fbpx

Satoshi Kon: as principais obras do diretor mais importante do seu tempo

Satoshi Kon possui um legado de muita importância para o cinema mundial, construído através de animações cheias de personalidade.

Satoshi Kon possui um legado de muita importância para o cinema mundial, construído através de animações cheias de personalidade.


AAos 46 anos de idade, Satoshi Kon chegou ao fim de sua vida devido a um tumor repentino que surgiu no pâncreas. A notícia surpreendeu seus fãs e a mídia japonesa, pois o importante cineasta revelou apenas para a esposa e alguns amigos o estado grave e incurável de sua doença. A morte prematura interrompeu a ascensão de um nome importante para o universo das animações orientais, mas que ficou mundialmente conhecido por suas obras: Perfect Blue (1997), Millenium Actress (2001), Tokyo Godfathers (2003) e Paprika (2006).

 

Satoshi Kon

Satoshi Kon nasceu em 1963 na cidade de Kushiro, Hokkaido, e cresceu em um momento importante para as produções de desenhos nas televisões japonesas. Durante o período pós-Segunda Guerra Mundial e a chegada dos soldados estadunidenses ao Japão, o país começou a ser pressionado pela cultura ocidental, abrindo as portas para uma indústria que dava os primeiros passos para se tornar hegemônica. A animação A Branca de Neve e os Sete Anões (1963) estreou no país na década de 60 e chamou a atenção de nomes que se tornariam importantes para a indústria dos animes. Também em 1963, estreou nas televisões nipônicas Astro Boy, a primeira série animada nacional com história contínua e personagens recorrentes, baseado no mangá de um dos ídolos do Kon, Osamu Tezuka.

A grande influência da TV e do cinema motivaram o cineasta a estudar artes plásticas, por isso se formou em Design Gráfico na Musashino Art University sem esperar que o cinema seria algo tão importante em sua trajetória profissional. Em uma entrevista concedida a Anime News Network, Satoshi Kon revelou que inicialmente queria ser um pintor: “Além da pintura, houve também um tempo em que eu queria ser um ilustrador. Como resultado, eu acabei me tornando um mangaká, e agora estou trabalhando com animação. (…) Desde que a arte e os desenhos estavam envolvidos no meu trabalho, independentemente do gênero, eu estava satisfeito. De modo geral, me matriculei no Musashino College of the Arts porque eu queria trabalhar profissionalmente com a arte.”

Após a faculdade, Kon criou o doujinshi (termo japonês para publicações independentes) Toriko e ganhou o segundo lugar em um concurso para mangakás (quadrinistas japoneses) realizado pelo governo japonês. O prêmio rendeu a oportunidade de trabalhar com Katsuhiro Otomo e o ajudou na finalização e edição do mangá Akira, que virou um filme na década de 80 e é até hoje aclamado pela crítica e a audiência. Nesse momento, Kon teve a liberdade de se aventurar como mangaká, roteirista, diretor e animador. Sua participação na indústria cultural japonesa marcou um estilo que inspira muitos artistas.

Após a longa carreira como colaborador em diversas produções, Satoshi Kon conseguiu dirigir o seu primeiro filme em 1994 e teve maior liberdade para se expressar como um autor. O diálogo entre a realidade e o onírico criam camadas e ajudam a trazer indagações complexas sobre questões culturais do Japão e do ocidente, com personagens marcados por conflitos internos e subjetividade.

A grande maioria de sua filmografia foi animada pelo estúdio Madhouse, conhecido por produzir animes como Hunter x Hunter, NaNa, One Punch Man, Death Note, Sakura Card Captors e outros.

 

Perfect Blue

O primeiro filme de Satoshi Kon marcou a sua capacidade como diretor e roteirista ao trazer a psicose da jovem Mima Kirigoe, membro de uma banda de música pop japonesa. Apesar do relativo sucesso do grupo que faz parte, Mima decide deixá-lo para dedicar a sua carreira de atriz. Essa decisão deixou muitos dos fãs indignados, principalmente pelo fetiche construído pela indústria do entretenimento japonês em sempre representar as “ídolos pop” como uma figura inocente e virginal.

Para ascender em sua nova carreira, a protagonista precisou romper com essa imagem e aceitar papéis controversos, o que desencadeou em um surto moral e psicológico pela falta de uma identidade própria. O longa teve o direito de imagem comprado por Darren Aronofsky para usar algumas cenas no filme Réquiem para um Sonho (2000), mas foi em Cisne Negro(2010) que ele mais aproveitou a temática e as cenas de Perfect Blue para expor as crises da bailarina Nina.

 

Millennium Actress

Com uma abordagem mais romântica e temas pouco provocadores, o segundo filme de Satoshi Kon conta a história do cinema japonês de acordo com a vida da atriz de sucesso Chiyoko Fujiwara. Após abandonar a sua carreira de forma totalmente repentina enquanto estava no ápice da fama, Chiyoko é procurada por um diretor interessado em filmar um documentário sobre a sua vida.

Durante as entrevistas, memórias são unidas pelos relatos pessoais e apresentados em forma de imagem para os espectadores, o que une, outra vez, a realidade com a fantasia. A temática abordada rendeu maior destaque no circuito nacional e popularizou o nome do Kon, principalmente por envolver o imaginário dos japoneses sobre as produções cinematográficas durante os períodos que antecederam e procederam a Segunda Guerra Mundial.

 

Tokyo Godfathers

Um alcoólatra, uma adolescente que fugiu de casa e uma ex-drag queen fingem ser uma família enquanto vivem nas ruas de Tóquio. Na véspera do natal, eles encontram um bebê abandonado em uma lata de lixo com apenas uma pista pode ajudá-los a encontrar sua mãe.

Determinados a entregá-los, os três partem uma jornada de autoconhecimento e de grande teor questionativo sobre a família, afeto e a individualidade. Apesar de ter uma história linear e sem a união da realidade com memórias ou a fantasia, o filme carrega diversas significações sobre as dificuldades que possuímos em nos relacionar com outras pessoas.

 

Paprika

Em um futuro próximo, um novo tratamento psicoterapêutico foi inventado por meio de um dispositivo que permite ao usuário visitar o sonho de terceiros. Atsuko Chiba é a chefe de pesquisa desse novo tratamento e começa a usar a máquina ilegalmente para ajudar os seus pacientes psiquiátricos fora do centro de pesquisa. Contudo, o dispositivo é roubado antes que o seu uso fosse sancionado pelo governo e os pesquisadores responsáveis por eles começaram a enlouquecer por causa dos sonhos. O que fez com que Chiba assumisse o seu alter-ego Paprika para mergulhar no mundo do inconsciente em busca do responsável pelo roubo.

O filme volta a trabalhar nuances que unem a realidade com o universo onírico, às vezes em um nível capaz de causar confusão para quem assiste. Contudo, Satoshi Kon utiliza aspectos visuais da animação para complementar as nuances presentes em ambas as realidades, principalmente com o equilíbrio entre a animação 2D e 3D para acentuar detalhes sobre as duas realidades que entram em conflito no decorrer do longa-metragem. O sucesso do filme inspirou o diretor Christopher Nolan a criar seu aclamado longa metragem A Origem (2010), com diversas cenas inspiradas  em Paprika e a temática do sonho como algo principal em sua trama.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Televisão
vics

Mulheres Que Matam

“Why Women Kill” é uma divertida série estrelada por três mulheres, em uma história que busca entender o que leva uma mulher a cometer assassinato.

Leia a matéria »
Back To Top