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Seco e duro, “Pacto BRUTAL – O Assassinato de Daniella Perez” foge da dramatização e do sensacionalismo das produções de true crime.

“Eu sempre quis contar essa história, sempre quis que a verdade do processo aparecesse, que essa história fosse contada da forma que aconteceu, e não que permanecesse contada como uma novela barata, um folhetim barato, que é como ela ficou na memória das pessoas”.

ÉÉ com esta frase impactante de Glória Perez que inicia-se o documentário Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez, que chegou ao catálogo da HBO Max em 21 de julho deste ano. Dirigido por Tatiana Issa e Guto Barra, o objetivo do documentário é retratar, sem sensacionalismo os acontecimentos relacionados ao assassinato da atriz Daniella Perez.

No dia 28 de dezembro de 1992, a brilhante e talentosa artista de 22 anos teve sua vida interrompida ao ser brutalmente assassinada pelo ator Guilherme de Pádua, seu colega de trabalho, junto de sua (até então) esposa Paula Thomaz.  O corpo de Daniella Perez foi encontrado num matagal na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, perfurado por 18 punhaladas que atingiram seu pulmão e coração. A brutalidade do caso foi tanta que o coração da atriz ficou exposto.

Na época do ocorrido, o crime impactou o país inteiro. O presidente do Brasil, Fernando Collor, tinha acabado de renunciar, mas só se falava na morte da atriz e de como ela tinha sido assassinada de maneira tão brutal. Daniella Perez fazia parte do elenco da novela De Corpo e Alma, exibida pela Rede Globo, interpretando a personagem Yasmin. Graças ao seu talento e carisma não demorou para que ela caísse nas graças do público, tanto é que Daniella recebeu o apelido de ‘Namoradinha do Brasil’. Sendo assim, houve uma comoção enorme diante do caso.

 

PACTO BRUTAL

Dividido em cinco episódios, Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez conta em detalhes todos os acontecimentos relacionados ao crime: os últimos momentos dos familiares e amigos de Daniella junto dela, que acreditavam que aquele era mais um dia comum e trivial como todos os outros; a sensação de que algo tinha acontecido com Dani, visto que ela não tinha aparecido no ensaio de sua peça e nenhum dos conhecidos de Daniella sabiam a respeito de seu sumiço; a descoberta do corpo; o velório e enterro; as investigações; o julgamento de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz; etc.

O documentário aborda os acontecimentos seguindo a ordem cronológica e para a construção da narrativa foram utilizados diversos recursos: arquivos oficiais do caso, arquivos pessoais e depoimentos de pessoas que eram próximas à atriz. Entre os principais depoimentos temos: Glória Perez (mãe), Raul Gazolla (marido), Rodrigo Perez (irmão), Barbara Ferrante (prima), Eri Johnson (amigo e colega de elenco na novela De Corpo e Alma), Cláudia Raia (atriz e amiga de Raul Gazolla), etc. Além disso, Pacto Brutal contou com depoimentos profissionais da área de imprensa, direito, psicologia, profissionais que atuaram no elenco e nos bastidores da novela De Corpo e Alma, e testemunhas que tiveram algum tipo de relação com o caso.

Pacto Brutal não tem apenas o objetivo de contar como as coisas realmente aconteceram, respeitando a memória da vítima, e sim de apresentar uma crítica à forma que a imprensa cobriu o crime e o machismo presente em todo processo.

Uma das justificativas de Guilherme de Pádua, como tentativa de defesa, era de que Daniella o assediava constantemente nos bastidores da novela De Corpo e Alma visto que seus personagens tinham um envolvimento romântico. Ele se colocou no papel de vítima, tentando culpabilizar Dani por tudo que aconteceu. Para colaborar com essa narrativa, muitos veículos de comunicação publicaram matérias exibindo fotos de Daniella e Guilherme juntos na novela interpretando seus respectivos personagens, Yasmin e Bira. A realidade estava se misturando com ficção. Inclusive, no documentário, Glória Perez relata que ver essas matérias machistas, revistas exibindo fotos de Daniella e Guilherme juntos como se fossem um casal na vida real, culpabilizando a vítima, machucava mais do que ver as fotos da perícia.

documentário também apresenta críticas sobre o trabalho da polícia, que foi falho em diversos aspectos. Inclusive, o delegado responsável pelo caso, Mauro Magalhães, chegou a interrogar Paula Thomaz secretamente e optou por não investigá-la mesmo com a confissão dela. Pacto Brutal é um retrato da luta constante de Glória Perez, seus familiares e amigos na tentativa de fazer justiça e de trazer respeito à memória de Daniella Perez. Glória não pode viver o luto, pois em todo momento precisou de manter forte para preservar a história de sua filha, para que a verdade viesse à tona e que a justiça fosse cumprida.

Diferente de alguns  programas de true crime que contam com o depoimento do assassino, como foi o caso de Conversando Com Um Serial Killer: Ted Bundy (a série documental contou com entrevistas que Bundy concedeu antes de morrer, em que ele conta sobre os crimes que cometeu) ou Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime, Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez não conta com os depoimentos de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz. Certamente que essa foi uma decisão acertada por parte dos diretores, de não dar a visibilidade para os assassinos. Em uma entrevista para a revista Veja, Tatiana Issa explicou mais a respeito desta decisão: “Durante trinta anos eles falaram o que quiseram para inúmeros veículos, dando versões falsas e essas inverdades foram sendo perpetuadas. Se déssemos espaço para eles, estaríamos fazendo o mesmo que tanto criticamos. Houve um grande circo midiático em torno deste caso”.

Quase 30 anos se passaram desde o crime e até hoje ele não deixa de causar revolta e indignação. É doloroso demais o fato de que Daniella Perez foi assassinada de forma tão brutal, e que ela continuou a ser assassinada diariamente  pela forma machista que a mídia da época tratou o caso.

É doloroso pensar que ela estava no auge de sua carreira e tinha um potencial enorme pela frente, a possibilidade de um futuro brilhante, que lhe foi arrancado de maneira tão cruel. E mais doloroso ainda imaginar a angústia dos familiares e amigos diante dessa situação. Que a verdade, a oportunidade de contar a história de Daniella Perez sem nenhum tipo de sensacionalismo, possa trazer algum tipo de reconforto e paz para os corações dos familiares e amigos de Dani.

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