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Em Roda Gigante, Woody Allen entrega um filme pouco inspirado que se sustenta na bela fotografia e na boa atuação de Kate Winslet.

Coney Island é o (lindíssimo) cenário de Roda Gigante (2017). Ginny (Kate Winslet), uma ex-atriz apaixonada por cinema, trabalha como garçonete e é casada com Humpty (Jim Belushi), um operador de carrossel. O marido tem um comportamento agressivo e a situação se agrava com a chegada de Carolina (Juno Temple), filha do primeiro casamento de Humpty. A moça, que se casou com um gangster, está ameaçada de morte e pede ajuda ao pai. Depois de se envolver com o salva vidas bonito e carismático que trabalha na praia, Mickey (Justin Timberlake), Ginny se vê incomoda profundamente com a relação que seu amante passa a desenvolver com a jovem, entrando em uma trama de triângulo amoroso proibido.

A atuação de Kate Winslet é sem dúvida o destaque do mais novo filme de Woody Allen, lançado em 28 de dezembro. A personagem exige bastante da atriz, que se entrega e protagoniza cenas maravilhosas, que ficam ainda melhores na fotografia de Vittorio Storaro, retratando com cores saturadas um belo verão de 1950.

As diversas nuances do cotidiano e seus dramas e frivolidades, tema constantemente explorado por Allen na maioria de suas obras, estão presentes no filme, assim como o seu humor auto-depreciativo e a melancolia de seus personagens. É possível, até, estabelecer um paralelo entre Roda Gigante e Blue Jasmine (2013), visto que ambos os longas apresentam estruturas e enquadramentos teatrais e protagonistas femininas complexas e intensas.

 

A polêmica com Woody Allen

Com a crescente repercussão do Time’s Up (movimento que tem a finalidade de denunciar casos de assédio e abuso sexual), histórias do passado de Woody Allen voltaram a circular. Sua filha adotiva, Dylan Farrow, afirma ter sido abusada pelo pai quando tinha sete anos de idade. O caso, que já se tornou público há mais de 20 anos, engloba dois inquéritos policiais que investigaram as acusações e não encontraram indícios que poderiam incriminar o diretor. Por outro lado, sabe-se que muitas de suas declarações foram consideradas contraditórias e mal contadas.

Sobre as denúncias que abalaram Hollywood nos últimos meses, Allen afirmou temer uma “atmosfera de caças às bruxas”. O jornalista Álex Vicente, correspondente do El País na França, contou que, ao entrevistar Allen, o assessor do diretor ordenou: “Não faça nenhuma pergunta sobre Harvey Weinstein, Kevin Spacey ou Oliver Stone, senão a entrevista será imediatamente interrompida”.

Eu, que sempre admirei diversas obras do diretor (como A Rosa Púrpura do Cairo, Scoop: O Grande Furo e Ponto Final: Match Point), comecei a questionar se é possível, afinal de contas, separar o artista de sua obra. Penso que essa é uma pergunta que tem sido feita por muitos, nesse momento em que vários podres de tantas estrelas de Hollywood estão escancarados.

É um questionamento conflituoso e aflitivo. Quando nos damos conta que atrizes e (especialmente) diretoras são significativamente menos prestigiadas do que seus colegas do sexo masculino, pelo menos o esboço de uma resposta aparece: precisamos valorizar produções idealizadas e executadas por mulheres. Time’s Up, ou em bom português: já passou da hora, né?


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