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Na marca de 40 anos do lançamento, "Os Caçadores da Arca Perdida" segue como um dos mais cativantes longas de aventura do cinema.

Na marca de 40 anos do lançamento, “Os Caçadores da Arca Perdida” segue como um dos mais cativantes longas de aventura do cinema.


NNo final dos anos 70, a indústria do cinema e a cultura pop tiveram um grande impacto com a chegada dos filmes de George Lucas e Steven SpielbergO estrondoso sucesso de Tubarão (1975) e de Guerra nas Estrelas (1977), feito por dois jovens cineastas na casa dos seus vinte e poucos anos, mudou a história do cinema para sempre.

Ambos os longas marcaram o começo da época das grandes bilheterias do cinema conjugado com seus produtos licenciados. Houve o preconceito dos críticos de sempre na dificuldade de aceitar o novo ou de reconhecer o talento, a criatividade e a genialidade por trás de obras de alcance popular que são grandes sucessos de bilheteria.

Se hoje é normal que filmes como as sequências de Harry Potter e toda a franquia de Marvel e DC Comics tenham status de arte – embora seja verdade que a polêmica ainda persiste – pela parte mais liberal da crítica e do meio cinematográfico, ao mesmo tempo em que geram atrações em parte temáticos, games, bonecos, brinquedos licenciados e invólucros para sanduíches de grande cadeias, no final dos anos 70 toda esta dinâmica era inimaginável.

O aventureiro Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford

Lucas e Spielberg foram por muitos anos tratados como cineastas menores; garotos fazendo cinema comercial para um público alienado. Lucas parecia se importar menos com isto ao seguir desenvolvendo seus projetos nos bastidores, enquanto Spielberg foi persistente em projetos de filmes entre os tidos como sérios (A Cor Púrpura; 1985) e os de entretenimento, persistência esta que o fez alternar filmes como Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993) com Império do Sol (1987), sendo recompensado pelo Oscar por A Lista de Schindler (1993).

Na verdade ambos sempre foram cineastas muito talentosos. Spielberg vinha de um ótimo filme quase experimental e independente, como o ótimo Encurralado (1971, enquanto Lucas do regular American Graffity (1973). Star Wars foi um sucesso estrondoso gerando a poderosa franquia que se renova até hoje, num perfeito primeiro filme, o Episódio IV. Lucas inovou situando uma saga espacial no passado (“Há muito tempo atrás, numa galáxia mui distante…”) numa reedição de Flash Gordon com traços de western e cinema japonês. Tubarão é um livro mediano que se tornou um grande filme pelas mãos de Spielberg e pela música de John Williams – ninguém nunca mais entrou no mar da mesma maneira.

Neste contexto, a notícia que George Lucas e Steven Spielberg estavam juntos num mesmo projeto foi impactante no começo dos anos 80. E a repercussão foi realmente grande quando, em 1981, foi lançado Os Caçadores da Arca Perdida, unindo a ideia original de Lucas com a direção de Spielberg. O filme fez jus à expectativa: apresentou Indiana Jones como um herói de ação alternativo à James Bond, misturou ao gosto de Lucas misticismo e aventura, e renovou o conceito de filmes de ação pelo ritmo intenso e interrupto no qual Jones se livra das dificuldades para seguir lutando.

O herói não para e o ritmo é eletrizante. Há o charme extra do fato de o protagonista ser ao mesmo tempo um arqueólogo acadêmico que usa óculos e um “Cowboy” com chapéu, chicote e roupas surradas que pessoalmente vai em busca de relíquias históricas. Lucas idealizou o filme após concluir American Graffitti, por sentir falta de filmes de heróis como Zorro ou O Espião Mascarado, no desejo de fazer uma película pulp do qual gostasse.

Depois de criar o primeiro esboço da história, o então roteirista o deixou de lado por um tempo para criar sua “Space Opera”. Quando o projeto foi retomado, Spielberg participou da criação da historia com Philip Kaufman e, por fim, Lawrence Kasdan, que acabou por escrever o roteiro final de Os Caçadores da Arca Perdida unindo as pontas das idéias num todo coerente.

Foi, então, incialmente pensado em Jones com uma pegada mais James Bond, um “playboy”cercado de mulheres bonitas, jogador e até mesmo alcoólatra, mas Lucas refutou defendendo um protagonista correto, de bons valores, adequado a um filme que tinha também uma pegada espiritualista, ainda que o lado supostamente “cafajeste” se mantivesse como no soco que o protagonista leva da ex-affair Marion na primeira cena dos dois no Nepal.

Karen Allen como Marion Ravenwood

Lucas também relutou com a escalação de Harrison Ford, apreensivo com o efeito “Scorcese-De Niro” ao não querer criar uma identidade de filmografia vinculada a um ator específico – alem de que Ford teria que cumprir um contrato de três filmes de Indiana Jones, sendo que o ator defendia a morte de Han Solo e a interrupção de sua participação na primeira trilogia de Star Wars. Três semanas antes do começo das filmagens, o protagonista ainda não estava decidido e Ford foi enfim confirmado.

Indiana Jones criou um estilo de filme de ação com pegada “vintage” (situado em 1936) ao mesmo tempo que cosmopolita e internacional (o o avião se deslocando pelo mapa mundi é característico de todos os filmes), unindo elegância (o mundo literário e cultural das universidades de elite americanas) com intrigas internacionais.

Como cinéfilos que são, os envolvidos na produção uniram muitas citações e referências, como Cidadão Kane (a cena final da Arca escondida no meio de um galpão de caixas idênticas), Os Sete Samurais (1954) e Os Sete Magníficos (1960), além de séries antigas estadunidenses e uma pitada de ironia no fato do nazista Hitler querer o poder da arca de aliança que conteria os 10 Mandamentos judaicos (Spielberg e Kaufman são judeus).

Os Caçadores da Arca Perdida gerou três sequências, sendo que a quarta está confirmada. A melhor delas foi Indiana Jones e a Ultima Cruzada (1989), com a sempre carismática presença de Sean Connery (a cena em que Jones mata nazistas e diz ao pai “Não me chame de Júnior” é hilária) e com a bem construída busca do Santo Graal. O longa agrada tanto aos amantes de filmes de aventura como os que levam a busca espiritual a sério, como na sequência final onde o herói encara as provas finais da iniciação no sagrado como as do penitente e da fé de dar o passo no vazio rumo ao desconhecido.

Indiana Jones mexe com a imaginação ao unir o academicismo cientista com anotações em cadernetas onde falta uma página, com pistas, mapas e talismãs, com segredos revelados quando se unem partes de objetos ou quando se sabe ler inscrições herméticas. O último filme lançado da série acerta em trazer de volta a namorada do primeiro capítulo, introduz Shia Labeouf como seu filho e Cate Blanchett dá conta do recado com a competência de sempre como a vilã.

Enquanto aguardamos o próximo e prometido para ser o último filme da série, rever Os Caçadores da Arca Perdida neste ano em que se completa 40 anos de seu lançamento é um ótimo programa. Como disse Spielberg, este é um dos seus únicos filmes que ele considera perfeito e em que ele não mudaria nada. Não é pouca coisa.

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