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“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald” chega aos cinemas trazendo novos e velhos personagens em uma trama mais sombria.


J.K. Rowling é um gênio. O mundo mágico criado pela escritora inglesa encanta milhões de pessoas ao redor do mundo inteiro, tendo marcado toda uma geração que, por anos, foi aos cinemas para assistir às adaptações de Harry Potter. Com a série de livros sendo um sucesso recorde de vendas, os filmes altamente rentáveis, uma linha de produtos licenciados imensa e o parque temático em Orlando, a marca envolta no mundo bruxo se consolidou como uma das principais franquias da cultura pop.

Mas do sucesso do menino bruxo todo mundo já sabe. E com a série chegando a novos públicicos, o antigo vê nisso a oportunidade de continuar pedindo que a história, de alguma forma, fosse espandida nos cinemas. A autora, então, atendeu ao chamado e criou o Mundo Bruxo cinematográfico, em um estilo próximo do Universo Cinematográfico da Marvel. Com isso, nascia a nova franquia. Em cinco filmes, Animais Fantásticos vem com o propósito de contar histórias prévias aos acontecimentos vistos nos longas de Harry Potter, explorando, assim, das inúmeras possibilidades do passado do Mundo Bruxo e de sua real extensão em outros países. Lançado em 2016, o primeiro filme da nova leva de películas, Animais Fantásticos e Onde Habitam, vai para a década de 20 acompanhar os primeiros momentos da ameaça Geraldo Grindelwald, um bruxo das trevas cuja única ambição é a dominação dos bruxos sobre os trouxas.

Agora, Os Crimes de Grindelwald, novo filme da franquia, estreou carregado de polêmicas que surgiram durante toda a sua produção. Primeiramente com a revelação do título, indicando certo protagonismo do vilão e a persistência por parte da Warner e da própria J.K. (que assina o roteiro dos dois filmes) em permanecer com a presença de Johnny Depp no personagem – o ator é acusado de agressão e abuso por sua ex-mulher, a atriz Amber Heard. Depois, com a declaração de que a sexualidade de Dumbledore não seria abordado em toda sua extensão logo nesse filme – J.K. revelou há alguns anos que sempre enxergou Alvo como homossexual, contando que no passado (no caso, presente para o longa) ele era apaixonado pelo seu melhor amigo. Os fãs se indignaram, ficando temerosos de que este arco fosse cortardo apenas por ser um arco gay.

 

Os Crimes

Com a estreia do filme, vemos a trama não perder tempo e logo de cara mostrar Grindelwald fugindo das mãos do Ministério da Magia (mais uma vez) e recrutando seus seguidores. Enquanto isso, Newt (Eddie Redmayne), que está em Londres, recebe uma tarefa de Dumbledore (Jude Law) a ir à Paris encontrar Credence (Ezra Miller) – personagem este que Grindelwald também tem muito interesse. Assim, os personagens apresentados no filme antecessor retornam, ao mesmo tempo que caras novas são introduzidas. O longa vem para dar sequência à Animais Fantásticos e Onde Habitam, um filme legal, mas com muita cara de começo de história. O problema é que, ao final, Os Crimes de Grindelwald tem uma série de defeitos que gritam alto mais que suas qualidades.

O título é um dos primeiros, não fazendo muito sentido. Ok. O nome da franquia é Animais Fantásticos, mas é bom que entendamos que eles não moverão a história mais. Ainda assim, é fácil concordar que J.K. consegue encaixá-los bem na história, seja com os velhos e queridos (Pelúcio, você é demais!) ou com os novos, ajudando ou atrapalhando a trama de alguma forma. Por outro lado, o subtítulo pode ser descartado, uma vez que o vilão não comete crime nenhum nesse filme – a não ser o de fugir! Parece que a película é vendida para dar a entender que a ascensão de um grande bruxo das trevas seria totalmente mostrada aqui, o que não acontece. São só os primeiros passos. E é nisso que o filme erra, persistindo em mostrá-los sem desenvolver a história propriamente.

Dito isso, o maior defeito do longa está em seu roteiro. Confuso, cheio demais, complexo em algumas explicações… causando a constante sensação de “não entendi”. Não só pela cena final, que é um grande plot twist, mas de diversas cenas ao longo do filme. Como tal personagem parou em tal lugar? Por que ele fez aquilo? Por que ela queria isso? Como fizeram tal coisa? São muitas perguntas, até mesmo para um fã que entende muito desse mundo. E a grande massa, que não se lembra ou não se importa com sobrenomes (coisa na qual esse filme se apoia muito), ligações com Harry Potter, locações conhecidas, feitiços específicos, termos que só quem é muito fã vai entender, como fica? O filme não é feito para o chamado “público-médio”, por se basear demais em coisas que só os fãs sabem.

O roteiro é inconsistente em como trata seus personagens, que ou são muito bem tratados pela história ou são completamente irrelevantes. Newt, Dumbledore e Grindelwald fazem parte do primerio círculo, trazendo as melhores atuações do elenco. Eddie Redmayne está ainda mais perfeito no personagem, e seu protagonismo leva a trama pra frente, apesar de se facilitar em certas “facilidades” e “convenções” que denotam um roteiro preguiçoso. Jude Law está bem como Dumbledore, sendo carismático, charmoso e com relances da inteligência do professor, apesar de não ser tão bem explorado durante a projeção. Fica o gosto de “quero ver mais” e a ansiedade para presenciar o personagem se transformar na figura imponente que Michael Gambon interpretou na franquia Harry Potter. Já Johnny Depp surpreende por, simplesmente, deixar de ser Jack Sparrow em algum filme. Ainda assim, tem pouco tempo de tela pra se tornar o maior destaque do filme. Seu vilão é interessante, amedrontador, e tem um discurso convincente até. Sua cena final é muito boa e deixa gostinho de quero mais.

Queenie (Alison Sudol), Jacob (Dan Fogler) e Tina (Katherine Waterston) são meros coadjuvantes numa história que não lhes cabe mais. São todos postos em Londres por motivos bobos, com um tempo de tela consideravelmente reduzido em relação ao filme anterior. Queenie e Jacob têm um arco interessante até, mas Tina, agora auror, é irrelevante para a trama. Uma pena, já que tinha tido tanto carisma no primeiro filme.

Jude Law dá vida a um Alvo Dumbledore mais jovem, mesmo não tendo muito tempo em tela

Credence volta sem grandes explicações. J.K. não se preocupa em dizer como ele sobreviveu, como foi parar em Londres, nem nada. Ele simplesmente está vivo e lidemos com isso. O filme é quase todo sobre sua jornada. Credence é o Sol da trama, com todos os outros personagens girando ao seu redor. Porém, seu objetivo de “descobrir sua verdadeira identidade” soa tão boba para uma história tão grande e complexa. O fato de todos os personagens saberem disso e se empenharem nessa busca só piora. Nagini (Claudia Kim), sua companheira, não serve para nada: é puro fan-service e uma promessa para o futuro.

Os outros novos personagens servem para a história em momentos muito específicos, mas carecem de maior desenvolvimento. Leta Lestrange (Zoë Kravitz) é a melhor deles, protagonizando um flashback interessantíssimo em Hogwarts (um fan-service, é claro, mas pelo menos um bom!), e se destaca na trama conforme a história se aproxima do final. Teseus Scamander (Callum Turner), irmão de Newt, tem pouquíssima importância pra narrativa e Yusuf Kama (William Nadylam) é o maior desperdício do roteiro, sendo um personagem vazio, sem porquê nem pra quê, com tempo de tela exagerado. Serve para uma reviravolta do final e só.

Carregando o nome de seu personagem no título do filme, Johnny Depp dá as caras como Geraldo Grindelwald, responsável pela Primeira Guerra Bruxa

Visualmente, o filme é esplendoroso. Efeitos especiais perfeitos, animais fantásticos com peso e textura, 3D que funciona, feitiços… tudo on point. Esse filme também serve para resgatar uma coisa de Harry Potter que o primeiro Animais Fantásticos não tinha: a magia sendo usada para coisas comuns do dia a dia. Ou seja, a câmera está acompanhando um personagem, mas no canto da tela tem magia acontecendo: um pano limpando uma janela sozinha, uma criança levitando, um bule de café levitando. Pequenas coisas que fazem o mundo bruxo parecer muito mais real e palpável. Com direção de David Yates (responsável pelos últimos seis filmes), o filme não tem problemas técnicos. Algo que gerou confusão em muita gente são os closes de câmera dado nos rostos dos personagens, logo no início do filme, se perdendo com o tempo. Fica estranho porque parece um teste solto que não foi corrigido. De resto, no entanto, a direção está boa.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, portanto, gera mais dúvidas do que as responde. Seu final polêmico chateia mais por parecer que o filme todo se passa apenas para essa cena em específico do que por movimentar a história em si. J.K. Rowling mexer com sua história cânone é um perigo e ela faz isso mais de uma vez nessa história. Contudo, resta aguardar. A revelação final só terá sido ruim se sua explicação também for. Rowling é extremamente criativa, e apesar de não enxergamos soluções críveis para o que ela criou aqui, ainda há esperanças.

Os personagens principais da trama, da esquerda pra direita: Alvo Dumbledore, Clerence Barebone, Nagini, Leta Lestrange, Tesseu Scamander, Tina, Newt Scamander, Jacob, Queenie e Geraldo Grindelwald

Agora, na franquia Animais Fantásticos, muita coisa tem que ser revista. Com grandes indícios de um terceiro filme se passando no Brasil, a história precisa tomar corpo e parar de andar a passos lentos. Um filme não pode mais depender do próximo para “fazer sentido como um todo”. Cada filme deve ter a sua história fechada e, ainda assim, contar uma grande história quando unidos, como era com Harry Potter. Ou J.K. deve ser substituída no roteiro, ou dividi-lo com alguém que entenda mais de cinema e não seja a pessoa que tem todas as respostas na própria cabeça – e não as revela ao público. A expectativa ainda é grande, porém. Tomara que a franquia se encontre e faça jus ao universo de que provem.


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