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"O Professor Substituto" é um filme perturbador que faz um retrato tenso e angustiante de uma geração que teme o que o futuro guarda.

“O Professor Substituto” é um filme perturbador que faz um retrato tenso e angustiante de uma geração que teme o que o futuro guarda.


Estudantes concentrados realizam uma prova. A turma é pequena e eles parecem calmos. O professor que aplica o teste anda pela sala, observando os demais. De repente, ele pega uma cadeira, sobe nela e se joga da sacada. A primeira cena de O Professor Substituto, longa francês dirigido por Sébastien Marnier, deixa claro que o filme não irá poupar o espectador.

https://www.youtube.com/watch?v=ZYGk1wnlqVk

A história é protagonizada por Pierre (Laurent Lafitte), professor incumbido de substituir o colega que tentou suicídio. Logo no primeiro dia de aula, ele percebe que a tarefa não será nada fácil: há um grupo de alunos que se acha especial demais e que, inclusive, se sente no direito de ditar ao professor o que deve ou não ser ensinado. O principal embate de Pierre é com Apolline (Luàna Bajrami), a desafiadora representante da turma.

Depois de observar os estudantes com mais atenção, o professor percebe que eles não são apenas arrogantes, mas, principalmente, despedaçados. Quando um alarme soa no colégio, Pierre perguntas aos alunos: “isso é treinamento de incêndio?”. Eles respondem logo: “não, professor, é um treino contra ataques terroristas”.

A naturalidade com que os alunos agem naquela situação exemplifica o contexto desesperançoso em que eles se encontram, sempre a espera de um acontecimento tenebroso. O professor fica cada vez mais intrigado com a postura daqueles meninos e, então, decide se aproximar deles – especialmente de um grupo composto por seis desses jovens.

 

Pierre descobre que os garotos são ainda mais estranhos do que ele poderia imaginar. E a situação se torna ainda mais grave a cada cena de O Professor Substituto, sensação que é reforçada pelo belo trabalho de fotografia que escurece no decorrer do longa, indicando um clima crescente de tensão e mistério.

É interessante observar as alusões a Franz Kafka. Além do protagonista realizar a sua dissertação de mestrado sobre o escritor, acompanhamos uma recorrente invasão de baratas em sua casa – em uma clara referência a obra Metamorfose. Destaque também para a excelente atuação de Laurent Lafitte, que entrega com maestria um personagem denso. As crianças, em especial a garota Luàna Bajrami, também realizam um bom trabalho.

O longa tem um excelente ritmo e consegue prender a atenção, especialmente a partir do segundo ato. No entanto, quem espera respostas prontas pode ficar decepcionado: há diversas questões em aberto. Por que o professor da primeira cena se jogou da sacada, afinal de contas? Existem muitas possibilidades. Nenhuma resposta é simples.

Léopold Buchsbaum (David), Matteo Perez (Sylvain), Victor Bonnel (Dimitri), Luàna Bajrami (Apolline), Adèle Castillon (Clara), Thomas Guy (Brice) / Credito: Laurent Champoussin/Haut et Court

Desastres ambientais, atentados terroristas, maus-tratos aos animais, políticos de extrema-direita em ascensão. Para aquele grupo de seis alunos, caminhamos em direção a uma distopia. Perturbador do início ao fim, O Professor Substituto é um retrato de uma geração que vive com medo do futuro – ou da falta dele. Há esperança, porém, nos laços construídos. E nas mãos dadas.

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