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Em "Os 7 de Chicago", Aaron Sorkin mostra que ainda não domina a direção de um longa e reafirma seu esmero como roteirista em um filme potente.

Em “Os 7 de Chicago”, Aaron Sorkin mostra que ainda não domina a direção de um longa e reafirma seu esmero como roteirista em um filme potente.


OOs eventos  da Convenção do Partido Democrata de 1968, em Chicago, e o consequente julgamento, em 1969, habitam o imaginário de Aaron Sorkin há muito tempo. Ainda em 2006, ele se reuniu com Steven Spielberg para tocar um filme sobre tudo que envolveu aquele período de tempo. O roteiro do filme Os 7 de Chicago foi redigido por Sorkin ainda em 2007 para que Spielberg dirigisse o longa-metragem.

O tempo passou, o roteiro ficou em segundo plano e apenas em 2018 o projeto foi retomado. De lá pra cá, Sorkin construiu uma sólida carreira como roteirista adaptando obras para às grandes telas, inclusive ganhando um Oscar, em 2011, por A Rede Social. Porém, enquanto diretor, o realizador ainda peca na condução das obras que assume e Os 7 de Chicago, seu mais recente trabalho lançado pela Netflix, reafirma a premissa.

 

O mundo inteiro está assistindo

Os 7 de Chicago mostra, em seu início, o agitado contexto social dos Estados Unidos nos anos 1960, com as críticas em relação à Guerra do Vietnã (1955-1975) e os assassinatos do então presidente John F. Kennedy (1963) e do ativista Martin Luther King Jr. (1968), que, juntos, contribuíram para que aquele período fosse tumultuado. Existia uma forte oposição à Guerra e o Partido Democrata realizaria sua Convenção, em 1968, para nomear o candidato que concorreria à Presidência. Aconteceram protestos e a polícia usou de força para conter manifestantes.

É assim que somos apresentados aos réus: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Lee Weiner (Noah Robbins), John Froines (Daniel Flaherty) e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II).

Da esquerda pra direita: Bobby Seale, Leonard Weinglass, William Kuntsler, Tom Hayden, Rennie Davis (Foto: Nico Tavernise)

 

Eles são acusados de incitarem a violência e causar desordem nos protestos acontecidos durante a Convenção, em 1968. É retratado como os promotores manipulam o caso para que esse seja um julgamento federal, o que aumenta o apelo midiático e como o então governo do presidente Richard Nixon quer fazer do caso um exemplo e ter uma grande vitória no tribunal. Sorkin usa de flashbacks com maestria para apresentar os pontos da história, enquanto o julgamento ocorre.

Trabalhar o desenvolvimento de tantos personagens é tarefa complicada. Ainda que algum fique perdido entre as cenas, a condução de Os 7 de Chicago é bem realizada, de modo que, na maior parte do tempo, não há desleixo com nenhum personagem. Tudo que precisa ser dito, é dito e os personagens carregam consigo um determinado propósito. É também papel dos réus, principalmente Abbie Hoffman e Jerry Rubin, o alívio cômico para determinadas situações.

Sorkin usa dos diálogos marcantes – marca registrada de seus trabalhos – para evidenciar a importância de cada personagem. Os conflitos entre Abbie Hoffman, líder dos Yippies, um partido político independente e antiguerra, e Tom Hayden, presidente de uma organização estudantil de ativistas, mostram como mesmo as pessoas com um mesmo ideal podem encontrar problemas para se entender.

Yahya Abdul-Mateen II como Bobby Seale

Vale ressaltar como Sacha Baron Cohen entrega uma atuação muito competente durante todo o filme, culminando numa cena final interessantíssima. Bobby Seale, um dos líderes dos Panteras Negras, é a todo momento alvo de racismo e preconceito – foi usado como bode expiatório para ligar a violência aos Panteras, ainda que nada tenha feito e que nem advogado tinha para o julgamento.

A escolha do tribunal como o principal pano de fundo para desenvolver o filme cria uma responsabilidade para as atuações de Frank Langella como o juiz Julius Hoffman, Mark Rylance como William Kunstler, o advogado dos réus e Joseph Gordon-Levitt como Richard Schultz, o advogado de acusação. Os três entregam atuações muito boas, com ações e diálogos coerentes com o contexto de Os 7 de Chicago – ainda que não sejam 100% o retrato da realidade.

O julgamento segue como fio-condutor da narrativa, ainda que momentos importantes sejam retratados fora do tribunal. O longa é um drama bem escrito e que conta com a sustentação dos atores para entreter e trazer as reflexões que o diretor propõe ao longo da trama.

Vivendo num contexto também de muita agitação social e igualmente em época de eleição, as semelhanças com o que se passa no Tribunal em 1969 e com o que vemos na atualidade, não são meras coincidências. O próprio Aaron Sorkin admite isso, em entrevista, quando fala que Os 7 de Chicago não é apenas sobre aqueles eventos de 1968, mas sim sobre os elementos que os levaram até ali.

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