boham Carter que, na maioria das vezes, estão presentes em seus filmes. Ao todo são seis trabalhos envolvendo a dupla: A Fantástica Fabrica de Chocolate (2005), A Noiva Cadáver (2005), Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), Alice no País das Maravilhas (2010), Sombras da Noite (2012) e Alice Através do Espelho (2016).

Foi através de Edward Mãos de Tesoura (1990) – que mais tarde viria a se tornar um dos clássicos do cinema – que a dupla Burton e Depp se uniu. Johnny foi escalado para o papel principal do filme: Edward. Com roupas pretas, uma maquiagem bastante carregada e poucas falas o ator tornou sua interpretação memorável ao criar um personagem que conseguia transmitir sua inocência através de um simples olhar. Foi após este trabalho que se iniciou a amizade duradoura e a parceria profissional entre o diretor e o ator.

Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Tim Burton durante as filmagens de “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”

Já a trajetória de Tim e Helena Boham Carter se deu através do filme Planeta dos Macacos (2001), onde a atriz interpretou Ari, uma chimpanzé fêmea que protesta contra o modo como os humanos são tratados. Ao longo da trama ela ajuda Leo (Mark Wahlberg) a liderar a rebelião, além de desenvolver uma atração romântica pelo mesmo. Os dois se conheceram nos bastidores do filme e não demorou muito para que eles se envolvessem, contudo o relacionamento chegou ao fim em 2014 quando eles anunciaram a separação.

 

O Mundo de Burton em BH

No início de outubro, Belo Horizonte recebeu a exposição Tim Burton e Suas Histórias Peculiares. O projeto foi realizado no Sesc Palladium, que fica na região Central da capital mineira, fez um verdadeiro mergulho – através de filmes, palestras e atividades variadas – na vida e no estilo peculiar do diretor.

O primeiro dia da atração contou com a exibição de três filmes famosos de Tim: O Estranho Mundo de Jack, Os Fantasmas de Divertem e Batman. O responsável por trás dessa escolha foi Breno Lira Gomes, o curador da exposição. Em entrevista para o jornal O Tempo, Gomes explicou que não foi uma escolha fácil decidir quais filmes seriam exibidos: “Optei por filmes que uma geração mais nova de fãs do Burton pode não ter visto no cinema. Eu tenho 38 anos, cresci no interior e nunca os vi na tela grande. Pensei em pais que viram esses títulos quando jovens e vão levar seus filhos agora”.

“Tim Burton e Suas Histórias Peculiares” ficou em exposição durante um mês no Sesc Palladium, mesmo sem a presença de seu inspirador

O objetivo da exposição foi mostrar a trajetória de um dos cineastas mais importantes de Hollywood, que tem sua carreira marcada por suas ideias peculiares, personagens estranhos e uma grande originalidade. Por mais que Burton esteja passando por certo declínio criativo, não há como não valorizar a importância do diretor para o cinema norte-americano, uma vez que ele já foi considerado uma das mentes mais inventivas e originais.

O Rei das Abóboras querendo substituir o Papai Noel. Uma noiva assassinada. Um cavaleiro sem cabeça. Um barbeiro demoníaco. Um cachorro ressuscitado. Todas essas são algumas das marcas criadas por Tim Burton: um verdadeiro sonhador que prefere o mundo dos mortos, que se inclina para o gótico, dá vida a personagens estranhos e cria filmes memoráveis com seu olhar.


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