fbpx

“Podres de Ricos” investe pesado em um elenco asiático para contar uma história de amor, mostrando, sem esteriótipos, o lado cultural da Singapura.


Existem três palavras que podem definir o filme Podres de Ricos, lançado no dia 25 de outubro: poder, tradição e representatividade. Baseado no livro Asiáticos Podres de Ricos, escrito por Kevin Kwan, o longa vai levar o público a uma viagem cultural por Singapura, mostrando a forte tradição que existe entre os orientais.

A trama da película é focada em Rachel Chu (Constance Wu), uma professora de economia bem sucedida que viaja junto de seu namorado Nick Young (Henry Golding) para Singapura, com o objetivo de conhecer os Young e participar do casamento do melhor amigo de Nick. Conhecer a família de seu namorado é uma pressão e tanto, mas fica ainda pior quando Rachel descobre que eles são podres de rico e uma espécie de realeza em Singapura, com a matriarca da casa sendo extremamente tradicional à cultura. Rachel, por outro lado, não tem nenhum parente importante ou conhecido, tendo sido criada por sua mãe, que há anos emigrou da China para os Estados Unidos, fazendo dela sino-americana.

O que era para ser uma viagem tranquila e relaxante para o casal, acaba se transformando em uma série de problemas. Rachel é atacada por Eleanor Young (Michelle Yeoh), a mãe de seu namorado, uma mulher que acredita que seu filho pode encontrar alguém melhor e de seu próprio nível, e pela ex-namorada de Nick, que tenta amedrontar Rachel de todas as formas. Além do dinheiro, que é um fator importante na relação, também há questão das tradições. Por mais que Rachel seja filha de uma chinesa, a sua forma de agir e pensar é bem diferente das mulheres orientais: ela é independente e segue suas paixões, se distanciando das mulheres orientais, que criam os seus filhos para seguirem um caminho já trilhado e não por um sentimento. O tradicionalismo dos orientais, muito presente na família Young, é tão forte que chega-se a afirmar durante a trama: “Se as tradições não forem passadas para frente, elas morrerão”.

O dinheiro, a cultura e as tradições vão se tornar um grande obstáculo a ser superado por Rachel e Nick. E, talvez, o amor entre os dois não seja forte o bastante para superar essas diferenças tão gritantes. Os dois são colocados diante de um grande dilema: amor ou família. Caso Nick escolha ficar com Rachel, isso vai significar uma ruptura com sua família; e se ele abrir mão de seu amor por conta de sua família, é provável que ele fique amargurado por tal decisão pelo resto de sua vida.

Rachel conhece Eleanor Young, a mãe de seu namorado, Nick

Inclusive, essas barreiras não afetam somente Rachel e Nick. Astrid (Gemma Chan), prima de Nick, sofre com os mesmos problemas com o seu marido, Michael (Pierre Png). Os Young não o consideram bom o suficiente para Astrid, e acreditam que ela poderia ter conseguido alguém melhor, de forma que o casal discute constantemente por esse motivo.

 

Representatividade

É possível perceber que cada vez mais a representatividade está se tornando um fator importante nos filmes, como se pode observar em Pantera Negra (2018). O mesmo acontece com Podres de Ricos, uma vez que seu elenco é composto apenas por atores asiáticos ou sino-americano. A última produção desse porte aconteceu em 1993, em O Clube da Felicidade e da Sorte, de Wayne Wang. Em 2012, de acordo com os dados da pesquisa divulgados pelos Centro de Pesquisa Pew, a população asiática atingiu um recorde de 18,2 milhões de habitantes nos Estados Unidos. Dessa forma, é importante que as produções culturais abordam essa parcela da população, porém não de forma estereotipada.

Em uma entrevista publicada na revista Galileu, a atriz Constance Wu falou sobre a importância dessa representatividade presente no filme:

“Acho que o que é tão especial nesse filme é que as pessoas que viveram essas histórias são as que irão contá-las. Jon Chu (o diretor) teve a experiência de ser um homem asiático-americano, Adele Lim (roteirista) é asiática-americana… Acho que é mais do que uma simples conversinha, porque nós não estamos só falando de diversidade para ser politicamente correto, nós estamos falando de representatividade. E isso não tem nada a ver com diversidade, tem mais a ver com contar a história de uma cultura que é diferente daquela dominante.”

Tudo em Podres de Ricos é construído para aproximar o espectador da cultura Oriental, inclusive demonstrando a diferença de pensamento e comportamento em relação ao mundo Ocidental. O filme emerge na cultura local de Singapura mostrando um pouco da culinária local. Apesar da cidade ser reconhecida por seu modernismo, Singapura é famosa por seus centros de comida, os Hawker Centers e alguns pontos turísticos importante. Além disso, a trilha sonora do filme adaptou músicas conhecidas para versões em chinês, uma forma de estabelecer uma conexão mais profunda com a audiência.

A película foi dirigida por Jon M. Chu, que conseguiu transformar uma história clichê em uma comédia romântica irresistível, uma das melhores lançadas neste ano. Contribuiu muito para esse sucesso o ótimo roteiro, que desenvolveu muito bem os personagens, inclusive os secundários. Constance Wu brilhou ao interpretar Rachel, uma personagem super inteligente, independente e que enfrenta todas as situações de cabeça erguida. Outro grande destaque é Awkwafina, que interpreta Peik Lin Go, sendo a grande responsável pelos momentos de humor e descontração.

No geral, Podres de Ricos é uma comédia romântica gostosa que foge do convencional ao aprofundar na cultura asiática e em suas tradições. Pode ser facilmente considerado como uma das melhores comédias românticas lançadas até então, além de apresentar uma grande representatividade.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Ampulheta
João Dicker

Ampulheta / “Acossado” (1960)

Sempre que me deparo com o termo “filme antigo”, inevitavelmente me pego pensando em Acossado, película-fenômeno de Jean-Luc Godard. Apesar do termo se referir a um sentido cronológico, o primeiro longa de Godard é um dos exemplos magnos de obra de arte atemporal e arrebatadora. Lançado em 1960, Acossado é filme símbolo de Godard, não por ser seu primeiro longa-metragem, mas por já apresentar as características disruptivas e os traços de genialidade que o diretor viria a desenvolver por muitos anos. Ademais, o longa emana a autoralidade e a transgressão formal que o cineasta e seus pares da Cahiers du
Leia a matéria »
Filmes
Rafael Bonanno

Um herói digno de ser super

“Shazam!” é um divertido filme de super-herói de fórmula mais refrescante, cuja trama foca na ideia de estarmos sempre em um processo de aprendizagem. Você se transforma ao dizer “Shazam!”   O que é a dignidade humana? Pensar que há um único exemplo de ser humano ideal é tão antiquado quanto limitado. As grandes mitologias que criamos, no entanto, sempre buscaram expandir a concepção idealizada da dignidade humana por meio de virtudes e qualidades inerentes ao ser. Essa reflexão me tomou por completo logo no começo da projeção de Shazam!, quando presenciamos o encontro sobrenatural do jovem Thaddeus Sivana (Mark

Leia a matéria »
Back To Top